Diversão e Arte

A violência policial, mas vista agora sob outro ângulo

Agência Estado
postado em 03/07/2019 07:10
Blitz não é sobre a banda de rock, mas sobre uma batida policial mesmo. O filme, dirigido por Rene Brasil e escrito por Bosco Brasil (dramaturgo, autor de Novas Diretrizes para Tempos de Paz), olha para o clima de violência na sociedade contemporânea por um ângulo raro, o de um policial. O personagem principal é o cabo Rosinha (Rui Ricardo Diaz, o Lula de Lula - O Filho do Brasil), policial que participa de uma batida em um colégio situado num bairro de classe média baixa em São Paulo. As cenas iniciais são muito boas, usando tempos longos. A câmera segue uma minuciosa revista feita nos alunos por uma guarnição policial. A atitude dos policiais é ameaçadora. Mochilas e bolsos são abertos. Em busca de quê? Drogas, por certo. De repente, as cenas, quase estáticas, se tumultuam, há uma agitação e um corte. A violência não aparece de forma explícita. Mas, na história que segue, ficamos sabendo o que houve no colégio e como isso afeta a vida do cabo. Rosinha vive com a mulher, Heloísa (Georgina Castro) numa casa modesta, porém bem montada. O bairro é na periferia, mas não deixa de parecer uma cidade do interior, aquelas em que vizinhos se conhecem e se cumprimentam. O policial é um membro proeminente da comunidade. Amedrontada pela criminalidade, como toda a cidade (todo o País), a vizinhança tem em Rosinha uma espécie de herói local, um paladino, um defensor dos fracos e dos oprimidos. Heloísa ama o marido, embora o casal tenha uma cota de drama em sua história, revivida em flashback. Tudo muda para Rosinha após o episódio da batida no colégio. A comunidade passa a vê-lo com desconfiança e a mulher pensa em abandoná-lo. O policial entra em crise. O filme é dirigido de maneira correta, porém sem vibração. O ângulo pelo qual se observa a violência urbana é original. O personagem principal ganha densidade psicológica, é contraditório e complexo. São pontos positivos. Nenhuma dessas qualidades é explorada a fundo. Mas dessa originalidade vem um ganho de compreensão para o espectador. Estamos acostumados a ver na ficção brasileira dois polos muito nítidos na questão policial: as vítimas e seus carrascos. Blitz, com o personagem do cabo Rosinha, introduz nova camada nessa dualidade simples. Fala de um homem pouco vocacionado para a violência, que entra na corporação como meio de vida e vê-se arrastado por circunstâncias que não pode ou não consegue controlar. Num momento em que se busca sempre a solução mais simples (e portanto errada) para problemas complexos, essa diversidade de ponto de vista é muito bem-vinda, em que pesem as limitações de direção e dramaturgia. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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