Diversão e Arte

Ana Flávia Magalhães Pinto lança livro 'Escritos de liberdade' nesta quarta

'Escritos de liberdade: literatos negros, racismo e cidadania no Brasil oitocentista' tem 376 páginas e o preço sugerido é de R$ 35

Nahima Maciel
postado em 08/05/2019 06:45
'Escritos de liberdade: literatos negros, racismo e cidadania no Brasil oitocentista' tem 376 páginas e o preço sugerido é de R$ 35

Em 1872, para cada 10 pessoas negras e pardas, seis eram livres ou libertas. E muitas eram da terceira ou quarta geração nascida livre na segunda metade do século 19. ;O problema é que o Brasil se acostumou a resumir a experiência negra à escravidão, que é apresentada como justificativa para a vulnerabilidade social. E a gente passou o século 20 quase todo alimentando o mito da democracia racial;, explica Ana Flávia Magalhães Pinto, que lança hoje o livro Escritos de liberdade: literatos negros, racismo e cidadania no Brasil oitocentista. Pesquisadora do departamento de história da Universidade de Brasília (UnB), Ana Flávia passou os últimos anos debruçada sobre jornais, livros e publicações antigas para tentar esmiuçar a participação dos negros libertos em um momento da história do Brasil cujo foco é a escravidão.

Escritos da liberdade gira em torno de sete personagens. Entre eles estão nomes como Machado de Assis, Luiz Gama e José do Patrocínio, negros livres que tiveram importante atuação em várias esferas da vida brasileira no século 19, da cultura à política. Inicialmente, Ana Flávia queria se concentrar nos perfis dos personagens. No entanto, durante a pesquisa, ela decidiu expandir o olhar para tentar compreender como essas figuras influenciavam os rumos da sociedade brasileira da época.

Ao acompanhar a trajetória dos personagens, a pesquisadora percebeu que há um espaço de articulação de negros livres no século 19 praticamente inexplorado no universo da pesquisa e da literatura. A pesquisa acabou por ganhar menção honrosa no Prêmio Capes de Tese de 2015 e foi considerada a melhor tese defendida na Universidade de Campinas em 2015. ;O que essas experiências de liberdade apontam é que tem uma história do Brasil que pode ser vista com certa facilidade na documentação sobre gente negra livre;, explica Ana Flávia.

Resistência

;Havia homens negros nascidos livres que atuavam na imprensa e na política. Essas pessoas se conheciam e trabalharam juntas no combate à escravidão, pensando não em uma forma de beneficiar os escravizados, mas em algo indispensável para o exercício real da cidadania de gente negra liberta.;

Uma rede de abolicionistas negros atuou durante a abolição, mas também depois, de maneira direta e indireta. ;Esses sujeitos todos nos permitem perceber como havia redes de homens negros livres e intelectualizados disputando o sentido da política, da vida social. Isso vai na contramão de muitas narrativas históricas que apontam falta de organização da comunidade negra e desinteresse pela vida política;, diz.

O livro se empenha em reorganizar uma série de capítulos da história do Brasil no século 19 e dar visibilidade a uma perspectiva diferente. ;Durante muito tempo, a gente lidou com a abolição como algo da elite branca e para a elite branca, e os negros não participariam dessa história. As pessoas negras não estavam escondidas, estavam na vida cultural de cidades como Rio e São Paulo;, avisa a autora de Escritos da liberdade.


Escritos de Liberdade: literatos negros, racismo e cidadania no Brasil oitocentista
De Ana Flávia Magalhães Pinto. Lançamento hoje, às 19h30, no Simbaz ; Culinária Afro e Bar (412 Sul, Bloco D, Loja 15). Editora Unicamp, 376 páginas. R$ 35. Palestra com a autora em 13 de maio, às 18h, na Livraria do Chico (ICC Norte, Universidade de Brasília).

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