postado em 20/08/2019 04:08
Há várias paixões em Você, mas elas não estão necessariamente direcionadas para pessoas específicas. Elas são, na verdade, âncoras para se atracar à vida. O 12; livro de poemas de José Carlos Vieira, editor do Diversão & Arte e há quase 30 anos integrante da equipe do Correio Braziliense, leva o subtítulo de Poemas de paixões e coisas parecidas.
Com lançamento marcado para hoje, às 19h30, no Beirute da 109 Sul, o livro reúne 74 poemas alinhavados com um propósito muito explícito. ;Paixão é uma coisa que não necessariamente você vive, mas pode inventar;, avisa José Carlos. ;Quando você perde a paixão, perde o sentido da vida. Por isso escrevo para viver.; No conjunto de versos que abrem o livro ; e não há título em nenhum deles, são apenas numerados ;, o poeta avisa que não se fia aos acadêmicos e assume sua maneira de ver a poesia com muita liberdade. ;Lá vem você/dizendo/que minha poesia/não é poesia/eu sei/mas abra os olhos;, diz o poema.
É um compromisso com a simplicidade e com a naturalidade que José Carlos declara ao falar de poesia, duas características que costumam estar presentes na sua escrita quase como uma devoção aos versos. ;Encaro a poesia como quem liga o rádio e ouve música, sem preocupação com os cânones. Esse primeiro poema é básico. Ele é bem ingênuo. Gosto da simplicidade do cotidiano. Poesia é simplesmente uma forma de ver o mundo, de não morrer todos os dias;, acredita. E também é um exercício.
Paraibano de Campina Grande e radicado em Brasília desde os dois meses de idade, José Carlos, 58, escreve todos os dias e tem como motivação reagir ao que chama de ;poesia de casta, formal;. ;Gosto de poesia mais leve. