Diversão e Arte

A Brasília que "habla" espanhol

Eventos e festas influenciados pela conexão da cultura latino-americana ganham espaço na capital federal

postado em 09/07/2019 04:08
Com integrantes brasileiros e cubanos, Sabor de Cuba representa a música do país da América Central



Em 1968, Gilberto Gil e José Carlos Capinan escreveram Soy loco por ti, América, que foi gravada por Caetano Veloso e regravada anos depois por Ivete Sangalo. A canção logo mostrou o potencial para a união das línguas e das culturas latino-americanas. Apesar de a música ter sido escrita e lançada há 51 anos, o Brasil levou muito mais tempo para abraçar essa conexão. Apenas nos últimos cinco anos o país assumiu de vez sua latinidade, consumindo diversos produtos em espanhol, desde músicas, agora influenciadas pelo reggaeton e outros gêneros latinos e o consumo dos próprios artistas internacionais, até as séries televisivas e filmes na língua dos compatriotas.

Em Brasília, a cultura latino-americana se tornou parte da programação da cidade, que tem cada vez mais festas e eventos influenciados e dedicados à temática. ;Quando cheguei a Brasília, não tinha uma banda de salsa, uma cena da salsa. Comecei a dar aula, montei o Sabor de Cuba, o dançarino Pedro Mariano, do Corazón Salsero, também movimentou, até chegar a essa fúria da sala. Hoje há muitas pessoas que dançam salsa, cumbia e outros ritmos latinos. Acho que o problema antes também era a falta de divulgação;, analisa o cubano Félix Valoy Jr, que está à frente da banda brasiliense Sabor de Cuba criada em 2014.

Formado por brasileiros e cubanos, o grupo se caracteriza por trabalhar o universo musical de Cuba, passando por ritmos como salsa, rumba e montuno, no palco. ;Quando criamos a banda, a gente passou a conhecer grupos e pessoas aqui em Brasília que faziam parte desse movimento latino;, define Ricardo Vieira, que toca na banda percussão, contrabaixo e faz parte do coro. O Sabor de Cuba se apresenta em 21 de julho na Vila Planalto e no dia 26 no Feitiço Mineiro, na Asa Norte.



Outra banda que integra e movimenta esse cenário latino local é o Grupo Merceditas. Fundado em 2016, o quarteto é formado por Eleni Fagundes (voz e direção musical), Ednea Fagundes (voz e percussão), Eliane Timm (voz e percussão) e Eulália Augusta (voz e violão). O principal norte do grupo é o repertório da argentina Mercedes Sosa. ;Sou gaúcha e a música do Rio Grande do Sul é bastante influenciada pela música argentina. Vim para Brasília com essa herança. Aqui encontrei minhas companheiras e resolvemos formar esse grupo para homenagear a Mercedes Sosa e as canções da região andina;, revela Eleni Fagundes.

Neste mês, o grupo apresenta o show Soy loco por ti, América, nos dias 27 e 28, no Espaço Cultural Renato Russo, no Teatro Galpão. A apresentação é uma coletânea do repertório abordado pela banda nos quase três anos de carreira em Brasília e, que, se amplia em breve quando o grupo fará show fora no Festival Internacional de Corais, em Belo Horizonte. Para o quarteto, a boa fase mostra o avanço da latinidade em Brasília. ;Parece-me que havia um espaço que estava vazio em Brasília. Porque você vê muito nos bares o rock, a MPB, o que a gente também gosta muito e acha valioso. Mas, há um tempo, não havia um grupo ou espaço para esse tipo de música. Nós encontramos uma receptividade muito grande do público;, completa a vocalista.

Eventos temáticos

A cultura da América Latina é o tema de dois eventos que desembarcam na capital: Na Praia e Virada Latina do Cerrado. Iniciado em 28 de junho, o projeto Na Praia escolheu o México como inspiração para a quinta edição. O país está nos detalhes da cenografia, desde as pinturas até as grandes instalações que têm símbolos característicos; no nome de algumas festas, como a Dia de Los Muertos, que terá apresentação de Anitta e Xand Avião no próximo sábado; na gastronomia, aparecendo no restaurante exclusivo Malagueta, da chef Renata Carvalho, e no Taco Pep, que faz parte da vila gastronômica do espaço; e na área kids, com a Vila do Chaves.



Os países latinos em geral são a influência da primeira edição da Virada Latina do Cerrado, promovida pela DJ e produtora Pequi. O projeto é uma espécie de braço da iniciativa Pequila: Artes latinas do Cerrado, que, em cinco anos, teve 30 edições. ;A Pequila é um evento que procura mostrar as infinitas conexões culturais e musicais entre o Brasil e os demais países da América Latina;, explica Pequi.

A Virada Latina do Cerrado será em 20 de julho, das 11h às 6h, no Setor Bancário Sul, e vai unir gastronomia, música, artesanato e dança. A iniciativa é uma forma de celebrar a cultura latino-americana. ;Uma pesquisa do Instituto de Relações Internacionais da USP aponta que apenas 4% dos brasileiros se reconhecem como latino-americanos. Porém, por meio da arte, o Brasil tem firmado pontos de contato com a cultura dos países vizinhos, quer sejam na música, nas artes visuais, design ou gastronomia;, revela. E ainda completa: ;Desejamos com este evento mostrar o lugar ocupado pelo cerrado no contexto da América Latina, que abriga as nascentes das três maiores bacias hidrográficas da América do Sul;, defende.



Em 19 horas de programação, o evento é dividido em três partes. Durante o dia, haverá a Feira Latina do Cerrado. Multicultural com acesso gratuito. A segunda parte é o happy hour Horas felizes com aula de danças latinas, das 19h às 22h. A terceira é com a nova edição da festa Pequila, das 22h às 6h, no Outro Calaf, com sons de Pequi, Pablo Peligro e Senhor. As duas partes têm classificação indicativa 18 anos, enquanto a feira é livre.

;A receptividade do público às temáticas latinas em Brasília é incrível, a vejo tanto na Pequila quanto em outros projetos pela cidade. Vejo essa virada como um desdobramento da Pequila. Representa uma ocasião de aprofundar as temáticas que a festa já vem abordando;, complementa Pequi.



;Desejamos com este evento mostrar o lugar ocupado pelo cerrado no contexto da América Latina
Pequi, DJ e produtora do evento Virada Cultural Latina



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