Agência Estado
postado em 10/08/2019 09:30
O ator e dramaturgo Vítor Rocha gostaria de ter o dom da ubiquidade, ou seja, a capacidade de estar em dois lugares ao mesmo tempo. Apenas uma vez, neste sábado, 10. Se pudesse, ele estaria no palco no Teatro João Caetano, em São Paulo, estreando seu novo espetáculo, O Mágico Di Ó. E também no teatro TADA, em Nova York, onde prestigiaria a estreia, também neste sábado, de Out of Water, a versão em inglês de sua primeira peça, Cargas DÁgua - Um Musical de Bolso.
"Estou completamente dividido", confessa ele, depois de uma semana intensa, em que ocupou os dias com um olho no palco, dando os últimos retoques no novo musical, e outro no computador, acompanhando via Skype o ensaio completo da montagem americana que, embora com falas em inglês, é interpretada por atores brasileiros. "Estou sempre falando com os diretores (Renata Soares e Ronny Dutra) para alinhar tudo."
No ano passado, Rocha figurou em praticamente todas as listas dos melhores do ano como revelação pela montagem de Cargas DÁgua, em 2017. A aparente simplicidade do texto, que encobre uma prosa poética, transformou essa narrativa em uma das mais originais entre as brasileiras daquele momento.
Os prêmios deram visibilidade para a peça, a ponto de, em janeiro passado, Rocha ter acertado uma produção independente do espetáculo. "Quando me mudei para Nova York para estudar atuação, decidi que queria produzir e trazer peças brasileiras para contar mais da nossa cultura", contou, na época, o ator e produtor Eduardo Medaets, que assumiu a responsabilidade de viabilizar a produção. Logo, foram abertas audições e o elenco de três personagens foi definido com Maite Zakia e Pedro Coppeti, além do próprio Medaets, atores que vivem nos Estados Unidos.
Com o título de Out of Water, a tradução de Isa Bustamanti buscou manter, na medida do possível, a sonoridade e o charme da prosódia que, em português, reproduz a forma de falar no sertão mineiro. "O roteiro do Cargas, além de ter sido praticamente bordado à mão, tem um vocabulário quase próprio que inclui desde expressões da nossa cultura até palavras inventadas por mim", conta Rocha. "Quando o convite me foi feito, tive medo, mas me tranquilizo sempre ao lembrar que essa história é nossa no DNA, e não vai deixar de ser em nenhum lugar do mundo e em nenhuma outra língua."
O musical conta a história de um menino que cruza o interior de Minas rumo ao mar carregando um balde, no qual um peixe será apresentado ao oceano. O diretor Ronny Dutra esteve no Brasil no mês passado, quando acompanhou o autor Stephen Schwartz na montagem do musical Pippin. Na ocasião, Dutra conversou com Rocha para acertos finais.
Naquele momento, Rocha finalizava a preparação de O Mágico Di Ó, adaptação da clássica história americana para o sertão brasileiro. "Eu me perguntava: E se o caminho dos retirantes nordestinos até São Paulo se transformasse na estrada de tijolinhos amarelos?", conta Rocha que, assim, ambienta a história em um caminhão que roda quilômetros infinitos até chegar à capital paulista. Lá estão Doroteia, uma menina sem imaginação, Osvaldo, um vendedor de folhetos de cordel e outros homens e mulheres esperançosos de uma vida melhor. "Para amenizar a viagem, Osvaldo começa a contar uma história em que todos participam", explica Rocha, que volta a buscar no folclore brasileiro elementos para tornar a trama mais encantadora.
O MÁGICO DI Ó
Teatro João Caetano. Rua Borges Lagoa, 650. Tel. 5573-3774. Sáb. e dom., 16h. Sessões extras: 15/8, 10h; 22/8, 10h e 14h30. R$ 16.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.