Diversão e Arte

'A juíza' traz história de luta pelos direitos das mulheres

Betsy West, diretora do longa, diz que juíza mudou o mundo para as mulheres americanas

Ricardo Daehn
postado em 05/06/2019 04:09
De vermelho, entre os outros juízes da Suprema Corte: Ruth Bader Ginsburg
Pouco tempo depois da cerimônia do Oscar em que o documentário A juíza (em cartaz no DF), dirigido por Julie Cohen e Betsy West, competiu com outros quatro longas, a diretora Betsy confirma, ao Correio, conquistas, mesmo tendo perdido a estatueta dourada. ;Nosso filme já havia se saído muito bem nos cinemas americanos no verão passado, e já não estava em cartaz, quando fomos indicadas ao Oscar. Talvez a indicação tenha tido um impacto sobre nossa distribuição internacional, que foi substancial para um documentário norte-americano;, comenta.

Centrado na figura da juíza Ruth Bader Ginsburg, fundamental para incrementos jurídicos a favor das mulheres, o filme disputou o Oscar, num momento de revisão de parâmetros para maternidade, família e condição feminina. O filme Absorvendo o tabu, melhor curta-metragem, pelo Oscar, com direção da cineasta Rayka Zehtabchi e respaldo da produtora Mellisa Berton, por exemplo, trata de menstruação e de práticas machistas na sociedade da Índia. No páreo, pelo Oscar, A juíza disputou com Minding the gap e Sobre pais e filhos, o primeiro em torno de jovens associados em famílias desvencilhadas de padrões e o segundo, dirigido pelo sírio Talal Derki, sobre rapazes infiltrados numa família radical islâmica.

Em A juíza, é patente a luta contra a discriminação que afeta mulheres, numa realidade de escala global. O cenário seria, entretanto, atenuado nos EUA? Betsy, diretora do filme, é quem responde: ;Eu realmente não sei onde, exatamente, os Estados Unidos se classificam no tratamento das mulheres. Isso provavelmente varia dependendo de qual medida englobada, no parâmetro de oportunidades profissionais, na escala da saúde, na graduação da educação, etc. Certamente, as mulheres, na maioria dos países, enfrentam obstáculos de gênero, e é por isso que acredito que a história do nosso filme ressoa internacionalmente. Aqui está uma mulher chamada Ruth, que enfrentou grandes desafios, conseguiu alcançar a superação em nome de si mesma e em nome de todas as mulheres sujeitas à lei americana;.

Betsy West, diretora do longa, diz que juíza mudou o mundo para as mulheres americanas
Entrevista // Betsy West, diretora


Diante da leva de contribuições de Ruth, qual teria sido o ponto mais alto e admirável da carreira dela?
Ruth Bader Ginsburg mudou o mundo para as mulheres americanas. Como litigante nos anos 1970, ela ponderou numa série de casos ante aos EUA. O Supremo Tribunal começou a pôr fim ao tipo de discriminação generalizada contra as mulheres que era tido como líquido e certo em nosso país. Mesmo que ela não se tornasse uma juíza do Supremo Tribunal, teria um lugar na história por contribuições dadas aos direitos das mulheres.

Você endossa o apelido ;heroína liberal; associado à juíza? Há muita qualidade destacada o filme, mas Ruth Ginsburg seria imaculada e imbatível?
Magistrada Ginsburg é considerada por muitos progressistas em nosso país como sendo uma heroína tanto por suas decisões inovadoras quanto pela postura divergente ante a decisões de uma Suprema Corte cada vez mais conservadora. Claro que ninguém é uma pessoa perfeita. Nós mostramos no documentário como ela fez comentários depreciativos sobre o então candidato Donald Trump, pelo qual ela mais tarde se desculpou.

Ao ser um ícone, após os 80 anos, Ruth se afirma como celebridade pop abraçada pela cultura americana. Acredita que ela traga avanços em como encarar os mais velhos?
Bem, é sim, bastante incomum que alguém aos 86 anos seja um ícone milenar. As pessoas se vestem como ela, tatuam a imagem dela nos braços e, recentemente, ela foi indicada quatro vezes pelo MTV Movie and Television Awards para a categoria, em premiação como melhor herói da vida real. Eu não sei se esse é o início de uma tendência de maior respeito pelos idosos, mas eu gosto de pensar que é um bom sinal que uma mulher está sendo celebrada não por ela beleza, mas para o cérebro dela.

A maternidade ocupa grande papel no filme. Há consequências
patentes da maternidade que
vem de berço, desde a criação
de Ruth. Mas, e hoje, houve mudanças acentuadas
no
papel das mães na sociedade?
Tentamos mostrar uma imagem completa da magistrada, seus desafios profissionais e conquistas, bem como sua vida pessoal. Uma das razões pelas quais ela se tornou um modelo para as mulheres americanas, acreditamos, é que ela conseguiu ter uma carreira de sucesso com um casamento feliz com um marido solidário e uma vida familiar próxima com sua mãe e seus filhos.

Há diferenciais no retrato do marido Marty (casado com Ruth,
por mais de 50 anos, e morto em 2010), em relação ao retratado a ficção Suprema (em que foi
interpretado por Armie Hammer)? Na rotina agitada de Ruth, vocês alcançaram o mérito de não colocá-lo apenas a reboque dela...
Nós queríamos incluir Marty como um grande personagem em nosso filme, porque ele era tão importante para a juíza Ginsburg, um homem bem-sucedido por seus próprios méritos. Foi ele quem celebrou as habilidades e os feitos de sua esposa e ajudou a tornar conquistas dela possíveis. Em vez de sentir ameaçado pela inteligência dela, Marty se gabou disso, e quando o trabalho dela se tornou tão importante, ele se prontificou a ajudar em casa, assumindo na cozinha, por exemplo, e mudando-se para Washington quando se tornou juíza federal. E, convenhamos, enquanto espectador, quem não ama um bom romance!

Como os jovens reagem ao filme?
Além do entusiasmo da geração do milênio a qual me refiro, ainda jovens, bastante novos, reagiram de modo forte. Nós já estivemos em muitas exibições onde meninas de apenas oito anos apareceram completamente vestidas como RBG: cabelos puxados para trás em um coque, grandes óculos, toga e gola de renda. Ela capturou a imaginação da geração jovem. Há algo sobre uma pequena avó idosa que está falando a verdade ao poder que concerne aos jovens.

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