Diversão e Arte

Festival de Brasília do Cinema volta a premiar com dinheiro vencedores

Nova edição ocorrerá em novembro, e destaca incremento em plataformas, sob custo inicial de R$ 2,4 milhões

Ricardo Daehn
postado em 15/08/2019 07:03

Comissão organizadora do Festival de Brasília destaca que as inscrições vão até 13 de setembro

As bases de formatação do 52; Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, que retorna ao tradicional período de realização (entre 22 de novembro e 1; de dezembro), foram divulgadas oficialmente com a junta curadora do evento, composta por cinco profissionais, entre os quais o secretário de Cultura e Economia Criativa do DF, Adão Cândido. O edital para participação da classe artística foi lançado e teve data-limite definida para 13 de setembro.

;Fui uma espécie de curador da curadoria. Buscamos valorizar experiências e olhares diferenciados, na composição de perspectivas até mesmo discordantes. Vivemos uma mudança de paradigma revelada, em escala internacional, pelo despontar de novas plataformas de consumo de audiovisual;, avaliou Cândido, que pretende expandir a participação da capital em coproduções. Com anúncio dos sete filmes de longa-metragem e os 14 curtas marcado na data-limite de 15 de outubro, o evento reafirma a parceria com o Instituto Alvorada Brasil, organização selecionada por meio de chamamento público.

[SAIBAMAIS]O orçamento inicial do evento está em R$ 2,4 milhões, com perspectivas de ampliação, na futura participação do setor privado, prospectada para acréscimo de R$ 1,5 milhão. Uma das maiores novidades está no retorno do caráter competitivo das mostras que ; com a premiação da Mostra Brasília (reservada a títulos locais), e organizada no âmbito da Câmara Legislativa do DF, ; devem totalizar premiações da ordem de R$ 580 mil. Preferencialmente inéditos, sete títulos em longa-metragem serão integrados à mostra competitiva oficial. No site www.festivaldebrasilia.com.br constam informações complementares aos candidatos.

Comissão

A diversidade de gênero e olhares foi estipulada para a comissão curadora do festival, que terá coordenação do cineasta Pedro Lacerda. Além do diretor e produtor Marcos Ligocki e do cineasta e crítico Tiago Bellotti, sustentarão a curadoria a programadora de filmes e produtora de festivais do porte do Brazilian Internacional Film Festival, Anna Karina de Carvalho, e a subsecretária de Economia Criativa, Erica Lewis.

;Sou da escola de cinema de filmes feitos com dinheiro que se tem no bolso, e pretendo rejuvenescer o festival, em termos de público. Falta um pouco de esclarecimento diante do excelente cinema feito no Brasil. Meu engajamento está em acabar com o preconceito do espectador médio;, comentou Bellotti. ;A curadoria é um trabalho árduo. Onde tem tela, eu estou; num trabalho de mais de 20 anos. Ainda assim, ano a ano, há uma renovação na safra dos filmes, e, na surpresa causada por alguns títulos, há renovação na missão das escolhas;, observou Anna Karina.

;Pretendemos sublinhar a integridade do olhar para a diversidade que dá força ao cinema nacional. O festival se completará com a articulação de uma mostra paralela chamada Território Brasil. Teremos representantes de cada um dos estados;, explicou Marcos Ligocki. Com Erica Lewis, Ligocki será um dos agentes na otimização do enfoque pretendido pelo evento de fortalecimento de aspectos de negócios e de mercado.

Cleide Soares, diretora da Mostra Brasília, compareceu ao lançamento para informar de trâmites burocráticos que impediram o lançamento do edital do 24; Troféu Câmara Legislativa do DF. Ela assegurou prêmios da ordem de R$ 240 mil. ;Haverá concessão de mais dias para as inscrições, mas o edital, possivelmente, até segunda-feira estará publicado;, comentou.

Emoção

Enquanto o secretário Adão Cândido defendeu o esforço concentrado da Secretaria de Cultura na renovação do Polo de Cinema ; com processo no Iphan para determinação de nova área de implantação, dada a inatividade do espaço em Sobradinho ; e no projeto de novo parque audiovisual para o DF; Francisco Almeida, do Instituto Alvorada, dimensionou a grandeza do Festival de Cinema, que mobiliza, direta e indiretamente, mão de obra estimada em 10 mil pessoas.

Quem tomou parte, de forma discreta, no lançamento foi o diretor de fotografia Affonso Beato, escalado para filmes de Pedro Almodóvar e criador de imagens que marcaram o cinema nacional como O dragão da maldade contra o santo guerreiro (de Glauber Rocha). Ao lado de Lauro Escorel, Beato, que aproveitou a passagem pela cidade para uma palestra relacionada a design, idealiza um sistema de cursos a ser implantado no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.

;Tenho uma relação intensa com o festival. Ganhei prêmio com o Cara a cara (de Julio Bressane); com o Joaquim Pedro de Andrade, estive com o curta Brasília, contradições de uma cidade (1968). Vim para a cidade, com o Nelson Pereira dos Santos e com Fernando Duarte, para me integrar ao corpo de professores da UnB, mas não fiquei. Quase chorei, agora, quando passei pela universidade que vi, no tempo do barro da capital;, comentou.

