Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Artistas provenientes das batalhas de rima se destacam no cenário musical

Conheça alguns artistas que começaram no Museu da República


O Distrito Federal é reconhecido nacionalmente por conta do alto nível das batalhas de rima desenvolvidas e a prática se tornou uma tradição atrativa. Acompanhados de um beat sonoro e movidos pela sagacidade dos pensamentos para desenvolver versos, os MC;s duelam nas apresentações em busca da vitória.

A Batalha do Museu (BDM) é uma das mais antigas e famosas do Brasil. Gerson Macedo (também conhecido como Zen MC), neto de pioneiros da cidade e morador da Vila Planalto, é o fundador do movimento que surgiu pela necessidade de eventos com mais frequência ; até então, os encontros eram marcados apenas uma vez por mês. Atualmente, com o crescimento e maior estrutura, uma força-tarefa é convocada todos os domingos para fazer que a batalha continue viva.

Locais que eram tidos como inabitáveis ressurgiram com a ocupação cultural das batalhas de rap, que pregam a luta contra o racismo, a homofobia e qualquer tipo de preconceito. Segundo Gerson, mais de 20 batalhas semanais ocorrem espalhadas pelo DF, fazendo com que pessoas de todos os gêneros desenvolvam habilidades e busquem um futuro no meio artístico.

;É gratificante fazer com que o Brasil enxergue e reconheça os talentos que temos. Ocupamos o coração da capital. Todos podem ver que aqui a cultura se mantém viva e que a periferia é um berço de artistas de qualidade;, explica o fundador da BDM.


Bem-sucedidos


Neste berço, abrigam-se jovens MC;s como Gomes, Zen, Hate e Fuggazi, que buscam realizar o sonho de firmar uma carreira. E a esperança é real. Das batalhas de Brasília surgiram artistas como Froid, The Gust MC;s e Barril de Rap, que nasceram na cidade e estão se destacando no cenário nacional.

MC Sid começou a carreira nas batalhas da capital e tornou-se campeão nacional do Duelo de MC;s em 2016. Inspirado em outros competidores que migraram das rimas para a carreira solo, acreditou no potencial e passou a se dedicar apenas à carreira musical.

;Quando fui campeão, comecei a acreditar que existia mesmo uma possibilidade de ganhar dinheiro com a música. Foi o momento que eu saí do patamar de um artista que vivia no anonimato para um artista que, naquele momento, tinha uma pequena projeção nacional;, conta Sid.

Dali para frente, o artista se jogou na ideia de construir uma vida apenas com o salário proveniente das produções musicais. Com mensagens sobre ideologia, qualidade de vida e desvencilhando o rap do crime, o cantor está produzindo o lançamento do primeiro CD, que conta com 10 músicas e estará disponível nas plataformas digitais a partir do dia 22.

;É um álbum no qual busquei trazer introspecção e reflexão de forma poética, porém carregada de frustrações. Saí um pouco da minha zona de conforto e busquei trazer mais musicalidade, com um produto final mais elaborado;, revela o artista. Brasil de quem, Autobiografia parte 1 e Rap news são algumas das canções consagradas na carreira de Sid.



No mesmo caminho vem o Menestrel. Nascido e criado no DF, era fã das batalhas e resolveu adentrar no movimento para apostar na carreira de raper. ;É o pontapé inicial do MC, é uma escola de conceitos básicos. Você tem interações com outras pessoas que dividem o mesmo sonho, que estão se preparando para conviver dentro do movimento. É um local acolhedor;, conta o cantor.

Apesar de ser um destaque nas rimas, ficou por pouco tempo no freestyle e resolveu seguir a carreira solo a partir do momento que percebeu a falta de versatilidade. ;Em dado momento, minha expressão artística estava muito reduzida e eu não conseguia me concentrar mais em escrever, uma coisa que faço desde moleque;.

Com a facilidade para realizar composições em poucas horas, o artista prepara o lançamento do primeiro DVD independente. ;Foram escolhidos clássicos da carreira e músicas novas, totalizando nove faixas. Achei que encurtando o repertório poderia dar o peso que queria em todas as músicas;.

O cantor busca, cada dia mais, profissionalizar a carreira com personalidade, sinceridade, respeito e amor sendo empregados nas músicas, mas sem deixar as críticas sociais de lado.

;Temos que fazer algo pelo nosso país, como a conscientização dos nossos. Todo rapper precisa se posicionar. A gente vive financeiramente de uma cultura que não aceita esse momento. Então, nada mais justo do que você honrar as pessoas que lutaram para que fosse possível se expressar por meio das nossas músicas. Não podemos ;passar pano; para quem quer calar a voz do nosso povo, que é a maioria;, desabafa Menestrel.

*Estagiário sob a supervisão de José Carlos Vieira