Diversão e Arte

Um direcionamento seletivo é a proposta do site musical Escuta que é bom

O site Escuta que é bom descobre e indica a produção nova e de qualidade para orientar o ouvinte no caos da informação virtual

Devana Babu*
postado em 02/07/2019 07:04

A ceilandense Realleza integra a seleção do site

O site Escuta que é bom surgiu no cenário editorial do Distrito Federal para mostrar ao mundo que não é só no eixo Rio-São Paulo-Paraná que se processam as grandes novidades musicais. Dando aquela força para a produção fonográfica brasiliense, o veículo fala sobre a produção da música popular contemporânea de todo o Brasil, e reúne um time de colaboradores de todo o território nacional e de além-mar, entre jornalistas, resenhistas, fotógrafos e produtores audiovisuais. Um dos conteúdos de destaque é o podcast, no qual colaboradores e convidados batem um papo descontraído sobre os novos lançamentos e acontecimentos.

A premissa geral do site é muito simples: descobrir e indicar música nova que não esteja necessariamente nas mídias tradicionais. ;Em um ano de trabalho, a gente achou que es tava indicando coisas, mas, na verdade, estávamos descobrindo e indicando música nova;, pondera Felipe Qualquer, idealizador do site. Foi com esse espírito que a equipe do Escuta que é bom promoveu entre seus seguidores um desafio musical, no qual o público indicava artistas a serem notados e, ao final do processo, ganhariam um CD com alguns destes artistas.
Escuta que é bom: divulgando pérolas locais
A partir das indicações, foi realizado um processo curatorial que selecionou 10 faixas de 10 artistas brasilienses, de diferentes estilos, escolhidos pelo destaque que alcançaram na cena, qualidade poética e dos arranjos. Assim, surgiu o primeiro volume do CD Escuta que é bom ; Novxs Candangxs, com faixas de Moara, Puro Suco, Toro, Joe Silhueta, Muntchako, Letícia Fialho, O Plantae, Pxrtela, Realleza e Elefante.

O que une de alguma forma artistas de estilos tão diferentes quanto MPB, rock, rap, trap, forró ou reggae é a pegada abrasileirada, a marginalidade em relação aos polos culturais hegemônicos e o perfil de distribuição.;É uma cena que tem se chamado de médio stream ou low stream. Não é underground: é um circuito. Muntchako já foi para Europa, Joe Silhueta rodou o Brasil ano passado, outros rodaram pela internet sem precisar sair daqui;, teoriza.

Por enquanto, não adianta procurar a coletânea na internet. Apesar de ser um site antenado com as novas tendências de consumo e alinhado ao mundo virtual, desta vez a Escuta resolveu investir na mídia física. ;Queríamos valorizar a experiência do álbum, em contraponto à cultura do single e do ;modo aleatório;. As pessoas não tão dando o devido valor ao álbum;, diz Qualquer, e explica que a sequência de músicas do álbum foi pensada, como num disco conceitual. ;Tem uma cadência entre elas, um flow. Começa com uma MPB, para ser o cartão de visita da ideia. Depois vem o rap, que é um ritmo em ascensão, dose dupla de rock, para dividir. Tem um flow; descreve. Outra precupação de Qualquer foi aproveitar os últimos suspiros do CD como mídia. ;O CD será o novo vinil;, preconiza.

A coletânea teve tiragem de 3 mil cópias e será distribuída para leitores de todo o Brasil que participaram do desafio. Pode ser adquirida com os artistas que participaram da coletânea ou nos eventos do coletivo. Para você ficar curioso e não ficar chupando dedo, preparamos um faixa a faixa apresentando cada artista da coletânea. Todos estão disponíveis, de forma avulsa, nas plataformas digitais. Escuta, que é bom!

*Estagiário sob a supervisão de Severino Francisco

link: escutaquebom.com

Luz Vermelha (Toro)
Abrindo a sessão que representa o rock brasiliense na coletânea, a banda Toro chega com um stoner rock regado a grunge e garageira, com toda a descarga de guitarras, baixo potente e bateria furiosa que isso pede. A banda formada em 2016 lançou seu primeiro EP em 2017 e, um pouco mais tarde, o primeiro videoclipe, para a faixa Luz Vermelha, dirigido por Thaís Mallon. A letra fala sobre a dor de se submeter ao injustificável. O refrão, segundo a banda, é uma ironia, não um conselho:

Tenho que me conformar
E engolir o que sobra
Salário (O Plantae)
Ainda no universo misto de ritmos, a banda O Plantae chega com grooves marcantes, raps poéticos e levadas de rock;n roll com pitadas de jazz. Salário, single lançado no primeiro dia de 2019, traz uma ácida crítica política.
Corpo e Canção (Letícia Fialho)
Música do álbum Maravilha Marginal, segundo disco da cantora e compositora, de setembro de 2018, trazendo mais MPB repleta de sonoridades regionais ao disco.

Ícaro (Joe silhueta)
Dando continuidade à roqueiragem, a coletânea traz um representante da nova safra psicodélica brasiliense, associada ao movimento Grogue. Ícaro, lançado em junho de 2018, é o primeiro single do álbum Trilhas do sol, lançado em setembro de 2018, e tem clipe assinado (mais uma vez ela) por Thaís Mallon. A letra faz jus ao mito grego de Ícaro e, por tabela, ao clima solar de Trilhas do Sol:

Aceito o risco de viver, meu bemMesmo que um dia eu morra jovem

Peito aberto (Moara)
Primeiro single da cantora Moara, lançado em 10 de abril de 2018, e também seu primeiro videoclipe, dirigido por Thaís Mallon. A letra, feminista, fala sobre ter forças para enfrentar o assédio. O coro da música conta com um grande elenco de mulheres incríveis da cidade: Áurea Liz, Beatriz Águida, Carmen Manfredini, Daniela Vieira, Fernanda Fontoura, Gelly Saigg, Isabella Pina, Lai, Raquel Reis, Taís Cardoso, Tatiana Nascimento e Vera Veronika.

;É a música que dá nome ao disco e fala muito sobre mim, minha perspectiva sobre o mundo, minha vivência enquanto processo de cura e entendimento. Uma história pessoal, para além de ser um hino de qualquer coisa. É quem eu sou; conta Moara.

Meu corpo é meu
De peito aberto
Em meu nome
E por mim
Lua da Night (Realleza)
Primeiro single da carreira solo da ceilandense Realleza, um rap que fala sobre se sentir bem sendo quem você é, especialmente no ambiente às vezes hostil e cheio de julgamentos das baladas. ;As pessoas podem ser quem elas são, e devem ser respeitadas na pista. Independentemente de ter roupa curta ou dançar até o chão. Quando a gente vai pra balada, a gente não tá indo lá pra ser rotulada. A gente quer se divertir que ser feliz, porque faz os corres durante o fim de semana e quer arrasar na pista;, explica Realleza.

Golpe (Muntchako)
Primeiro single do primeiro ábum da banda Muntchako, homônimo, que sai da ;pesação de lombra; dos rocks chapados anteriores para a lombra pesada dos ritmos latinos e, ao mesmo tempo, universais da Muntchako. Golpe, por exemplo, é um é um kudoro com cores latinas e outras tantas referências, além de comentar o atual momento político do país. A letra, bastante aguda, está escrita no clipe em forma de videokê e têm os seguintes versos:

Fon, forofôn, fon, forofôn
Póropopam, pem, pam, pom, pim, pom.
Vazio (Pxrtela)
Single do Ep Veneno, lançado

em 17 de março de 2019.

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