Nahima Maciel
postado em 18/07/2019 06:30
Os espetáculos da PianOrquestra nunca são estáticos. No palco, cinco pessoas manipulam todas as partes de um piano para dele extrair uma multiplicidade assustadora de sonoridades. Classicamente conhecido como de percussão, o piano se torna também um instrumento de cordas nas mãos do grupo comandado por Claudio Dauelsberg, que se apresenta amanhã e sábado no Clube do Choro com nova formação e repertório renovado.
Dessa vez, a PianOrquestra trouxe para o espetáculo uma veia conceitual que tem o tempo como protagonista. Timeline, Daueslberg garante, é uma mistura de música com elementos cênicos que refletem sobre uma ideia. ;Timeline questiona o tempo, esse tempo líquido, elástico e flexível que vivemos hoje;, avisa. ;Começa envolto em linhas e cordas do piano e vai se desenvolvendo. É um espetáculo com começo, meio e fim e a questão da música está bem mais amarrada com a cenografia e a dança. ; Com linhas, os cinco músicos manipulam as cordas do piano, que acabam por soar como uma rabeca. É o sinal para marcar o início do espetáculo. Daí em diante, haverá mil maneiras nada convencionais de tocar o instrumento, incluindo uns soquinhos na madeira e manipulação dos pedais com as mãos.
Se, da última vez que se apresentou em Brasília, no ano passado, a PianOrquestra trouxe um repertório com Milton Nascimento, Fernando Brant e Claudio Santoro, dessa vez incorporou Queen, Michael Jackson e Toninho Horta para fazerem par com clássicos como Villa-Lobos. Bohemian Rhapsody é uma das músicas a serem executadas. Foi uma maneira, segundo Daueslberg, de se manter conectado com o público, já que a cinebiografia do Queen bateu recordes de público no ano passado. ;É um repertório bastante diferente do que levamos da última vez e foi um trabalho de muita pesquisa;, garante o diretor.
A PianOrquestra precisa sempre ter cinco pessoas na formação e todas trabalham sobre o piano ao mesmo tempo. Vários tipos de objetos são utilizados para produzir sons tanto entre as 220 cordas quanto na própria caixa de madeira que reveste o instrumento. As 88 teclas também são utilizadas, mas estão longe de serem protagonistas. Quando os músicos começam a trabalhar, a cena transforma-se num verdadeiro balé e a coreografia precisa e bem pensada é um dos segredos para a fluência do espetáculo. ;E é fundamental que os performers tenham alto nível, sejam virtuoses mesmo;, avisa Daueslberg.
Desde o ano passado, a pianista Amanda Kohn e a instrumentista Nathália Martins passaram a integrar o grupo no lugar de Marina Spoladore e Priscilla Azevedo, que continuam a participar como eventuais convidadas. Criado há 10 anos, o grupo se fundamenta em muita pesquisa antes de montar um espetáculo. ;Quando a gente começou, não sabíamos se estávamos loucos ou se estávamos fazendo algo diferente porque não tinha base na qual a gente pudesse ter referências. Quando ganhamos o primeiro prêmio Itaú Rumos, começamos a acreditar mais;, conta Daueslberg, que é mestre em piano e diretor artístico da PianOrquestra. ;É um trabalho inovador com uma marca bem brasileira.;
O grupo mistura técnicas do piano preparado inventado por John Cage, no qual objetos diversos são inseridos no instrumento em busca de novas sonoridades, e do piano expandido. ;Quando Cage começou, ele estava querendo fazer música contemporânea, tonal, serial, de difícil comunicação com o público. E hoje, a gente procura, com a técnica, justamente a comunicação com o público, para fazer disso uma coreografia mesmo;, garante Claudio Daueslberg.
PianOrquestra ; Timeline
Diretor Artístico: Claudio Dauelsberg. Com Claudio Dauelsberg, Amanda Kohn, Nathália Martins, Verónica Fernandes e Mako. Amanhã e sábado, às 21h, no Clube do Choro de Brasília (Setor de Divulgação Cultural, Bloco G). Ingressos: R$ 40 e R$ 20 (meia)