Alguns momentos marcantes de 51 edições

1965
; Em 14 de novembro, surge a I Semana do Cinema Brasileiro, criação do crítico de cinema Paulo Emílio Salles Gomes, no Cine Brasília (EQS 106/107). Cineastas como Roberto Santos, Walter Lima Jr., Anselmo Duarte, Luiz Sérgio Person e Ruy Guerra competem na mostra em que os espectadores deveriam trajar smoking nas sessões.

1967
; Glauber Rocha retirou Terra em transe no meio da competição. Maurice Capovilla enfrentou a censura da Câmara Federal, diante de uma cena de deputado apanhando, em Bebel, garota propaganda.

1968
; A Semana do Cinema Brasileiro transforma-se em Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.

1969
; Instaurado o troféu Candango, com design diferenciado.

1971
; Retornou a censura. Vladimir Carvalho se viu prejudicado, pela retirada do longa O país de São Saruê do evento.

1975
; Primeiro festival realizado no antigo Cine Karim (110 Sul).

1978
; O diretor de Departamento de Censura e Diversões Públicas se dispôs a ouvir reclamações de uma comissão de cineastas.

1979
; Glauber Rocha foi símbolo de polêmica. Em discurso no Hotel Nacional, declarou a ;falência do festival; e taxou a competitiva de ;um prostíbulo da pornochanchada;.

1982
; A mostra competitiva é deslocada para dezembro.

1984
; O longa Nunca fomos tão felizes, de Murilo Salles, ganha a dupla láurea de melhor filme: votado pelos júris oficial e popular.

1985
; Premiação histórica desponta: Suzana Amaral foi a primeira mulher diretora a erguer o Candango, por A hora da estrela.

1987
; O vigésimo festival foi prestigiado pelo público no Cine Karim.

1988
; Nova mudança de local: o festival segue para duas salas do ParkShopping, no intuito de se fortalecer.

1989
; Retorno do evento para o Cine Brasília.

1990
; Cine Brasília abriga o festival, reformado. Com sistema dolby surround e novo ar-condicionado.

1991
; Mudança de data: as exibições foram antecipadas de outubro para julho.

1994
; O estrangeiro Bernardo Bertolucci prestigia o evento. Mostra em homenagem a Gianni Amico, colaborador dele, motivou a vinda.

1995
; Evento celebrou personalidades como Dina Sfat, Humberto Mauro e Ruth de Souza.

1996
; O pernambucano Baile perfumado, de Lírio Ferreira e Paulo Caldas, é consagrado.

1997
; Inesperado empate entre dois filmes: Anahy de las misiones (Sérgio Silva) e Miramar (Júlio Bressane).

1998
; Duas produções locais foram selecionadas para a competição: Athos e Negros de cedro.

1999
; A direção do Festival dobrou a quantidade de filmes em competição, selecionando 12 títulos.

2000
; Rodrigo Santoro, da condição de vaiado, antes da apresentação de Bicho de sete cabeças, saiu premiado como melhor ator da edição.

2002
; Cláudio Assis, por Amarelo manga, conquistou os prêmios de filme, ator, fotografia, montagem e júri popular.

2005
; O baiano Edgard Navarro promoveu arrastão, ao levar sete prêmios Candango, na estreia tardia em longa, com o longa Eu me lembro.

2006
; Baixio das bestas, de Cláudio Assis, deixa a cidade, na condição de vencedor de seis prêmios, considerado o melhor filme.

2007
; Melhor diretora, Laís Bodanzky viu o popular Chega de saudade ignorado no segmento das interpretações, ainda que o elenco estivesse em estado de graça.


2009
; Lula, o filho do Brasil, de Fábio Barreto, criou confusão na Sala Villa-Lobos, na mais equivocada cerimônia de abertura. Mais de 1,8 mil espectadores ocasionais migraram de gabinetes para prestigiar o ausente presidente da República.


2011
; A queda do ineditismo trouxe filmes já exibidos em outros festivais do Brasil, como Meu país e Trabalhar cansa.


2012
; Uma reforma no Cine Brasília levou o 45; Festival de Brasília do Cinema Brasileiro para o Teatro Nacional Claudio Santoro.


2013
; Evento entrega o troféu Candango de melhor longa de ficção a Exilados do vulcão, de Paula Gáitan, viúva do cineasta Glauber Rocha.


2014
; Inaugurado projetor digital permanente do Cine Brasília. O aparelho abriu frente para projeções feitas em diversos formatos digitais.


2015
; O 48; Festival, com o longa local de John Howard Szerman Santoro ; O homem e sua música celebrou a figura do maestro Claudio Santoro.

2017
; A diretora Júlia Murat apresenta dois longas na cidade: Pendular (que competiu a Candangos), e Operações de garantia da lei e da ordem, fora da competição.

2018

; O filme longa-metragem Bixa travesty (de Kiko Goifman e Claudia Priscilla) ressalta a particular carreira de Linn da Quebrada, festejada com prêmio do público

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