postado em 25/05/2019 04:10
Os povos da ex-Iugoslávia são considerados os brasileiros da Europa pela espontaneidade, pela afetividade e pelo amor ao futebol. O jornalista e escritor brasiliense Adson Boaventura sempre quis conhecer os países bálticos, desde os tempos em que participava da cobertura da editoria internacional. No fim de 2015, ele realizou o sonho e viajou até os países bálticos. Mas, na verdade, ele tinha em mira um outro projeto: escrever um romance ambientado na região. E a ficção se tornou realidade, ele acaba de publicar Minha dor do mundo: guerra nos Balcãs.
A trama é diretamente inspirada na viagem de Adson. É narrada pelo personagem de um jornalista que conhece os países bálticos. Os acontecimentos de 2015 serviram de pano de fundo. É um território que, historicamente, viveu várias situações conflituosas, desde os tempos da Primeira Guerra Mundial. A história individual e a coletiva se entrelaçam inapelavelmente na voz do protagonista- narrador: ;Ele conta a história da região por meio de personagens nativos ou refugiados;, comenta Adson. ;As dores pessoais e as dores do mundo se misturam. Ao ouvir as histórias dos personagens ,percebe que a humanidade é uma só;.
Durante a viagem, o protagonista acaba conhecendo vários personagens e esses personagens montam toda a narrativa para ele. Não deixa de ser um trabalho de jornalista. Adson fez questão de realizar a viagem sozinho, ao longo de três meses, para poder se concentrar nos aspectos singulares dos países da região dos balcãs. ;E quando você viaja sozinho, dá asas à criatividade;, comenta Adson. ;Repara com mais cuidados os hábitos, o modo de falar local. Surgiram as ideias, e a imaginação se acendeu para compor a narrativa com os personagens. É um trabalho de ficção muito inspirado na realidade e no contexto histórico.;
Por que um brasiliense resolveu fazer uma ficção sobre os povos dos países bálticos? Adson reconhece que essa é uma opção que pode parecer estranha ou exótica. Ele era repórter da editoria de internacional e acompanhou os acontecimentos dramáticos dos conflitos na região durante a década de 1990. E, quanto mais mergulhava no conhecimento sobre aquele território, mais ficava fascinado e idealizava um romance. Antes ele escrevia contos e crônicas, influenciados por Rubem Braga, Nelson Rodrigues e Ernest Hemingway: ;Eu gosto muito do Hemingway;, observa Adson: ;Ele tinha muito o trabalho de vivenciar os outros povos. O meu trabalho tem muito de jornalista, de crônica e de ficção;.
Os povos dos balcãs são europeus singulares, frequentemente associados ao temperamento e psicologia dos brasileiros. O principal líder paramilitar sérvio, Arkan, era líder dos hooligans do Estrela Vermelha, da Sérvia, por exemplo. A relação entre futebol e guerra também é abordada no livro, assim como o cotidiano dos personagens da região.
Histórias de amor, dor, traumas e também, por que não, de alegrias e boemias. Histórias que acabam envolvendo o narrador e protagonista, que passa a fazer parte de todo esse caldeirão balcânico. ;Existe uma afinidade e uma proximidade muito grandes conosco;, observa Adson. ;Eles gostam de futebol, são muito hospitaleiros e têm, inclusive, um estádio na Sérvia que se chama Maracanã. Emocionalmente, mesmo com todos os conflitos e com as marcas da guerra, são simpáticos, afetuosos e hospitaleiros. Da mesma maneira que os brasileiros, eles são formados por diversas etnias: croatas, sérvios e muçulmanos. Há uma necessidade de seguir em frente para superar os traumas das sucessivas guerras nas quais eles se envolveram;.
Do ponto de vista turístico e histórico, foi uma viagem inspiradora para Adson. Sarajevo tem um turismo que gira em torno da guerra: ;Para quem gosta de história, é um momento revelador. Existe um túnel subterrâneo que passa embaixo do aeroporto. Era para transportar alimento ou pessoas feridas. Então, recolhi muitas histórias de dor e de superação para o livro;. (SF)
Minha dor do mundo: guerra nos Balcãs
De Adson Boaventura/Ed. do autor. O livro pode ser adquirido na Amazon ou em livrarias físicas.