postado em 10/08/2019 04:07
Detalhista e majestoso
;Fabrício Boliveira, além de ser um ator inteligentíssimo, culto, sensível e preparado, tem o que acredito ser mais importante nessa profissão: total entrega. Ele se coloca à disposição do personagem e da direção, com tamanho mergulho, que, cada detalhe, fica majestoso. Isso faz dele ao mesmo tempo um questionador, no melhor sentido, pois leva o trabalho de todos ao extremo e também um parceiro sensacional que se permite os maiores riscos com a mais profunda verdade cênica. Isso vira a mais pura emoção para o espectador.
Fabrício, acima de tudo, é um grande parceiro e aceitou entrar numa nova história para fazer uma participação memorável no Eduardo e Mônica. Acho que os fãs do universo da Legião Urbana vão gostar de ver esse encontro entre os personagens da música nas telas do cinema.
Sobre quando ele fez Faroeste caboclo, no papel de João de Santo Cristo, tenho até dificuldade em resumir. Não existe, para mim, João de Santo Cristo sem Fabrício Boliveira. Ele deu carne e osso para um personagem mítico com total compreensão do universo e dos dramas reais que ele teria dentro da história que criamos. Em cada detalhe, em cada respiração, tem um toque único.
Logo nos ensaios, falei que queria que o João em cena tivesse um andar diferente do dele na vida real. Nunca mais toquei no assunto, mas o fato é que, no todo, o João era bem diferente do Boliveira e a questão do andar ficou misturada com todo o corpo cênico.
Meses depois da estreia, eu falei que adorava como ele tinha composto o João, como ele andava e etc. Nesse dia ele me falou que passou 10 dias acordando e olhando para os pés e pensando o que movia o João para frente. Ele entendeu que o João andava firme, apontando o pé para frente, e chutando o ar com o dedão de uma maneira dura porque era a forma dele se movimentar e ao mesmo tempo dizer ao mundo a que veio. Ele passou outros 10 dias andando no quarto e na casa dele, com as botas do João, de um lado para o outro, fazendo o movimento. E fez isso de uma maneira tão orgânica que você não percebe que ele está atuando e que partiu de um raciocínio: simplesmente é.;
René Sampaio, cineasta de Faroeste caboclo e de Eduardo e Mônica