Adriana Izel
postado em 02/06/2019 06:30
Assim que o livro Furacão Anitta, de Leo Dias, chegou ao mercado, só se falou das polêmicas, como as brigas com Pabllo Vittar e Simaria e os romances com André Marques e Neymar. No entanto, a biografia não autorizada vai muito além das fofocas. Nas 192 páginas, o jornalista carioca conta desde a infância de Larissa de Macedo Machado no subúrbio carioca em Honório Gurgel, passando pelo início da carreira e a adoção do nome Anitta, as estratégias tomadas para atingir alcance nacional e internacional até um panorama de uma possível aposentadoria após a cantora completar 30 anos ; hoje ela tem 26.
;As pessoas quiseram se concentrar na fofoquinha, mas o livro é muito mais do que isso. Acho que quando a pessoa compra o livro e lê, ela vê que não é fofoca. Tem a fofoca, porque todo mundo tem isso na vida, mas há uma história e uma mensagem no final;, garante Leo Dias em entrevista ao Correio.
E essa história que o jornalista quis retratar foi uma de superação de realidade ; garantida pelos esforços da mãe Mirian Macedo e pelo jeito espevitado, estratégico e perfeccionista de Anitta ;, que deu origem a uma carreira sólida e de sucesso no Brasil e no mundo, num patamar que nenhum artista brasileiro havia conquistado antes.
Para retratar a personagem, o autor fez três longas entrevistas com a própria Anitta e outros papos longos com duas figuras essenciais para a história: a mãe e o irmão da cantora, Mirian Macedo e Renan Machado. Os dois são uma espécie de fio condutor da trajetória da artista e também do livro, já que a mãe foi a maior responsável pela cantora ter tido uma boa educação, estudando em escolas de renome no Rio de Janeiro, aprendendo cedo a língua inglesa e apostando no estudo técnico de administração, conhecimentos fundamentais para os passos na vida artística, e o irmão, o principal apoiador, sendo desde DJ no início até sócio nos dias de hoje.
Figuras essenciais
Os relatos dos três alinhados a conhecimentos prévios de Leo Dias, que acompanhou os primeiros passos de Anitta no mercado musical, e com outras entrevistas garantiram a narrativa, que começa de forma inesperada, com a chegada dos avós de Larissa ao Rio de Janeiro, de quem ela herdou o talento musical. O avô Pedro Júlio Macedo tocava piano, clarinete e saxofone. Anitta foi a única da família a seguir os sonhos do patriarca da família Macedo, clã da mãe da artista. As primeiras demonstrações da vida artística foram ainda na infância, cantando aos domingos na igreja e depois ao participar de um concurso na escola da melhor roupa feita de material reciclado. A vitória na disputa garantiria a permanência dela e do irmão em um colégio particular no Rio de Janeiro. Mesmo sem parecer ter chance na competição, Larissa tinha certeza da vitória, que veio graças à audácia da menina e ao talento de costureira da mãe.
A partir daí, o livro começa a traçar a trajetória de Larissa para se tornar Anitta. O vídeo feito de forma estrategicamente caseira para bombar na web, que garantiu a presença da artista na Furacão 2000, produtora e gravadora carioca voltada para o funk. A primeira perspectiva de uma carreira além da Furacão 2000, a aposta nos hits como Menina má e Show das poderosas, os primeiros passos para conquistar o mercado do Brasil, os embates com o antigo escritório, o momento de administração da própria carreira e o caminho para ser conhecida pelo mundo afora, como é atualmente. Ou seja, a fórmula de sucesso de Anitta.
;Ela fez o caminho direitinho. Tem muita gente que erra ao sonhar em alcançar o mercado americano. Anitta foi brilhante. Ela entendeu que para chegar no mercado americano, ela precisava entrar pela América Latina. Ela foi perfeita em se associar primeiro ao Maluma e depois ao J. Balvin. Ela sabia que tinha que ser um homem e hoje ela canta com os dois. Mas ela deu certo por isso. Ela foi estratégica, foi brilhante. Desde o início, eu lembro que ligava para a Anitta e ela falava que não podia falar porque estava na aula de espanhol. Ela é muito focada, desde o início ela sabia que queria conquistar o mercado latino e que para isso ela tinha que estudar espanhol;, analisa Dias.
