Diversão e Arte

Novas gerações nos palcos

postado em 27/06/2019 04:28
Aos 27 anos, nascido e criado no Núcleo Bandeirante, Victor Abreu se juntou ao baterista Pedro ;Diux; Ronan e ao tecladista Ronélio Lustoza há 10 anos para formar a Procurados Blues Band. Os três estudaram música e cresceram no Núcleo Bandeirante, mas não vivem de tocar. Cada um tem uma profissão, e o blues entra para satisfazer a necessidade criativa. A banda surgiu por influência do blues clássico, mas o trio procura sempre fazer uma releitura do repertório e, por vezes, pode acabar com algo de Freddy King ou Eric Clapton em ritmo de groove. Para Abreu, esse é um gênero que sempre encontra abrigo. ;A música é muito cíclica, e Brasília está tendo uma galera diferente, que curte uma música melhor. O blues tem muito essa interação da plateia com o público e uma das coisas que faz se apaixonar é a vitalidade que essa música tem: você vê o cara suando no palco, fazendo careta, fazendo um brinde;, acredita.

Abreu lembra que o blues é música de periferia e a configuração de Brasília ajuda nesse detalhe. A lei do silêncio acabou com a música nos bares e empurrou a música ao vivo para outros espaços. ;Tá difícil tocar no Plano e o pessoal está saindo do setor central da cidade. A cidade é dinâmica e acabou entendendo que o lugar da música é fora do Plano Piloto;, repara.

Em 8 de junho, Marcius Cabral fazia sua apresentação no projeto Talkin Blues quando percebeu dois colegas de profissão em meio ao público e não conteve o comentário: ;Senhoras e senhores, nesta noite estão presentes na plateia dois extremos do blues brasiliense: Mr. Bartô Blues e Walter Muganga!”. Bartô Blues está na estrada há 27 anos, 24 só de blues. Aos 32 anos, Walter Muganga descobriu o gênero há pouco menos de uma década.

Ambos, porém, gozam do mesmo reconhecimento não só de Cabral, mas de toda a cena blueseira do DF. ;Eu me sinto lisonjeado quando chego a algum lugar, tem alguém tocando e a pessoa me trata bem, me chama pra tocar. ;O novo bluesman;, eles dizem;, alegra-se Muganga, que vive dando canjas nos shows de Bartô. ;O blues, por ser uma cena que está se reafirmando, tem uma galera que se juntou e é muito unida, e tem a juventude fazendo parte da cena;, analisa o guitarrista, que começou a tocar em 2010, incentivado pelo amigo Cleiber Mota, que, ironicamente, é vocalista de uma banda de hardcore, a Desonra.

Cleiber, conhecedor aplicado do gênero, lhe apresentou vários discos e artistas. ;Ele me mostrou o que era blues, uma coisa que eu já conhecia e gostava, mas não sabia o que era;, lembra Muganga, que passou a pesquisar e fundou, em parceria com o amigo, a banda Casa Velha, da qual foi guitarrista até 2013.

A iniciação de Bartô no gênero também se deu por meio de amigos. Durante uma viagem à Chapada dos Veadeiros para realizar um show, ele ouviu no rádio do carro uma fita de Celso Blues Boy, ícone maior do blues brasileiro. ;Depois desse dia, fiquei meio perturbado com blues, a forma dele (Celso Blues Boy) de cantar e tocar;, lembra o músico.

Se de uma geração a outra do blues, as histórias e alegrias são parecidas, as agruras também são as mesmas. Os músicos notam uma expansão da cena na cidade e reconhecem, com orgulho, sua contribuição para formar público e abrir portas. Mas todos esbarram nas mesmas dificuldades: falta de infraestrutura para tocar com banda, o que obriga a maioria deles a migrar para formatos solo, e a dificuldade em conseguir bons cachês. Por mais moderno e popular que o blues esteja se tornando, certas tradições (negativas) parecem nunca acabar.

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