Correio Braziliense
postado em 11/08/2019 04:07 / atualizado em 03/11/2020 10:46
Em 1984, o Brasil vivia os estertores da ditadura militar, quando Chico Buarque e Francis Hime fizeram Vai passar, a última composição desses parceiros, que escreveram juntos algumas das mais belas páginas da música popular brasileira. Trinta e cinco anos depois, no momento em que o país vive tempos de intolerância, os dois voltaram a se encontrar e no estúdio da Biscoito Fino, onde Chico gravou Laura, bela canção de Francis, com letra da mulher Olívia.
Laura é uma das faixas do álbum que Francis lança em outubro, como parte da celebração de seus 80 anos (dia 31). O repertório de músicas inéditas traz parcerias do compositor e pianista carioca com Paulo César Pinheiro, Hermínio Bello de Carvalho, Geraldo Carneiro, Bráulio Pedroso, Adriana Calcanhotto e Ana Terra.
De acordo com Francis, Laura é um tema antigo, que ele recolheu do baú. Em seguida Olívia colocou a letra. Depois de pronta, ele decidiu convidar Chico para gravá-la. A última vez que eles estiveram lado a lado foi em 1997, também em estúdio, quando Chico registrou a voz em Sem mais adeus (Francis Hime e Vinicius de Moraes) para o CD Álbum musical, que teve a participação de convidados.
A parceria de Francis e Chico teve início de 1972. A primeira música em que juntaram os talentos foi Atrás da porta, transformada por Elis Regina num clássico instantâneo. Depois vieram outras que hoje fazem parte da enciclopédia da MPB, como A noiva da cidade, Embarcação, Meu caro amigo, Passaredo, Pivete e Trocando em miúdos.
O novo álbum sucede a Navega ilumina, de 2014 (também de músicas inéditas). Três anos depois, ele lançou o livro Trocando em miúdos — As minhas canções, em que detalha o seu processo de criação. Pela publicação, foi indicado para o Prêmio Jabuti de Literatura, na categoria Artes. Essa é mais uma forma de expressão artística que Francis também se destaca.
Entrevista/Francis Hime
Como é chegar aos 80 anos de maneira tão produtiva?
Meus 80 anos estão sendo devidamente comemorados com muitos eventos ,já que a música é um combustível inigualável de nos trazer sentimentos. Eles nos levam a uma frase frequentemente usada pelo meu querido parceiro, o agora imortal, Geraldo Carneiro: “Comemoremos a vida!”
Geraldo Carneiro se tornou seu parceiro mais frequente?
Geraldinho e Olivia, atualmente, são meus parceiros mais constantes. Eles estão presentes nesse novo disco com a inédita Samba funk, um samba rasgado, que gravei com um supertime de músicos, como Jessé Sadock e Marcelinho Martins. O samba tem uma letra interessantíssima, que foi musicada por mim.
Quem são seus outros parceiros nesse trabalho?
Conto com parceiros talentosíssimos, como Ana Terra, Thiago Amud e Tiago Torres da Silva, poeta português, amigo querido, com quem compus alguns fados. E, claro, há ainda Adriana Calcanhotto e Paulo César Pinheiro, parceiros de longa data. E Olivia, claro, minha parceira de vida e de música, com quem, por sinal, compus Laura, feita em homenagem a nossa netinha de 2 anos de idade, cantada lindamente por Chico Buarque.
Como foi o reencontro, em estúdio com o Chico?
Sempre fomos amigos e vai aqui uma peculiaridade: sou também compadre do Chico, uma vez que ele é padrinho de Luiza, minha terceira filha, que, por sua vez, é madrinha de Laura. De modo que tem tudo a ver, ele ter participado do disco, cantando Laura.
O que mais pode adiantar sobre esse projeto?
Estou muito, muito feliz com o disco, para o qual convidei pessoalmente alguns amigos queridos, tais como Chico, Lenine, Adriana. Vou guardar algumas surpresas (que são muitas!) para quando o disco sair pela Biscoito Fino, no fim de outubro.
Além do CD de inéditas, o que vai fazer parte da celebração?
Sigo planejando algumas ações ligadas à celebração dos meus 80 anos. Estou preparando um concerto com a Jazz Sinfônica para novembro. Vou ser o homenageado do ano no Festival Villa-Lobos. Nesse evento, vai ocorrer a estreia carioca do meu concerto para harpa e orquestra, que acaba de ser apresentado no Festival de Campos de Jordão, sob regência do maestro João Galindo, em um espetáculo memorável. No festival, também me apresentei com Olívia cantando algumas canções de nossos repertórios.
Pelo visto, é muita comemoração?
Como você constata, são altas comemorações pelos meus 80 anos, que culminará em 31 de agosto. Sabe onde estarei naquele dia, data do meu aniversário? No palco, com Olivia, fazendo o Trocando em miúdos — As minhas canções, um espetáculo baseado no livro que lancei, no qual detalho o meu processo de composição, e que me deu muitas alegrias, inclusive uma indicação, ano passado ao Jabuti, maior prêmio literário do Brasil. Por sinal, sempre gostei de trabalhar em datas de meus aniversários. É mais divertido!