Diversão e Arte

Três perguntas /Cacá Diegues

postado em 04/08/2019 04:08

O que poderia ser otimizado com um reordenamento da Ancine? Existe algum vício nítido que justifique maior controle da agência?
A Ancine precisa de uma reestruturação que, no fundo, é apenas uma volta ao que ela deveria ser, a partir da MP de 2001 que a criou. As intenções do governo nessa reestruturação, entretanto, não são as nossas. No meu entender, a Ancine tinha que deixar esse modelo de concentração de poder, que existe hoje, e ser restaurada em três diferentes frentes de gestão: o fomento, a regulação e a fiscalização. O governo acertou quando decidiu levar a regulação para a Casa Civil e o fomento para outra área. Agora, vamos ver que política será traçada para esse modelo. Antes de tudo, essa política terá que ser democrática, sem censura a nenhum tipo de filme.


;Filtro; ou extinção da Ancine ; o que isso sinaliza?
Uma extraordinária incompreensão e má vontade em relação à atividade e à economia cinematográfica brasileira. Além de um crime contra a democracia que nos custou tanto instalar no Brasil moderno. ;Filtro;é censura prévia, coisa que o artigo 5; de nossa Constituição proíbe expressamente. E o presidente atual jurou respeitar essa Constituição. ;Extinção da Ancine; é um modo simples e cruel de acabar com a produção de filmes no país. Por enquanto, pelo menos temporariamente, durante não sabemos quanto tempo. Foi o que Fernando Collor tentou fazer, extinguindo a Embrafilme. Levamos algum tempo para reconstruir o cinema brasileiro, mas finalmente o fizemos. O mesmo vai acontecer agora, se o governo tentar acabar com o nosso cinema: uma vitória aparente e uma derrota ao longo do tempo.


Orientações de fundo ideológico parecem estar por trás do súbito interesse do governo em desmantelar a Ancine?
Não temos como evitar a sanha do governo contra a liberdade de criação e imaginação. Mas nem por isso deixaremos de lutar. Espero ardentemente que o governo compreenda que o cinema é uma força cultural da nação, um instrumento de nosso soft power, uma economia que dá emprego e renda para o país. Que é, sobretudo, um espelho da nação que nos ajuda a compreender quem somos e quem podemos vir a ser. Todos os países cujo estado se preocupou com o cinema nacional, se deram bem, cresceram junto com ele. Queremos a mesma coisa para o Brasil, e vamos nos empenhar por isso.

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