postado em 30/05/2019 04:21
Num comparativo de opiniões extremadas, o novo longa-metragem Rocketman que cerca a biografia do astro pop Elton John, pode agradar muito, ou nem tanto. Na crítica da revista Rolling Stone, assinada por Peter Travers, o filme, que chega aos cinemas hoje, tem seu sucesso atribuído à ;inventividade da imersão do ator protagonista (Taron Egerton);, em oposição ;ao choque proposto pelo conteúdo do filme;. Às vésperas da anunciada aposentadoria dos palcos, em 2021, com a reta final da turnê Farewell yellow brick road, encabeçada por Elton, que, entre 1995 e 2017 esteve no Brasil por cinco vezes, Rocketman soa como despedida relativa da imagem do cantor e compositor nascido no condado de Middlesex, cidade de Pinner (Reino Unido), em 1947. A tela, porém, é enchida pela imagem de um artista radiante, dos primeiros passos à experiência de ser catapultado para a fama.
Mesmo com a derradeira turnê prevista para passar pela América do Sul, em março 2020, o astro de 72 anos, externou a pretensão de se manter ;criativo até a morte; atribuindo o futuro recolhimento aos maiores cuidados com os filhos Zachary e Elijah, assumidos com o marido, o diretor canadense David Furnish. ;Minha vida sempre foi meio irreal;, teria dito ele ao companheiro (e um dos produtores do arrojado longa), na centelha do projeto, há mais de uma década, em meio às inúmeras apresentações do show Red Piano.
Com a divulgação da primeira imagem da cinebiografia em setembro do ano passado, Rocketman é uma realidade que chega aos cinemas pelas mãos do diretor Dexter Fletcher, a ser lembrado, pelo resto da vida, como o cineasta que completou o filme ;sobre Freddie Mercury;, para Bryan Singer, destituído do comando de Bohemian rhapsody, produção prestigiada na temporada de prêmios e detentora de bilheteria superior a US$ 900 milhões.
No material de divulgação de Rocketman, Fletcher ressalta o comprometimento atual com uma ;viagem desenfreada de imaginação, celebração e drama;. Com recente exibição no Festival de Cannes, o filme teria enchido de orgulho o biografado, pela ;honestidade; dos ;altos e baixos;, como dito pelo próprio Elton John ; algo suspeito, no caso, por assinar a produção executiva do longa. Elton, vale dizer, inseriu no filme, ao lado do protagonista vivido por Taron Egerton, a inédita canção (I;m gonna) Love me again.
O filme ; que teve roteiro criado por Lee Hall (que assinou, para Steven Spielberg, o enredo de Cavalo de guerra, e ainda redesenhou a trama de Victoria e Abdul: O confidente da rainha) ; tem sido muito elogiado dada a falta de censura na jornada do pianista outrora tímido Reginald Dwight, que, sob a persona Elton John, viria alcançar o número de 300 milhões de álbuns vendidos.
Família e fama
A composição do ;sex symbol gay;, como enfatizado em texto da Variety, não agradou, no bojo, ao crítico da publicação, tocado pela representação dos embates ;com família e fama;, mas incomodado por excessos da mera perpetuação de lenda pop. Os ;momentos massivos; não passaram sem desmerecimento do filme, em muito apoiado nos assumidos vícios de Elton John, condicionado ao ;ultrajante guarda-roupas;, aos ;óculos extravagantes; e a festividade das onipresentes ;lantejoulas;.
Em Rocketman, Jamie Bell interpreta Bernie Taupin, parceiro musical tão fundamental quanto o compositor e maestro James Newton Howard. Aos 29 anos, o reconhecido ator de Kingsman Taron Egerton ; que, agora, no novo filme, repete a dobradinha artística com o mesmo diretor de Voando alto (2015) ; caminha para a consagração completa, tendo cantado, sem maiores artifícios de sonorização (ao contrário de Bohemian rhapsody), músicas como Rocket man, Your song, Don;t go breaking my heart e Crocodile rock, todas dispostas na trilha sonora.
Tendo despontado para a carreira em 1962, bem antes da frequente itinerância de escala mundial (particularmente acentuada, nos anos de 1970 e de 1980), Elton John, um astro de longa colaboração no cinema, pela participação em trilhas de filmes como O Rei Leão e Billy Elliot, tem a mãe Sheila Farebrother interpretada na tela por Bryce Dallas Howard (Manderlay).
Mesmo embalado ainda por fantasia e imaginação, o filme Rocketman, entretanto, traz abordagem bastante realista, ao investir na figura do empresário John Reid (personagem de Richard Madden, o Robb Stark de Game of Thrones), que foi ainda o primeiro amor de Elton, com qual compartilhou mais de 50 anos de amizade.
