João Paulo Zanatto*
postado em 03/07/2019 07:00
Nem só de processos é a vida dos advogados. Por exemplo, Luis Carlos Alcoforado, advogado, é também escritor e poeta. Dois dos mais recentes livros que acaba de lançar, Incompletude e Relógio do tempo, se juntam às outras cinco obras na carreira de Alcoforado, que também mergulha na dramaturgia, com peças como Escombros, Dona Gina e A última estação.
Espontâneos, os textos do poeta não passam por retoques, são viscerais. ;Eles vêm em um só fôlego, são ideias que aparecem em momentos que me dominam completamente;, revela ele, que registra versos no celular, em guardanapos ou qualquer folha em branco.
;A poesia é a senhora de minhas inflexões com o mundo, com a intimidade das incompreensões que alimento na conjugação do racional com o emocional;, relata Alcoforado na orelha do livro Relógio do tempo.
;Minha estrutura sentimental é voltada à questão do tempo, ele é um diabólico personagem das vidas humanas, é um mefisto;, conta o advogado. Ele casa o Relógio do tempo com Incompletude, pois o tempo deixa uma sensação de falta de completar a obra. ;O tempo é um senhor muito extravagante, ele não dialoga com você. Ele passa e você fica. E a incompletude é que tudo na vida é incompleto no homem;.
Sentimento
A paixão pela poesia e literatura vem desde a adolescência, e o ajudou a se construir como o ser poético que hoje é. ;Existe um lado poeta em toda pessoa, um sentimento de construção afetiva, sentimental;, aponta. Para o advogado, o mundo jurídico está muito árido, falta poesia, literatura, artes. ;O direito está muito pragmático. As escolas estão formando cada vez mais pessoas que não têm nenhuma dedicação na literatura, na poesia. Existe um excesso de pragmatismo, repito, na formação desses jovens e isso se projeta na vida profissional deles no futuro. Veem a literatura, a poesia, como adversários, como coisas chatas. Está aí a dificuldade de escrever e falar bem;, finaliza.
Os versos de Alcoforado também transformaram-se em música. Bossa e Sonho, poesias do livro Cenário de palavras, lançado em 2005, inspiraram as composições do maestro Ricardo Calderoni e, sob a regência do maestro Claudio Cohen, a Orquestra Sinfônica de Brasília executou as duas obras. Corpo de criança, de Incompletude, é outra que se converteu em música pelas mãos de Calderoni.
* Estagiário sob a supervisão de José Carlos Vieira