Irlam Rocha Lima
postado em 05/06/2019 09:59
Entre o fim da década de 1970 e meados dos anos 1980, São Paulo viveu uma grande efervescência cultural promovida por artistas que estiveram lado a lado na Vanguarda Paulistana. O movimento teve como protagonistas os cantores e compositores Arrigo Barnabé e Itamar Assumpção, as cantoras Tetê Espíndola, Ná Ozzetti, Vânia Bastos e Eliete Negreiros e os grupos Língua de Trapo, Rumo e Premeditando o Breque.
Um dos que obtiveram maior sucesso popular foi o Premeditando o Breque, que ficou mais conhecido como Premê. Surgido na Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), o grupo contava originalmente com Mário Manga, Igor Lintz Mauês, M. Marcelo Galbetti e Claus Petersen. A eles se juntou, em seguida, Wandi Doratiotto.
O Premê começou a ficar conhecido a partir de apresentações no Teatro Lira Paulistana (Rua Teodoro Sampaio, no bairro de Pinheiros), que, à época, se tornou o epicentro da movimentação artística na capital paulista. O profícuo trabalho do quinteto o levou a ser tomado como referência de música inventiva naquele período.
Toda a produção do grupo, registrada em sete CDs, sob os títulos Premeditando o breque, Quase lindo, O melhor dos iguais, Grande coisa, Alegria dos homens, Vivo e Como vencer na vida fazendo música estranha, está sendo relançada pelo Selo Sesc e reunida na Caixinha do Premê, para comemorar os 40 anos do Premeditando o Breque. O sétimo traz músicas conhecidas do púbico, mas nunca antes gravadas em outro álbum, como Valsa didática, Casa de massagem e Zuleica Gaspar. As duas últimas haviam sido censuradas nos anos 1980. Casa de Massagem ganhou clipe.
A Caixinha do Premê ; um rico acervo histórico ; traz também um encarte com 96 páginas, que conta toda a trajetória da trupe. O material é permeado por fotos de shows e de festivais com a participação do grupo, em São Paulo e cidades do interior paulista.
Caixinha do Premê
Box de sete CDs com encarte de
96 páginas e fotos.
Preço sugerido: R$ 100.
Entrevista// Mário Manga
Que lembrança guarda do período em que o Premê foi um os mais importantes grupos musicais do país?
Bons tempos. Eu, pelo menos, conseguia ter só um emprego, que era tocar no Premê.
O lançamento da caixa com sete discos pode ser visto com a retomada da trajetória?
Não. Estamos felizes e animados com o lançamento da Caixinha, mas está mais para uma comemoração do que uma retomada. É todo nosso trabalho em mais de 40 anos registrado e compactado. Uma alegria imensa.
Além do show no Sesc Pompeia, em São Paulo, há a possibilidade de apresentações em outros locais?
Sim, já temos shows marcados nos Sescs em Araraquara e Sorocaba e pretendemos seguir divulgando a Caixinha e fazendo o máximo de shows que pudermos.
Você considera as canções do Premê, feitas na década de 1980, como atemporais, tanto melodicamente quanto em termos de letra?
Em termos de letra, infelizmente, sim, pois o país, grosso modo, pouco mudou e como sempre fomos críticos a quase tudo, e essas críticas continuam valendo. Com relação ao lado musical, sempre há alguma coisa que a gente gostaria de ver (ou ouvir) de outra maneira. Outro dia mesmo, durante um ensaio, falamos sobre isso. O distanciamento temporal favorece a crítica.
Que importância teve a gravação de músicas suas por Cássia Eller?
No começo, quando a Cássia me procurou, representou um espanto, ver uma cantora querendo gravar Rubens. Mas, depois de ela ter gravado, tudo ficou claro e acabei até compondo especialmente para ela. Em outras palavras, uma honra!
Casa de massagem e Zuleika e Gaspar, anteriormente censuradas, foram finalmente registradas em disco. O que isso representa para vocês?
Um alívio e uma alegria, pois de Zuleika e Gaspar e Casa de Massagem eram uma espinha de peixe atravessada em nossa garganta. Ter tido essas duas músicas censuradas chegava a ser cômico. Regravamos Casa de Massagem para a série Um Plano do selo SESC e vamos tocá-la no show de lançamento da Caixinha.