Crítica Rindo à toa ; Humor sem limites ****
Sem medo de ser feliz
O documentário assinado por Cláudio Manoel, Álvaro Campos e Alê Braga é, entre as estreias da semana nas salas de cinema do DF, um retrato saudosista de uma era em que rir servia como remédio: o caos no Brasil imperava, com muita gente tentando se desenquadrar numa realidade de distensão de liberdades, pós-ditadura. Na base do relaxamento, os cidadãos pareciam menos armados do que os de hoje, e a felicidade brotava por meio dos programas de tevê, nos teatros movidos a besteirol e, na frequência do rádio, por meio de letras de músicas nacionais orgásticas e divertidas. ;Música e humor sempre funcionaram no Brasil;, ressalta o humorista Marcelo Madureira, presente na gama de entrevistados pela produção.
O painel retratado no filme é amplo e nada restritivo: mesmo porque, à época, as linguagens de humor se infiltravam em diferentes meios, nunca com filtro, passando por publicações como Chiclete com Banana, espelhada na atuação do Casseta & Planeta e os esculachos de Miguel Falabella e companhia. Depois do recente longa Tá rindo de quê? ; Humor e ditadura, é hora dos diretores passarem para o lado B (de bom) da cerca das trincheiras do humor, em que valia tudo. Quase consenso, entre os depoentes, a defesa da transgressão ganha muito com discursos coesos como o do cartunista e roteirista Cláudio Paiva.
Redatores afiados em programas alternativos e independentes (com Marcelo Tas, por exemplo, incorporando o ingênuo e direto repórter Ernesto Varela), as cores berrantes da banda Blitz e o cenário dominado pela popularidade de Armação ilimitada, TV Pirata e afins, não houve como descasar, no documentário, prazer e reflexão.
Sem necessidade de tutorial de como gargalhar ou bênção do politicamente correto, o filme traz depoimentos de figuras como Marisa Orth, que pontua, sem grandes teorias: ;Humor é uma ferramenta crítica;, enquanto revê o incômodo de situações passadas ao lado de feministas radicais. Patricya Travassos, Andrea Beltrão, Angeli, Laerte, Fernanda Young, Helio de la Peña ensinam um bê-a-bá de libertação, que sim, por vezes, incorpora o sentido e a razão de se adequar às transformações e demandas mais quadradas do mundo de hoje. Pré-youtubers e donos de humor feito de estética tosca (como a de Hermes e Renato), muitos, porém, alertam para os riscos da quimera ;de se arredondar o mundo;, com humor rigorosamente coreografado para o bem. (RD)
Duas perguntas // Robney Bruno Almeida, diretor de Dias vazios
É difícil tentar conquistar um público jovem, que tem problemáticas representadas no filme Dias vazios, mas que, em geral, tende ao escapismo?
Gosto do cinema autoral. Neste tipo de cinema, querer agradar ao público só para conquistá-lo é um caminho sem volta. Busco surpreender. Mais do que qualquer coisa pra mim o público gosta de refletir sobre os temas do filme, até mesmo nos dias seguintes à projeção. Cada um faz o seu próprio juízo do que foi assistido. Respostas brotam da individualidade de sentimentos e de entendimentos. Isso pra mim é o que mais me satisfaz como cineasta. Sei que fazer público com cinema autoral é problemático, mas prefiro pensar que um dia vamos entender que o público brasileiro gosta de se ver representado no cinema. Interessa-me o espelhamento da realidade, e acho que, em tempo de redes sociais e mídias digitais, é preciso saber utilizar as ferramentas certas para alcançar e envolver diferentes públicos.
O seu filme acopla muita metalinguagem, não?
A metalinguagem do filme é presente no livro em que o roteiro se baseou. Uma história dentro de uma outra história. Lembro de uma das primeiras conversas que tive com o André de Leones (autor do livro) sobre isso. Imagina que você queira contar a história de um cara que você conheceu somente de vista, o que você faria? Simples, colocaria elementos de seu próprio cotidiano na medida que fosse ficcionalizado a história do seu personagem. Essa metalinguagem para mim é o grande diferencial do filme, que intriga o público querendo saber mais a medida que vemos algumas cenas se repetirem. Costumo dizer que qualquer história pode dar um filme bom ou ruim, o grande diferencial é o modo como contar a história.
Outras estreias
Godzilla 2: Rei dos monstros
; De Michael Dougherty.
Anos 90
; De Jonah Hill.
Compra-me um revolver
; De Julio Hernández Cordón.
Dias vazios
; De Robney Bruno Almeida.
Histórias estranhas
; De Marcos DeBrito e Ricardo Ghiorzi.
Ma
; De Tate Taylor.
A sombra do pai
; De Gabriela Amaral