Diversão e Arte

Filme turco com três horas de duração fala sobre relações e família

Longa é dirigido pelo turco Nuri Bildge Ceylan e estreia nesta quinta

Ricardo Daehn
postado em 04/07/2019 06:30

Longa é dirigido pelo turco Nuri Bildge Ceylan e estreia nesta quinta

Apequenado é como fica, paulatinamente, o protagonista do oitavo longa-metragem criado pelo cineasta turco Nuri Bilge Ceylan, numa das cinco estreias de cinema nas salas de Brasília. Com o mundo a ser conquistado, e encaixado à satisfação de seus anseios literatos, Sinai (Dogu Demirkol) quer publicar o primeiro livro, engendrado no dia a dia da universidade. Jovem, é natural que Sinai enfrente, conteste e rechace, em parte, laços ancestrais. E o bom filho à casa retorna, mas cheio de reservas no trato com o pai, Idris (o marcante Murat Cemcir) e com a mãe Asuman (Bennu Yildirimlar), a quem ama com mais espontaneidade.

Ressentimentos em família deram ao diretor, em 2014, a Palma de Ouro no Festival de Cannes, por Sono de inverno. Com a carreira desdobrada em funções que vão de engenheiro até os nichos de fotógrafo e montador (em cinema), Ceylan dá as caras em Cannes, desde 1995. Em 2003, faturou o Grande Prêmio e, em 2008, veio a consagração como melhor diretor, por 3 macacos, que expunha fissuras em família.

Uma coprodução entre sete países garantiu o nascimento do drama A árvore dos frutos selvagens, que traz mais de três horas de duração. A edição em nada é econômica, mas nunca deixa de lado a precisão. Abusando das cores da natureza ; vale reforçar que a ação se passa em ambiente rural ;, o longa ostenta imagens deslumbrantes, especialmente as situadas em externas. Particularmente, as imagens do desencanto com a antiga pretendente Hatice (Hazar Ergüçlü) são espetaculares.

Neste novo filme de Ceylan, há a comprovação de que o ;fruto não cai longe da árvore;. Antes do final, que dá margem a duas leituras, carregada de ironia máxima, o filme se apoia no conflito entre o protagonista e o pai dele, visto como um pária, ainda que, professor, apegado a livros, mas, mais ainda, a danosas apostas voltadas aos jogos de azar. Menosprezo e desavenças povoam a relação, mesmo com a investida profissional do filho no mundo das letras.

As regras são contestadas no seu discurso e pesa a dúvida: quem quer ler hoje em dia? Numa visão pessimista de futuro, um imã (condutor espiritual muçulmano) comparece em cena e descreve a imagem negativa ao cubo: teria visto um celular, de última geração, jogado contra vítima, num ritual de apedrejamento.

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