Diversão e Arte

Pacote de pérolas francesas na telona

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 06/06/2019 04:08
A revolução em Paris: superprodução da cinematografia francesa


Filmes exibidos em festivais como os de Cannes e de Berlim, produções compromissadas apenas com diversão e obras reflexivas estão na décima edição do Festival Varilux que chega à capital, simultaneamente a outras 81 cidades do país. De hoje até 19 de junho, quatro locais (as redes Cinemark e Itaú, com o Cine Cultura Liberty e o cinema da Embaixada da França) de Brasília se veem envolvidos nas 153 sessões de cinema, com ingressos a preços variados.

Sempre associada ao cinema, a atriz Juliette Binoche estrela Quem você pensa que sou (de Safy Nabbon), em que uma mulher madura entra em crise, dada a solidão, num dos mais vistosos longas entre cardápio de 16 opções do recente cinema francês. Já em A revolução em Paris (de Pierre Schoeller), a crise é generalizada, no retrato da união contra a monarquia representada no filme, justo agora, no ano em que a Tomada da Bastilha completa 230 anos. Vencedor de prêmio do júri no Festival de Berlim, Graças a Deus traz o celebrado diretor François Ozon à frente de um enredo de abuso sexual dentro da Igreja Católica, com apoio forte em caso verídico. (RD)


Três perguntas
Emmanuelle Boudier, curadora


Inocência roubada e Graças a Deus são filmes interessados
na restituição de
verdades. Em que medida o filme de
François Ozon atiçou o debate em torno do
predatório assédio na seara da Igreja?
São filmes que refletem uma preocupação na nossa sociedade que nestes últimos anos tem sido muito falada e debatida: a do abuso sexual e de como esta expressão começou a se descolar do universo feminino, havendo episódios de homens que foram abusados. Tratava-se de um assunto tabu por vários anos. Este debate passou a inspirar muitos cineastas junto com outro filme que é Filhas do sol (de Eva Husson) ; que acontece num contexto bem diferente ; num ambiente de guerra; abusadas, as mulheres formam um batalhão de guerra que passam a se defender de seus agressores. São três filmes então que tratam destas questões do momento. O cinema francês sempre está perto do que acontece na sociedade. São filmes atentos à atualidade.

Em que medida, dentro da contemporaneidade, se provam
válidos ou estimulantes os fatos dispostos
em A revolução
em Paris? O Brasil
teria algo a aproveitar do conteúdo?
Escolhemos por vários motivos: é uma superprodução muito bonita que mostra como a cinematografia da França não se compõe apenas de filmes autorais, podendo conter filmes de grande orçamento, com elenco incrível, com figurinos excepcionais de época. É um filme muito bom, no sentido histórico, ele tem respaldo documentado, foi feito numa observação muito realista do período que vai desde a Queda da Bastilha até a decapitação do rei. O longa analisa o nascimento de uma revolução e como vai surgir a república. Há um valor histórico muito forte. Há ainda um romance inserido na trama. Ele mistura figuras históricas como Danton e Robespierre com pessoas comuns vindas do povo. Além desta originalidade, o A revolução em Paris defende a liberdade, fraternidade e a igualdade. Mais do que nunca, seja no Brasil, seja no mundo inteiro, há plataforma de ideais que temos, sempre, que seguir defendendo, eternamente.

Amor à segunda vista, Através do fogo, Cyrano, Finalmente livres,
O mistério de Henri Pick e Quem você pensa que sou elencam crises
de identidade, falsidade ideológica e apropriação de vidas.
São realmente temas pertinentes no bojo dos filmes selecionados?
Realmente, há este ponto de contato, entre todos ; mas não houve o propósito, na hora da escolha dos filmes. Dentro de cada título, há tratamento diferenciado nas crises de identidade. No mundo virtual, atual, realidade e imaginação estão propensos a serem misturados, num nível, por vezes, perturbador para o ser humano em geral ; como acontece em Quem você pensa que sou. Ainda desponta nesta linha o tema das fake news ; tudo, atualmente, por passar pelas redes sociais e por meios que não são controlados e que alimentam informações com origem incerta e impacto sobre a verdade .

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