Diversão e Arte

Poesia, casamento e identidade

Fabrício Carpinejar, Mailson Furtado e Akapoeta se encontram hoje na 35ª Feira do Livro de Brasília para falar de poesia, literatura e internet

postado em 08/06/2019 04:08
Carpinejar






A mesa que reúne os poetas Fabrício Carpinejar, João Doederlein, conhecido como Akapoeta, e Maílson Furtado, vencedor do Jabuti por À cidade, é uma das poucas do Café Literário que ainda está mantida depois do cancelamento de parte da programação da 35; Feira do Livro de Brasília (FeLiB). Furtado e Akapoeta são homenageados, ao lado da bibliotecária Maria da Conceição Moreira Salles. Com o tema A poesia na parede, eles se reúnem para discutir o lugar da poesia.

Aos 22 anos e com três livros publicados, Doederlein quer introduzir na discussão a importância de se trabalhar a poesia em vários suportes, especialmente na internet. ;Vejo esse tema da mesa como uma proposta para se pensar na poesia em outros espaços, não só o tradicional;, explica. ;A poesia permanece, independentemente do espaço no qual está sendo projetada, só que isso pode interferir no entendimento e isso abre um espaço pra gente.; Assíduo na publicação de versos na internet, o jovem poeta acredita que todos os espaços são bem-vindos. Ele tem versos impressos em objetos para a marca Imaginarium, outros grafitados em muros como os que formam o Beco do Batman, em São Paulo, e outros em camisetas.

O livro dos ressignificados, publicado em 2017, vendeu mais de 200 mil cópias e, agora, ele lança na feira o projeto O invisível aos olhos, um convite da Harpper Collins para que dialogasse com trechos de O pequeno príncipe, Antoine de Saint-Exupéry. ;Metade são trechos do Pequeno príncipe e outra metade são comentários poéticos com o que o trecho significava pra mim, ou então eu continuando o trecho. É uma conversa entre dois autores;, avisa o poeta.

Carpinejar também vem à feira com livro novo. Aos 46 anos, o escritor gaúcho tem 44 livros publicados e lança agora Minha esposa tem a senha do meu celular, uma ode ao casamento e à fidelidade. ;Vivemos um tempo líquido, surreal, de correnteza no amor, em que as pessoas têm facilidade para casar e descasar. É muito mais uma operação digital do que uma preparação emocional. E eu vou contra a corrente. É um livro que defende a lealdade, a fidelidade, a demora. A contra-idealização;, garante.

Efeito web

No livro, Carpinejar devota um olhar especial para a internet, espaço que ele acredita bagunçar as relações. ;O que trago à tona é a necessidade de ser coerente sempre, na sua prática real e no seu avatar, que é sua prática virtual. Hoje, você é um dentro do relacionamento e outro na realidade, por isso as pessoas temem a senha do celular: quando você está num relacionamento está também prospectando novos parceiros no mundo virtual. Que confiança pode ser criada se não existe lealdade?;, questiona. Em alguns capítulos, o escritor discute a necessidade de ter uma etiqueta on-line. ;Você não pode partilhar emojis e likes para estranhos e partilhar dos mesmos códigos com quem você ama;, defende.

Para o cearense Mailson Furtado, 28, a poesia também é uma questão de identidade. Quando escreveu À cidade, ele queria falar sobre Varjota, no interior do Ceará, cidade na qual mora e exerce a profissão de dentista. O processo foi muito influenciado pelo poema Rio, de João Cabral de Melo Neto, e por uma poesia marcada por um viés geográfico. Poema de fôlego único, dividido em partes chamadas de Pretérito, Pretérito mais que perfeito e Futuro do pretérito, À cidade é um retrato da região. ;Vem narrar justamente essa região norte do Ceará, desde a história, a antropologia e o folclore da região;, conta. ;Eu queria trazer essa visão de cidade do interior. É um lugar que não é nem urbano, nem campo, como era há 15 anos, e que está nessa transição de ser um lugar do mundo, por conta da tecnologia, e um lugar muito influenciado ainda pelo folclore local, pela mística rural. É uma cidade que se constrói entre esses dois parâmetros.;

Poesia na rede
Com Fabrício Carpinejar, Akapoeta, Mailson Furtado e Nicolas Behr. Hoje, às 19h, na 35; Feira do Livro de Brasília (Complexo Cultural da República)

Lançamentos
A escritora Lucília Garcez vai lançar dois livros infantis na feira. Eu me lembro do vovô Hermé traz as memórias de um menininho muito ligado ao avô. No livro, ele conta sobre histórias e momentos que marcaram sua infância. Lucília lança também Ariano Suassuna, uma biografia para crianças de um dos maiores nomes da literatura brasileira. O livro traz ainda ilustrações de Jô Oliveira.

Amanhã, às 17h30, no Espaço do autor I ;
lançamento de Eu me lembro do vovô Hermé e Ariano Suassuna
Dia 13, quinta-feira, às 16h, na Carreta da editora IMEPH ; Oficina de ilustração com Jô Oliveira e contação de história de Ariano Suassuna pela própria autora Dia 14, sexta-feira, às 14h, no Estande Arco-Íris ; lançamento de Eu me lembro do vovô Hermé e Ariano Suassuna

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