Devana Babu*
postado em 16/08/2019 18:57
Por volta de 2017, as palavras "Skin-head support your local zona anti-antifa; apareceram pixadas em um muro da QNN 21/19 da Ceilândia, em frente a uma pista, com a assinatura: "32/46 Oi". A mensagem veiculada significa que um grupo de neonazistas estava marcando território por ali e desafiando os "antifa", ou seja, os antifascistas da região.
O tempo passou e o matagal cobriu o desaforo, até que, em meados de 2019, cortado o mato, a intervenção voltou a ser visível e um grupo de grafiteiros da cidade resolveu "atropelar o pixo" -- pixar por cima da escrita anterior como forma de desagravo. Isso foi em junho. Não demorou três dias para que a retaliação aparecesse em outros muros da cidade. Expressões como ;nordestino fede; e a saudação integralista ;anauê; começaram a aparecer nas proximidades da QNN 21, todas assinadas pelo mesmo grupo neonazista e, geralmente, atropelando as intervenções de outros grafiteiros.
Também chegaram a acontecer, há menos de duas semanas, dois casos de agressão, no mesmo trecho, envolvendo os skinhead. O primeiro relato conta o ataque contra um homossexual, e o segundo, contra um morador de Águas Claras que fazia compras em um brechó da região e foi interpelado com a pergunta: "Você é antifascista?"
Em meio a esse imbróglio, um coletivo de grafiteiros convocou um grande mutirão de grafite, com diversas atividades informativas e artísticas, para deixar um recado claro nos muros: "Fascistas não passarão". E assim surgiu o evento Antifascismo pela Liberdade Consciente, realizado neste domingo (18/8), a partir das 13h, atrás da Biblioteca Pública da Ceilândia (Ao lado da Estação Ceilândia Norte do Metrô).
Mais de 30 grafiteiros já estão confirmados para ação, mas o mutirão é aberto para qualquer um que queira chegar e mandar seu recado, desde que o faça dentro do tema e com as cores da bandeira antifascista (preto e vermelho). O espaço, aliás, é um grande muro cedido pelo Centro de Juventude da Ceilândia, um dos alvos das pixações preconceituosas. Há tratativas para conseguir também um dos muros da estação de Metrô. O objetivo, além de mandar um grande recado, é cobrir todas as pixações de conteúdo ofensivo.
Concomitantemente, será realizado um aulão de mhuay thai, venda de fanzines, discotecagem, rodas de dança de rua, microfone aberto, batalha do conhecimento e uma roda de conversa sobre a ascensão do nazifascismo.
*Estagiário sob supervisão de Adriana Izel