postado em 11/08/2019 04:08
Fortaleza ; ;É um orgulho por nos chamarem ;filhos do Bell;. Nosso pai é nosso maior ídolo. Não teria porque se incomodar por isso. Nós nos espelhamos nele e só estamos aqui, na música, por conta dele. Sem sombras de dúvida;, afirma Filipe ;Pipo; Marques. Mais do que um nome de família, o sobrenome do artista e do irmão, Rafael, revelam uma relação com a música, com o axé e com Salvador.
Um dia depois de comandar a folia ao lado do pai, no Bloco Vumbora, e prestes a subir no palco da festa Feijoada do Siriguella, durante o Fortal 2019, os dois conversaram com o Correio sobre a relação paterna e musical e a construção de uma identidade artística. ;Eu fiz administração e o Pipo, publicidade, mas, quando a gente se encantou pela música, a gente soube de cara que era isso que a gente queria e não tinha para onde correr. No início, nossos pais alertaram, falaram que seria uma vida muito puxada, longe da família;.
Mas, a gente tinha um exemplo em casa. Nosso pai estava longe, mas próximo e presente. A gente sabia que tinha todos os contras, mas sabia também os prós e trouxe tudo isso para o nosso sonho;, conta Rafael, o primogênito.
A música embala a vida dos irmãos desde muito cedo. O pai, cantor, compositor, produtor musical, começou a carreira em 1980. Durante 34 anos, comandou uma onda de chicleteiros ao som da banda Chiclete com Banana e, desde 2014, toca a carreira solo com o mesmo carisma e irreverência que o tornaram conhecido. ;O Fortal, por exemplo, é uma micareta que a gente sempre veio, desde pequenininho, para acompanhar meu pai, saber como era e porque a gente sempre gostou de estar perto dele;, relembra Pipo.
O axé que conquistou Bell na década de 1980 também fisgou os filhos do cantor. Trio elétrico, abadás e a energia de centenas de foliões. ;Isso tudo foi apaixonando a gente. Essas festas maravilhosas, os bastidores, a música. Não teve jeito. Foi paixão;, resume o mais novo. ;Música quando pega, abraça e não tem jeito;, acrescenta.
Minha vida
O início da carreira dos irmãos foi em 2011 com a banda Oito7Nove4, uma referência ao ano de nascimento de cada um deles. Em 2016, eles gravaram o primeiro DVD da carreira, já como Rafa e Pipo Marques: Beira Mar. Além de importantes nomes da música, como Wesley Safadão e a dupla Jorge e Mateus, e de um mix de estilos, o material contou com a participação do patriarca. Bell Marques deu sua benção ao novo projeto e à carreira dos filhos. Por outro lado, em 2018, o axezeiro lançou o hit B de Bell, com a opinião e o cuidadoso olhar dos herdeiros.
Essa troca de figurinhas e, sobretudo, de experiências é uma constante e uma marca registrada da relação entre pai e filho. Em 2012, pela primeira vez, houve um encontro de trios que emocionou os artistas e o público. Desde então, é comum Bell Marques acompanhar Rafa e Pipo e vice-versa. Inclusive, os três têm um bloco juntos, o Bloco Vumbora. ;O carinho que os fãs têm por ele e a energia que ele recebe são indescritíveis. Recebemos essa energia gostosa, saímos de alma lavada e isso, de fato, é encantador. Quem já teve a oportunidade de subir no trio dele sabe disso;, comenta Rafael.
Apesar das muitas semelhanças, tanto físicas como musicais, os jovens artistas fazem questão de deixar claro que constroem uma identidade singular. Rafa tem a responsabilidade do vocal e Pipo da guitarra. Não gostam de rótulos e não se apegam à raiz do axé music. As melodias estão no sangue e na história, mas os irmãos gostam de misturar e fazer uma festa reunindo canções do sertanejo e do forró. ;Vamos dar continuidade no sentido da relação da família com a música. Mas a gente tem o nosso som bem característico, bem próprio. A gente, obviamente, tem muitas influências dele, a gente mora junto, a gente produz junto, a gente dá pitaco no trabalho dele, ele dá no nosso. Não tem como não ter essa influência. E a responsabilidade a gente não sente tanto porque é uma coisa muito natural, a gente trabalha em família. A gente se diverte, sem compromisso e acaba que no final dá certo;, afirma o primogênito.
*A repórter viajou a convite do Fortal
DEPOIMENTO /Bell Marques
Pai coruja
;Quando Rafa e Pipo decidiram que, realmente, iam trabalhar com música, vi que não adiantava contrariar. Eles estavam decididos e eu sabia, pelo menos, que eles podiam contar comigo. Fico muito feliz de ser um espelho para eles, um exemplo, me dá muito orgulho. Mais ainda de perceber que aprendo muito mais com eles. O mercado mudou, o público mudou e se manter atual é difícil pra um artista que tem uma carreira tão longa e viveu outras realidades da indústria da música. Sem dúvida, continuo no auge, conquistando novos fãs, porque eles me mantiveram jovem, atualizado, conectado e curioso sobre as tecnologias, sobre o comportamento do consumidor atual de músicas. Essa troca nos manteve ainda mais próximos, porque nos uniu também na hora do trabalho. Fico muito feliz com o que construímos juntos e muito orgulhoso do que eles estão construindo para eles. Sou pai coruja demais e tenho muita sorte de ter Rafa e Pipo como filhos;