Diversão e Arte

Cena Contemporânea tem programação enxuta e com espetáculos premiados

As opções da 20ª edição vão da tragédia grega a histórias contemporâneas

Nahima Maciel
postado em 19/08/2019 07:00
As opções da 20ª edição vão da tragédia grega a histórias contemporâneas
Com um cardápio de espetáculos premiados e um clássico da tragédia grega, a 20; edição do Cena Contemporânea tem início amanhã e traz um recorte curatorial pensado para dar início a uma série de comemorações que devem prosseguir em 2020. O festival, que faz parte da lista dos cinco mais importantes do Brasil, chegou à marca das 20 edições graças a um esforço conjunto de colocar Brasília no mapa do teatro brasileiro. Segundo Guilherme Reis, idealizador do Cena, a escolha dos espetáculos, 17 no total, foi feita pensando também na próxima edição, quando o evento completará 25 anos. ;Na fantasia, a gente estava se preparando para duas edições muito poderosas, mas a realidade não é a mesma, e a gente está tendo que adaptar tudo. Estamos fazendo isso de uma forma muito correta e interessante;, avisa. Além do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), teatros como o Galpão (Espaço Cultural Renato Russo), Garagem (Sesc 913 Sul), Newton Rossi (Sesc Ceilândia) e Paulo Gracindo (Sesc Gama) recebem a programação.

A lista de espetáculos propostos também veio reduzida em relação aos anos anteriores, uma consequência da redução de patrocínio observada em todas as áreas da cultura nacional. ;Venho pensando nessa programação desde janeiro, mas sem saber se estaria no Cena ou não e, por isso, fiz tudo de forma muito comedida;, avisa Reis. Este ano, o patrocínio veio exclusivamente do Banco do Brasil, que investiu R$ 360 mil, um quinto dos R$ 1,8 milhão da edição de 2018. ;Mas a programação não perdeu a consistência e o festival não vai perder importância. Não é a maior crise que já tivemos, mas é a maior das últimas 15 edições;, diz o idealizador, que aponta um equívoco do governo federal em relação à Lei Rouanet como responsável pela redução do patrocínio.

Mesmo assim, a equipe do Cena Contemporânea conseguiu reunir uma programação pontuada por momentos importantes. Andréa Beltrão abre os trabalhos amanhã com uma versão de Antígona dirigida por Amir Haddad. ;É um monólogo no qual ela conta para o público como se fosse uma contadora de história da Grécia antiga e, através das histórias, o teatro vai entrando aos poucos. No final, é puro teatro, só o texto do Sófocles. Foi um ano de trabalho e Andreia trabalha muito;, avisa Haddad.

Com trunfo de já ter se apresentado para 25 mil pessoas e com um prêmio Shell de melhor atriz ganho no ano passado, a paranaense Nena Inoue traz Para não morrer, uma adaptação do livro Mulheres, de Eduardo Galeano. No palco, a narradora traz histórias femininas e latino-americanas. ;São todas histórias verídicas de mulheres de várias épocas e lugares do mundo. Algumas eu conhecia, mas muitas não, e a mesma sensação que tive ao descobrir as histórias queria que as pessoas tivessem com o espetáculo;, explica Nena, que também ganhou o prêmio de melhor atriz do Governo do Estado do Paraná, em 2017.

De Brasília, Prometea ; Abutres, carcaças e carniças estreia sob a direção de Hugo Rodas, que se apropria do mito de Prometeu para pensar questões contemporâneas. Também de Brasília, Murilo Grossi faz par com o português António Revez em Furacão Carmen, criado pelo argentino Santiago Serrano especialmente para a dupla. Na peça, dois homens aguardam uma mulher no Malecón de Havana enquanto um furacão se aproxima. Ainda de Brasília, Mosh, com direção de Diogo Granato e interpretado por Carolina H;fs, Juliano Coacci e Renato Alvarenga, une dança, teatro e performance para falar de violência e agressividade. Paulistano e praticante de parkour, Granato ganhou o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte como Melhor Intérprete em 2006.

Outro premiado, A invenção do Nordeste, do potiguar Grupo Carmin, faz metateatro ao contar a história de um diretor encarregado de contratar um ator nordestino para interpretar papel tipicamente nordestino. O espetáculo ganhou o Prêmio Shell de Melhor Dramaturgia e o Prêmio Cesgranrio de Melhor Espetáculo. Em A ira de Narciso, a diretora Yara Novaes conduz o ator Gilberto Gawronski pela jornada de um autor que vai ministrar uma conferência sobre o mito grego e, enquanto narra a jornada para o público, mergulha também em confissões que conduzem o público por uma inesperada trama policial. Gawronski chegou a ser indicado ao Prêmio Shell 2018 pela atuação.

Entre os estrangeiros, estão O desmanche das musas, do espanhol La Zaranda, Teatro Inestable de Ninguna Parte, e Sonhos na areia, da francesa Lor;ne Bihorel. Este último foi agraciado com o Prêmio do Público no festival Avignon Off em 2014 e traz uma mistura de artes visuais com teatro.

Além dos espetáculos, uma série de atividades paralelas também pontua o Cena e, entre elas, está um encontro histórico entre Hugo Rodas e Zé Celso Martinez Correa como parte da Residência ATA ; Agrupação Teatral Amacaca, que terá também participação do espanhol David Climent, codiretor do grupo loscorderos.sc. ;Zé Celso e Hugo têm uma história pregressa desde a década de 1970. Quando Hugo formou o Pitú e saiu de Brasília, ficou hospedado no Teatro Oficina, ele e a companhia. E eles estão sempre trocando. Então Zé Celso vem fazer essa residência com o ATA. Essa é uma história que precisa ser recuperada;, aponta Sérgio Maggio, coordenador de atividades paralelas do Cena Contemporânea.

O resultado final da residência será apresentado em 31 de agosto no Teatro Galpão do Espaço Cultural Renato Russo e terá como base o texto Heliogábalo ou o anarquista coroado, de Antonin Artaud. A peça traz a história de um imperador romano que conquista a cidade montado em um falo gigante e acaba assassinado em uma latrina.

Além de atividades formativas como as residências e performances, que devem resultar em apresentações, haverá também oficinas e dois seminários, sendo um sobre equidade de gênero no teatro com foco na presença de mulheres na iluminação. ;O Cena sempre teve essa característica de fomentar os encontros. Criou um campo de troca e intercâmbio formal e informal. Muitos grupos e muitos artistas se transformaram por meio dessa mediação;, explica Maggio.

Cena Contemporânea 2019
De amanhã a 1; de setembro. Confira programação no www.correiobraziliense.com.br.

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