Vida pessoal
Furacão Anitta ainda aborda outro aspecto da cantora: a vida pessoal. Além da estratégia, Leo Dias fez questão de humanizar a figura da artista, o que muitas vezes fica de lado quando se trata de Anitta. ;Minha intenção foi mostrar a vida dela (além da fama). Essa era minha intenção e acho que consegui cumprir;, afirma. Para isso, o autor conta mais sobre a relação da carioca com o candomblé, religião da qual ela é adepta.
Esse trecho do livro, inclusive, foi o único em que Anitta interferiu. ;Ela leu só o capítulo da religião, porque era uma questão que ela tinha pedido para eu ter cuidado. Ela tirou algumas coisas. Tirou os detalhes do terreiro, que é o refúgio dela. É onde ela pode se recolher e ela ia perder tudo isso. Acho que foi missão cumprida nesse ponto. A missão, nesse caso, era tentar acabar com o preconceito, já as pessoas ligam as religiões afrobrasileiras a ser algo do mal, e quando ela verbaliza isso, acho que é um grande passo;, completa o jornalista.
A autoestima e a relação com o corpo, o qual teve inúmeras cirurgias estéticas, também fazem parte da narrativa. O momento mais tocante do livro é o capítulo final, em que Anitta dá um relato, de certa forma triste, da cobrança da figura feminina no mercado musical. ;Eu acho muito injusto a forma como as pessoas lidam com a velhice. Eu quero me dar o direito de envelhecer. O público não aceita alguém que envelheça. Principalmente, uma mulher. Eu não quero ser refém disso para o resto da minha vida;, relata a cantora ao explicar que pretende, sim, em alguns poucos anos se aposentar. ;Ninguém fica no auge para sempre. A vida é um ciclo. Uma hora eu vou cair. Isso é certo. E, nessa hora, não quero ninguém esperando de mim o contrário. Sabe o Pelé? Você viu o Pele decair? Ninguém viu. Ele foi rei. Ele brilhou. E tchau. Deu lugar para outro. É isso. Depois de mim, virá outra;, completa.
Três perguntas / Leo Dias
O que te motivou a fazer uma biografia especificamente sobre a Anitta?
Primeiramente, foi o lugar onde ela chegou. Ela chegou num lugar onde nenhum brasileiro chegou antes. E segundo porque eu conhecia muito da vida dela. Por eu saber muito daquilo ali, por eu ter acompanhado de perto várias histórias, falei: ;Acho que eu sei coisa demais, acho que eu sei informação muito legal sobre uma pessoa que chegou num lugar muito distante, por que eu não uso isso? Será que eu preciso esperar ela ficar velha?; E eu descobri que não, não mesmo. E hoje, agora, depois dessas semanas que o livro está à venda, eu vejo que eu estava certo. É um grande sucesso de vendas, fiquei muito feliz com tudo que já está acontecendo. Acho que foi um grande gol que eu fiz na vida.
No final do livro, você relata que ela pode parar a carreira quando completar 30 anos. Você acha que ela vai realmente parar?
Não sei se vai ser daqui a quatro ou cinco anos, não sei. Mas acho que ela vai parar, porque ela é muito esperta e muito inteligente. Ela sabe quando o mercado não quer mais uma pessoa, quando o mercado já está saturado. Ela percebe isso facilmente. Acho que daqui a pouco ela vai começar a reduzir bastante (o número de shows e investimento na carreira).
Depois de Furacão Anitta, você pensa em fazer outras biografias?
A (editora) Ediouro já me chamou para fazer uma biografia para 2020. É o que eu quero, mas não sei se vai rolar. Minha ideia é fazer os dias de cadeia de Belo. Começar quando ele entra na cadeia e terminar no dia em que ele sai, sobre tudo que aconteceu nesse tempo. Como que um artista entra de um tamanho na cadeia e sai muito mais popular? Só no Brasil e só o Belo. A cadeia foi uma alavanca na carreira dele e não só isso. Teve muita coisa que aconteceu lá dentro que a gente não sabe. Como que ele entra casado com uma mulher e sai casado com outra? Que cadeia é essa? Como você pode conhecer alguém na cadeia? Tudo que aconteceu ali e tudo que o levou a entrar lá. Mas a ideia é que o livro comece no dia da prisão e termine no dia da soltura.
Furacão Anitta ; Biografia não autorizada
De Leo Dias. Editora Agir, 192 páginas. Preço médio: R$ 29,90.