Diversão e Arte

Dramaturgia bem brasileira

Palco Giratório, evento nacional promovido pelo Sesc, ocupa espaços da cidade com peças das mais variadas vertentes. Melhor: de graça!

postado em 03/07/2019 04:08
A trupe brasiliense Antônia apresenta o espetáculo Voa, com toda a linguagem voltada aos bebês

No centro do palco, sotaques de norte a sul. Desde 1998, o projeto Palco Giratório, festival itinerante de artes cênicas realizado pelo Sesc, percorre o Brasil difundindo uma variedade de espetáculos e contribuindo para a formação de público e de profissionais. ;Fala do Brasil para o Brasil e é feito pelo Brasil;, define Leonardo Braga, um dos curadores do projeto.

Neste mês, o evento chega a Brasília para uma temporada de 26 dias de apresentações gratuitas ; serão mais de 40 atrações. São espetáculos de dança, teatro, circo, intervenção urbana, performance, além de oficinas, que ocupam diferentes equipamentos culturais da cidade e áreas públicas até o dia 28.

De acordo com Braga, fruição e ações formativas são duas tônicas deste ano, que também destaca a presença de espetáculos gerados dentro do Sesc e de propostas que não configuram necessariamente um espetáculo, como o Femi-Clown Cabaré-Show, um encontro de mulheres palhaças e suas criações.

Entre as novidades e destaques desta edição, Braga pontua a apresentação do coletivo brasiliense Antônia: Voa. Inspirado na criação de Rubem Alves, A menina e o pássaro, o espetáculo é feito para os bebês. A dramaturgia percorre o caminho das sutilezas e dos sentidos, tratando da cumplicidade e de saudades, mas, sobretudo, da liberdade. ;Todo o nosso processo criativo é pensado para o pequeno público. Um público delicado, sensível e o mais sincero do mundo. Fazer arte para eles é ter muita sensibilidade e muito cuidado. Nossa arte é mais expansiva e transversal para ter mais chances de afetá-los;, comenta o músico Euler Oliveira, sonoplasta e coordenador técnico do grupo.

Pela primeira vez, o coletivo participa do projeto. Depois de percorrer Fortaleza, Rio de Janeiro, Macapá e Porto Alegre, eles retornam à cidade de origem com um amplo material de pesquisa. ;Querendo ou não, vemos como o teatro funciona em cada cidade, como é a produção artística para bebês. Existem diferenças brutais. Percebo que conforme as condições financeiras e socioculturais de cada local, varia o fazer artístico;, avalia. Além disso, Oliveira destaca o incentivo, sobretudo no caso deles, que trabalham com a formação da primeira plateia. ;Acreditamos que o trabalho que fazemos é transformador e produz reflexões;, complementa.

De Belo Horizonte, o grupo Teatro Público desembarca em Ceilândia com personagens mascarados, vindos do bairro de Lagoinha, para causar uma fissura no cotidiano da região. ;É uma intervenção cênica. Os personagens vivenciam aquele dia a dia, convivem com as pessoas. Confundimos as noções de espectador e ator, porque os espectadores participam da cena, é um jogo teatral aberto;, explica Larissa Albertti, atriz e uma das fundadoras do coletivo.

Em Naquele bairro encantado ; Episódio I: estranhos visitantes, a ideia é levar o teatro para um público que não está acostumado com o palco. É uma peça para ser vivida mais do que assistida. ;A proposta surgiu em um bairro marginalizado de Belo Horizonte e sempre escolhemos locais com a mesma característica, que sejam periféricos. Contudo, que tenham história e que sejam importantes para a construção da cidade;, conta Albertti.








Múltiplas linguagens
Voltadas à preparação dos profissionais, as oficinas dobraram de número nesta edição e ocorrem no Teatro Garagem, no Sesc Gama e Sesc Taguatinga Norte. O objetivo é desenvolver as capacidades físico-perceptivas, alinhamento, força, concentração, definição e afinação dos sentidos. ;Com o patrocínio da Embaixada da Áustria, temos a participação de um profissional da Alemanha que dará uma oficina de dança contemporânea no Gama e, depois, fará uma apresentação;, conta o curador.

Ao todo, o Palco Giratório conta com 642 apresentações e 1.382 horas de oficinas, realizadas por 20 grupos artísticos, alcançando 138 cidades brasileiras. Os artistas e grupos participantes são selecionados por um time de curadores formado por 33 profissionais do Sesc de todo o Brasil. ;Uma rede conectada ao que há de mais pujante na cultura nacional;, define Leonardo Braga.

A partir de critérios como diversidade de linguagem, regiões do país, faixa etária e trajetória dos artistas, a curadoria mapeia questões e tendências latentes no contexto atual das artes cênicas brasileiras. No circuito do DF, foram convidados ainda os vencedores do Prêmio Sesc do Teatro Candango em 2018.

;Queremos fortalecer a cultura como um todo, por isso a multiplicidade de linguagem. O teatro, as ações voltadas para a dança contemporânea, o circo, a performance, o teatro para bebês. É cada vez mais necessário dar essas oportunidades aos artistas independentes. Ser artista independente no Brasil é desafiador;, avalia o curador.




Espalhados pela cidade
Companhias de arte de Pernambuco, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Distrito Federal e Minas Gerais, além de cinco coletivos do Ceará, apresentam-se nos palcos tradicionais do Sesc-DF: Teatro Garagem, na 913 Sul; Teatro Newton Rossi, em Ceilândia; Teatro Paulo Gracindo, no Gama; Teatro Ary Barroso, na 504 Sul e no Teatro Paulo Autran, em Taguatinga Norte. A Feira da Torre, o Mercado Sul de Taguatinga e a Feira de Ceilândia também integram o circuito.



O projeto nacional conta com 642 apresentações e 1.382 horas de oficinas, realizadas por 20 grupos artísticos, alcançando 138 cidades brasileiras

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