postado em 01/06/2019 04:08
Blocos de oito programas bastante representativos do cinema brasiliense, uma estrutura que propicia a interação entre público e cineastas da cidade e uma extensão do divertimento, ao ar livre, com direito a comércio em foodbikes animado por trilhas sonoras de cinema selecionadas por Djs ; o pacote de entretenimento faz parte do projeto Brasília em Plano Aberto ; Edição de Inverno, a partir de hoje, com sessões gratuitas, na sala de cinema do Centro Cultural Banco do Brasil.
Ponto de partida do evento, a exibição do curta Caminhos de Valderez (de Jorge Bodanzky, uma presença confirmada hoje, no evento) traz bastidores curiosos. Até a projeção de hoje, o curta se mantém completamente inédito, por ter tido o negativo perdido. ;A montagem dele foi na Alemanha, em 1971, e nem o enxergava como um filme, mas como um exercício, espécie de ensaio ou estudo. Feito em 16mm, foi repassado para VHS, com alguma precariedade. Filmado em Brasília, ele partiu da observação de espécie de corrida e fuga de amigos que seguiam o grande em números de seitas, misticismo e candomblé. A Valderez se sente meio perseguida, como num chamamento. Tivemos imagens feitas no Vale do Amanhecer;, comenta Bodanzky. O filme seguiu o ;espírito perdido; dos estudos libertários da UnB, em que ele esteve até 1965. A vertente utópica e idealista defasada (;apesar de a UnB seguir diferenciada;, como ressalta) aponta o norte de um documentário para o qual o ex-aluno do Instituto Central de Artes pesquisa, há seis anos.
Nomes conhecidos do cinema local, entre os quais Renato Barbieri, Márcio Curi e Rafaela Camelo, estão dispostos no projeto, estendido até 9 de junho, que traz 48 produções brasilienses, num programa incentivado pelo Fundo de Apoio à Cultura. Hoje, seis filmes integram o evento, agrupados pela temática Cine Memória. Idealizadora da festa de exibição dos curtas, a atriz e produtora Wol Nunnes (que assina a curadoria, ao lado de Maurício Witczak) terá o documentário Meio dia completo mostrado no CCBB. Em cena, um pioneiro nordestino conta do enlace afetivo propiciado com a construção da capital.
No segmento de hoje, haverá ainda projeção de A louca história de Andrade Júnior, documentário de 2014, que celebra a personalidade do ator morto há quase um mês. Num clima mais abstrato, o filme Fluxos, de João Amorim, promete unir peculiaridades visuais e sonoras da cidade. Paisagens diversificadas da capital ocupam a tela do projeto que mescla temas (diários, mas sem sessão na segunda-feira) como Relacionamentos, Risos e Pluralidades.
Fusões entre realidade e ficção formam o terreno híbrido do curta de Webson Dias Vilão. Investindo em cinema, desde 2003, Webson respondeu pelo longa Estrutural, produção que competiu na Mostra Brasília (2016). ;Moradores da Estrutural não têm a visão maniqueísta ; trazem camadas diversificadas de entendimento, e, sim, podem até reconhecer um nível de violência, especialmente entre jovens ; mas são jovens que praticam e sofrem violências;, observa Webson. Histórias de vida e traumas de aprisionamento formatam a trama de Vilão. ;Grosso modo, mostramos como reagem as pessoas, dentro de circunstâncias e estímulos possíveis na Estrutural;, explica Webson.
Temática caudalosa
Outra área de Brasília explorada por um dos cineastas é o Noroeste que dá título ao curta de Lucas Gesser, 26 anos. ;Quis dar visibilidade à reserva incrustada na mata, mas cercada de prédios. Concentrei na abordagem observacional do Santuário dos Pajés, que, depois de bem exposto, há oito anos, saiu um pouco do olho da opinião pública;, comenta o ex-estudante de audiovisual da Universidade de Brasília. Iniciante na área do audiovisual, ele crê que a cidade tem projetado volume de obras com relevância, a serem asseguradas pelo FAC. ;Há mais cursos, e vejo a capital formadora de um cinema jovem, repleto de pluralidade nos imaginários e nas linguagens;, comemora.
Amanhã, haverá representatividade feminina, a cargo de Daniella Cronemberger (com o curta À tona). ;Acho que a presença feminina vem sendo trabalhada aos poucos ; há uma conquista maior de espaços que, antes, sequer eram questionados;, observa Cronemberger, há quatro anos atuante no audiovisual. À tona, sobre passado duro para uma mulher, foi selecionado para o Festival de Gramado. ;É um filme militante, contra a visão machista, por meio de posição política explícita;, conclui.