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Sob os holofotes

Diretora e roteirista Ava DuVernay volta a chamar atenção com a minissérie Olhos que condenam. Cineasta tem quebrado barreiras, com indicações a Oscar e Emmy e criação de uma produtora de filmes independentes em Los Angeles

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 18/07/2019 04:07
Além de trazer temas importantes para a comunidade negra, Ava DuVernay coloca a mão na massa com uma produtora e distribuidora de filmes independentes, a Array

A norte-americana Ava DuVernay apareceu nos tapetes vermelhos, pela primeira vez, há cinco anos, quando o longa-metragem dirigido por ela, Selma: Uma luta pela igualdade, foi um dos indicados ao Oscar de melhor filme. Naquele momento, a cineasta se tornou a primeira diretora negra a ter uma fita nomeada à premiação. Ela quebrou outra barreira com a mesma produção também ao ser indicada ao Globo de Ouro em categoria semelhante. Aclamado pela crítica, Selma retrata a emblemática marcha de Selma a Montgomery, no Alabama, em 1965, pela garantia de direitos iguais dos negros.

Em 2016, Ava voltou ao destaque com A 13; emenda, que, no ano seguinte, foi indicado ao Oscar de melhor documentário. Apesar de não ter levado a premiação, a produção venceu o inglês Bafta Awards e jogou luz em uma questão pouco discutida nos EUA: o encarceramento em massa que, segundo retrata a produção, é uma alternativa de manter trabalho braçal obrigatório após a abolição da escravidão. Daí o título do filme, referência à 13; emenda da Constituição dos EUA, que destaca: trabalhos forçados só podem ser usados como punição de um réu que cometeu um crime e foi condenado por ele.


Neste ano, a norte-americana apareceu mais uma vez em destaque. Agora, pela minissérie feita em parceria com a Netflix, Olhos que condenam. ;Ava Duvernay vem construindo uma carreira bastante sólida e diversificada há mais de uma década, tanto como diretora e como produtora. Desde 2012, quando Middle of nowhere ganhou prêmio de melhor filme em Sundance (Duvernay a primeira cineasta afroamericana a ganhar o prêmio) e depois foi para o Netflix, ela assegurou seu lugar no mainstream da indústria cinematográfica estadunidense;, avalia Janaína Oliveira, pesquisadora, curadora de cinema e coordenadora do Fórum Itinerante de Cinema Negro (Ficine).

Olhos que condenam

A minissérie da Netflix é mais um trabalho ligado às questões da população negra e parece ser uma sequência dos dois projetos mais aclamados da diretora. Ava entrega uma ficção documental sobre a injusta condenação de cinco jovens negros por um estupro ocorrido em abril de 1989 no Central Park, Nova York. A escolha do tema foi justificada pela cineasta no especial When they see us with Oprah Winfrey: ;O objetivo era criar algo que doesse o estômago, sem ser comida porcaria. Era criar um catalisador para uma conversa;.

Catalisador que Ava conseguiu criar. Série mais vista da história da Netflix, com audiência de 23 milhões de usuários em duas semanas de disponibilização no catálogo da plataforma e com 16 indicações ao Emmy Awards (entre elas, duas para Ava nas categorias melhor roteiro e melhor direção), Olhos que condenam abriu o debate e deu visibilidade ao caso. ;O objetivo era criar algo que realmente movesse as pessoas e as fizessem avaliar o que elas pensam e como elas se comportam no mundo;, completou Ava DuVernay à Oprah Winfrey.

A inspiração para o filme veio de um dos próprios personagens. Em 2015, Raymond Santana, um dos cinco, enviou uma mensagem sugerindo um longa-metragem sobre a história logo após assistir a Selma. ;Não foi uma ideia que eu lancei para eles. Foi uma ideia que eles lançaram para mim;, afirmou ao Hollywood Reporter.



Trajetória

Ava DuVernay se tornou diretora em 2008 com o documentário This is the life, que retrata uma história do movimento artístico Good life cafe em Los Angeles. O primeiro longa-metragem é de 2010, I will follow, produção sobre uma mulher em luto que conta com 12 visitantes que a ajudam a seguir em frente. Até fazer Selma, se dividiu entre séries e filmes documentais, curtas e longas-metragens. Também acumulou cargos de roteirista, produtora e atuações variadas em equipes de produções de audiovisuais em geral.

Até Olhos que condenam, esteve envolvida em dois grandes projetos: o videoclipe de Family feud dos cantores Jay-Z e Beyoncé, e o filme da Disney Uma dobra no tempo. Parte do sucesso de Ava DuVernay é atribuído à experiência da cineasta antes do cinema.

Publicitária, ela entendeu desde o início as estruturas de poder dentro de Hollywood. ;Eu sempre costumava dizer que não ia bater em portas fechadas. Iria fazer a minha própria porta;, explicou na entrevista publicada no Hollywood Reporter.

Desde 2010, Ava DuVernay está à frente da Array. A iniciativa é uma distribuidora e produtora de filmes independentes, que tem como objetivo amplificar e dar espaço às mulheres e às pessoas de cor. A empresa inclui a produtora Array Filmworks, organização sem fins lucrativos Array Alliance e o braço de distribuição independente Array Releasing.

As três organizações juntas funcionam como uma miniversão dos estúdios de Hollywood, formada em sua maioria por mulheres e pessoas não brancas. Ao todo, já foram produzidos 20 filmes e há 50 pessoas trabalhando em 14 programas de televisão. Atualmente, outro projeto da empresa é a construção de um cinema de 50 lugares em Los Angeles.

;Com a fundação da Array (que inicialmente se chamava AFFRM ; African-American Releasing Movement), companhia de distribuição com foco no trabalho de realizadores negras, ela reafirma seu posicionamento político na promoção do cinema negro de um modo geral, e das mulheres negras no cinema de forma específica;, completa a pesquisadora brasileira Janaína Oliveira.




23milhões
Quantidade de usuários que assistiram à série Olhos que condenam



16
Número de indicações de Olhos que condenam ao Emmy Awards


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