A sensação de um abismo entre qualidades de mulher e mãe, simultaneamente, forma um enorme dilema para a protagonista de Meu bebê, papel reservado à atriz e cantora Sandrine Kiberlain, neste longa que é uma das atrações do 10; Festival Varilux de Cinema Francês. No papel de Hél;ise, uma mãe em crise, a estrela de filmes como Mademoiselle Chambon (2009) e Uma juíza sem juízo (2013) emplacou um prêmio francês em festival especializado em comédias. ;Ainda que desajeitada, a protagonista de Meu bebê é louca por seus filhos; além de ser simpática, ao ponto de querermos conhecê-la;, explicou a atriz em entrevista de divulgação da comédia na França.
Filme assinado por Lisa Azuelos, Meu bebê marca o despontar de uma jovem atriz: Tha;s Alessandrin, que ninguém mais é do que a própria filha da diretora na vida real. Ainda na corrente de parentesco Victor Belmondo, que interpreta o filho de Hél;ise, Théo, é neto do astro Jean-Paul Belmondo. Meu bebê encampa as aflições de uma mãe prestes a perder a filha Jade para uma série de estudos no Canadá. Sandrine vê o enredo como um ;reconhecimento; da filha (da ficção), dando um ;obrigado, antes do grande voo;.
Atração de hoje e amanhã (dias 13 e 14/06, quinta e sexta), no Espaço Itaú de Cinema, Meu bebê dá sequência à série de filmes sobre a família, elemento em comum para Sandrine (estrela de filmes como A viagem de meu pai, 2015) e Lisa Azuelos (de Um reencontro e Lola, este sobre crises de uma adolescente interpretada por Miley Cyrus). Meu bebê foi visto na França por 600 mil espectadores. Sandrine, envolvente no papel da mãe da comédia, sintetiza que o filme traz temas significativos como a ;memória antecipada; (de uma dor ainda não experimentada, da solidão de uma mãe) e o escapar da ;valorização do primordial; (relações nutridas em família). Confira entrevistas do Correio.
Cinco perguntas // Lisa Azuelos, diretora
Como as pessoas reagem ao filme, e como você reagiu ao fator do ninho vazio (a tal casa sem os filhos)?
Sempre me percebo surpreendida pela maneira que as pessoas vivenciam, imersas, o filme. Eu sinto como as pessoas, em especial famílias, tendem a se ligar à representação da mãe. Senti isso no Brasil, nas sessões do Rio de Janeiro. Claro que tive que lidar com o ninho vazio. Mas foram episódios progressivos, uma vez que Tha;s (minha filha e atriz do filme) retornou não apenas para as filmagens, mas ainda para promover o filme. O ninho vazio real é algo que vivencio agora!
O que aprendeu com o filme?
Compreendi que o amor que dei e recebi das minhas crianças, dos filhos, é o precioso ouro da minha vida e que agora sou capaz de entregar este mesmo amor a mim mesma.
Que público é atraído, neste mundo machista, ao lidar com a delicadeza da maternidade?
Principalmente as mães são atraídas, mas homens bastante engraçados são tocados pelo filme, porque se trata de algo inesperado para eles se entregarem e sentirem o tipo de emoções propostas pelo filme. No papel de novos pais ou mesmo de filhos de suas respectivas mães, eles são muito suscetíveis aos temas abordados.
Que diretoras mulheres te influenciaram?
Jane Campion (de O piano) e Nancy Myers (de Alguém tem que ceder) e, claro, Woody Allen? (risos). Sim, os temas dele sempre alcançam o escopo feminino, uma vez que sempre se debruça sobre relacionamentos.
Quais os desafios da nova geração de mulheres em relação à sua?
Há diferenças no amor e no quão difícil será a convivência num mundo dominado pelo poder das indicações dadas por algorítimos.
Três perguntas // Tha;s Alessandrin, atriz
O que falta para a plena emancipação feminina?
Que elas tenham autoconfiança interior.
Em que momentos há cargas autobiográficas mais densas no filme?
Em absolutamente todas as cenas.
Como você desfrutou a oportunidade de participação num filme?
Saber que sou capaz de atuar, sem maiores receios, e ainda mais: garantindo a maior alegria da minha alma. É como se tivesse verdadeiramente encontrado o lugar ao qual pertenço.