postado em 15/06/2019 04:41
Da bossa nova ao rock, do tropicalismo à MPB de forma geral, André Midani foi o grande arquiteto da indústria fonográfica brasileira. Morto na noite de quinta, aos 86 anos, após uma internação de quatro meses por causa de um câncer, o produtor foi o responsável por revelar e consolidar o talento de alguns dos nomes mais importantes da música brasileira durante mais de cinco décadas.
Nascido na Síria em setembro de 1932, Midani cresceu na França e imigrou para o Brasil em 1955. Já havia trabalhado no escritório francês da Decca quando desembarcou nos trópicos. Foi nas páginas amarelas que encontrou o telefone da Odeon Records, para a qual ligou em busca de emprego. Na França, ele havia trabalhado em um projeto ainda incipiente na indústria e que consistia em descobrir novos talentos nos quais as gravadoras pudessem apostar. No Brasil, Midani assumiu a responsabilidade de lançar o selo Capital Records, dedicado a estrelas internacionais.
Mas Midani nunca se restringia ao convencional e cultivava um olhar especial para o novo. E, no Brasil, havia muita coisa nova. Para começar, o produtor conhecia pouco da música brasileira e mal falava português quando começou a trabalhar, mas, ao ouvir Dorival Caymmi, entendeu o potencial do que tinha diante de si. ;Ao meu gosto, Caymmi fazia o melhor do que era produzido no país. O disco dele foi o único que me chamou a atenção e foi o grande motivador do meu trabalho no Brasil;, contou, em entrevista ao Correio, em março de 2015, quando lançou o livro André Midani ; Do vinil ao download e a série de mesmo nome veiculada no canal GNT. Primeiro, Midani ficou intrigado com o fato de as gravadoras brasileiras não darem muita atenção para a música destinada aos jovens. Enquanto lá fora nomes como Elvis Presley, Bill Haley e Charles Aznavour faziam sucesso, aqui havia um certo deserto na indústria fonográfica nos catálogos de música para a juventude.
Com esse olhar, ele se aproximou da turma da bossa nova e de gente como Carlos Lyra, Roberto Menescal, Nara Leão e Ronaldo Bôscoli. Conheceu João Gilberto graças a Dorival Caymmi e passou a incorporar os jovens cantores e compositores de um dos gêneros mais famosos da música brasileira ao catálogo da gravadora. ;A rítmica e a harmonia da bossa-nova foram uma revolução para a época. Eram novas melodias e um novo jeito de interpretar;, contou, em entrevista ao Correio.
Midani também foi nome importante no impulso dado aos artistas da tropicália e figura estratégica por trás do rock nos anos 1980. Grupos como Titãs, Kid Abelha, Ira! e Ultraje a Rigor foram impulsionados pelo produtor. Nos anos 1960, ele deixou a Odeon Records para fundar a Imperial e, no final da década, aceitou um convite para levar a Capitol para o México. Trabalharia ainda em Los Angeles antes de voltar ao Brasil para presidir a Phillips, que acabaria por se tornar a Universal Music. Na época, Midani precisava reduzir drasticamente a lista de artistas contratados.
Ele acabou por manter alguns dos nomes mais importantes da produção nacional, como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Elis Regina, Gal Costa e Os Mutantes. Mais tarde, incorporaria à gravadora artistas como Tim Maia, Maria Bethânia, Chico Buarque, Vinicius de Moraes e Toquinho. Midani deixou a Universal para montar a Warner no Brasil e, na década de 1990, se mudou para Nova York para assumir a direção da Warner para a América Latina e Warner Internacional. A volta ao Brasil se deu em 2002. A trajetória rendeu ao produtor o título de uma das 90 pessoas mais influentes da história da indústria da música em lista realizada pela Billboard.
Colaborou Adriana Izel
Nas redes sociais, vários artistas comentaram e lamentaram a morte de Midani. Veja repercussão.
Gilberto Gil
O homem da música André Midani descansou. O chefe amigo vai deixar muita saudade. #EquipeGil
Arnaldo Antunes
Sentindo hoje aqui a partida do queridíssimo André Midani, alegre, inventivo e afetuoso amigo e parceiro, que revolucionou com seu trabalho o modo de se conceber, produzir, distribuir, comercializar e curtir a nossa música popular. Deixa muitas saudades.
Leo Jaime
Andre Midani. Talvez o maior nome da indústria musical brasileira. Um amigo, um ídolo, um grande talento. #RIP
Roger (Ultraje a Rigor)
Morre André Midani, produtor de sucessos da bossa nova, aos 86 anos // Um gênio. Foi talvez o principal responsável por nosso sucesso. É o fim de uma era, fico muito triste. Descanse em paz, mestre.
Emicida
Descanse em paz André Midani. Mente valiosa da música feita por aqui. Obrigado por ajudar a colocar uma trilha sonora linda em alguns dos nossos
maiores sonhos.
Liminha
Nosso querido André Midani se foi.
O mestre dos mestres. Com ele aprendemos muito. Eu não teria feito tudo que fiz, sem seus ensinamentos e a liberdade que me deu para criar. A música no Brasil,
não seria o que foi;
Zélia Duncan
André Midani... essa eu vou ter q postar... obrigada por tudo, por me ver, por me dizer, por me trazer pra perto, por ter sido gentil comigo e com minha música. Te beijo como na foto, te beijo com meu coração.;
Marina Lima
André Midani se foi. Uma tristeza para a música brasileira. Esse cara foi um visionário importantíssimo
e amava o Brasil