Diversão e Arte

Morre cenógrafo de teatro José de Anchieta, aos 71 anos

Agência Estado
postado em 23/05/2019 19:40
Morreu aos 71 anos, o cenógrafo e figurinista José de Anchieta Costa, na tarde desta quinta, 23, em decorrência de complicações de diabetes. Ele estava internado no Hospital Sancta Magigiore, em Pinheiros. O velório ocorre a partir das 22h, desta quinta, até às 15h de sexta, 24. Nascido em Caruaru, no tempo em que lambuzavam os recém nascidos em tachos de leite, o cenógrafo e figurinista de 71 anos foi batizado com o mesmo nome do patrono do teatro. A inspiração do nome, entretanto, não veio do padre jesuíta conhecido por realizar as primeiras peças de teatro no Brasil do descobrimento. De formação religiosa, Anchieta chegou a fazer seminário na adolescência pela determinação do avô holandês, mas decidiu seu futuro nos palcos. Se o trabalho religioso durou pouco, tão longa é parceria de Anchieta com Rosset. Ele foi responsável pelo cenário de O Doente Imaginário, de 1989, apresentado no The Public, de Nova York. Em uma cena, Rosset deixava um olho falso cair e ficava procurando o objeto no meio da plateia. "Ele abria algumas bolsas e de lá saía tudo. Desde revólveres, lingeries e brinquedos sexuais.", disse o artista em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, em 2018. O sucesso da peça de Molière rendeu um convite do produtor Joseph Papp, o então diretor do The Public. A estreia de Sonho de Uma Noite de Verão no Central Park já gerava escândalos antes da temporada começar. Tudo porque o figurino das fadas se resumia a roupas de banho, biquínis, que escandalizou a plateia. Depois vieram, com Rosset, A Comédia de Erros e o mais recente Nem Escravas, Nem Princesas, de Humberto Robles. Em suas redes, o diretor Cacá Rosset lamentou: "Um cenógrafo genial! Desde 1989 criou todos os cenários do Teatro do Ornitorrinco. O teatro brasileiro perdeu um de seus maiores artistas. Você fará muita falta, querido amigo" Rosset acrescenta que a dupla ainda planejava um novo trabalho. "No momento estávamos trabalhando no novo espetáculo "Frida Kahlo - Viva la Vida" de Humberto Robles." Em suas criações, Anchieta colecionava vários cadernos com os registros de rascunhos e ideias para figurinos e cenários. Além de um precioso registro, os cadernos serviam como pontes entre suas ideias e o entendimento dos demais colegas artistas. Mesmo assim, o método de desenhar para comunicar não funcionou com o diretor Ademar Guerra (1933-1993), com quem Anchieta estreou Lulu, Frank Wedekind. Na época, Guerra não compreendeu a grandiosidade das pontes levadiças que tomariam o palco do teatro. Quando o cenário proposto chegou, não havia espaço para nada, o que fez com que o encenador mudasse todo o espetáculo nas vésperas da estreia. Crítico da crise de se produzir teatro no País, que na prática significa o improviso ou simplificação nos cenários e figurinos, Anchieta acreditava que uma montagem teatral não é vista de forma tão fragmentada como se costuma imaginar da plateia. Se você sai de uma peça elogiando o desempenho daquela atriz, ou os lindos figurinos, ou o cenário grandioso, o espetáculo não vai durar nada e logo sairá de cartaz", continuo, na mesma entrevista, em novembro. "Mas tudo muda quando o público sai e consegue dizer: 'Que espetáculo!'" Anchieta deixa a mulher, Chake Ekizian, três filhos e quatro netos.

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