Diversão e Arte

No streaming e na televisão, animações do Brasil se projetam

Séries como Irmão do Jorel e Oswald conquistam espaço cativo na grade de televisão ou ainda por meio de plataformas de streaming

Adriana Izel
postado em 18/06/2019 07:02
Depois de Irmão do Jorel, a nova aposta do Cartoon Network para desenhos brasileiros é Oswaldo
Centenário, o mercado de animações brasileiro se consolida a cada ano. Isso porque há uma presença maior e de melhor qualidade de produções feitas no Brasil. Dois bons exemplos desse cenário são as animações Irmão do Jorel, no ar desde 2014 no Cartoon Network com exibição mundial, e Tito e os pássaros, que representou o país tropical no Oscar de 2019.

;Eu nunca vi um fenômeno como Irmão do Jorel. É uma série que já está sedimentada na cultura brasileira, de uma forma que eu nunca vi antes. O mais legal é que ela acabou com esse preconceito com o produto brasileiro na animação. A gente percebe que a geração mais nova abraçou a animação brasileira como um produto de qualidade e que não é inferior;, analisa Pedro Eboli, criador da animação Oswaldo.

Esses dois desenhos animados não estão sozinhos nesse bom cenário. Há cada vez mais animações sendo produzidas no Brasil e conquistando o público. O próprio Cartoon Network transmite em sua programação desde 2017 outro desenho brasileiro, a série animada Oswaldo, de Pedro Eboli. ;Há 10 anos seria inconcebível (o cenário atual da animação brasileira) e acho que aconteceu que graças ao fomento e aos esforços de canais como o Cartoon. É incrível e uma experiência surreal ver um negócio que você desenhou na sala da sua casa, sozinho, sendo abraçado desse jeito;, avalia Eboli.
Oswaldo está atualmente na segunda temporada. Uma sequência que estreou este ano e aproveitou o sucesso da primeira temporada, que teve 13 episódios. Agora, o canal exibe mais 13 novos capítulos da animação e tem pelo menos mais 26 gravados. Como Irmão do Jorel, o sucesso de Oswaldo está no ineditismo da história, que acompanha o protagonista de mesmo nome, um pinguim de 12 anos que foi criado numa família humana e vive uma vida cotidiana de uma criança humana da mesma idade, frequentando a escola, jogando videogame e comendo pizza.


Conceito de Oswaldo

A ideia da animação surgiu entre 2011 e 2012 com a premissa de ser uma metáfora ao não pertencimento. ;Cresci no Rio de Janeiro e eu era um menino bem nerd nos anos 1990. Não sabia jogar futebol, fiquei muito tempo me sentindo como alguém que não pertence, um peixe fora d;água. Eu tinha um grupo de amigos, que era como eu, e sempre tive pais que me apoiaram bastante. Peguei esse gancho e quis dar um ponto de vista positivo. Toda criança se sente um pouco diferente e deslocada;, revela o criador de Oswaldo.

As histórias retratadas na narrativa se inspiram em vivências pessoais ; tanto de Pedro Eboli quanto dos outros roteiristas ; durante a infância. O time de Oswaldo buscou situações engraçadas de um conceito básico muito simples: a diferença. Apesar de ser uma animação voltada para o público infantil, a produção segue uma tendência dos desenhos atuais, com um tipo de humor que atinge tanto as crianças quanto o público adulto e com mensagens que debatem assuntos atuais, como representatividade, diferentes tipos de família, entre outros.

Produzir uma série animada como Oswaldo ainda tem muitas dificuldades mesmo que o país tenha cada vez mais profissionais talentosos e preparados. ;Nunca é fácil. É sempre muito trabalhoso. Não tem um atalho, não tem um botão que anima. Temos que fazer desde o roteiro à gravação de voz. A vantagem numa segunda temporada é que já sabemos como é a série, o que fica bom nela. É mais fácil pensar numa ideia que cabe na série. O desafio agora é expandir o mundo do Oswaldo para não fazer apenas uma reprodução da primeira temporada;, explica.

Produção candanga

Em setembro de 2017, a animação brasiliense Caninópolis estreou no YouTube. Concebida pelos publicitários Rafael Frota e Renato Blanco, a série gira em torno do protagonista Otto e dos amigos dele Flip, Mel, Luka e Ralf. Além de uma narrativa, a grande aposta do desenho animado é a trilha sonora original com canções infantis. ;Eu e meu sócio viemos da animação, em que iniciamos nossa carreira. Sempre alimentamos esse desejo de voltar a fazer. Tínhamos esse projeto e estávamos buscando recursos da Ancine. Mas acabamos fazendo com recursos próprios mesmo;, afirma Frota.

A principal ideia da dupla era lançar um projeto para crianças com idade pré-escolar de seis meses a três anos. A partir daí, Frota e Blanco foram avançando no projeto, que ganhou outros braços, a animação Acesso remoto, em que Otto aparece como youtuber e tem como público alvo as crianças entre 3 e 7 anos, e a próxima, ainda em processo de concepção e finalização, o spin-off Esconderijo secreto do Vovô Totó, uma resposta aos mais de 30 mil inscritos no canal, as mais de sete milhões de visualizações e o espaço em exibição na televisão, disponível em plataformas da Net, Vivo, iTunes e no canal por assinatura Zoomoo.

Esconderijo secreto do Vovô Totó é considerada a terceira fase de Caninópolis. A produção é uma mistura de animação e live action. ;Começa com a animação, contando as histórias, mas tem uma mistura dos personagens dos bonecos do Vovô Totó, essa é uma parte mais teatral;, conta Rafael Frota. O desenho derivado tem como foco o personagem do Vovô Totó e o espaço secreto em que ele guarda brinquedos.
No terceiro projeto do Caninópolis, Esconderijo secreto do Vovô Totó, animação e live action se misturam


Desenho em Brasília


Atualmente, Caninópolis tem duas temporadas animadas já disponíveis no YouTube e em outras plataformas parceiras. Além disso, uma temporada de Acesso remoto e quatro programas pilotos de Esconderijo secreto ; esses sem previsão de lançamento oficial. ;A nossa intenção é viabilizar a parte de recursos de patrocínio e soltar no YouTube para teste. Mas já temos quatro episódios prontos;, adianta.

Mesmo com um cenário de animação fértil no Brasil, Frota comenta que em Brasília a situação não é igual. ;Tem sido um grande desafio e até meio maluco, porque Brasília não tem um ecossistema de animação. Existem animadores, mas não é algo como no Rio de Janeiro e em São Paulo, onde estão todos os estúdios e redutos. Estamos tendo que treinar o staff e mão de obra;, diz.

De acordo com o publicitário, isso também se deve ao fato de a equipe candanga ter apostado em um software mais raro, que foi criado pela Netflix e está entre os premiados mundialmente. ;Ele tem algumas características diferentes, como deixar os movimentos mais fluídos, dar uma realidade maior às animações. Estamos implementando e é uma grande obra, pois não temos patrocinadores, não existe mão de obra de qualidade. Então é um desafio maior que o outro;, acrescenta.


Onde assistir

Caninópolis:
Episódios das duas primeiras temporadas disponíveis no canal oficial do YouTube e também em plataformas da Net, Vivo, iTunes e no canal da tevê por assinatura Zoomoo.

Oswaldo:
Cartoon Network. Quartas e quintas, às 20h30. Sábado, às 11h30. Domingo, às 12h.

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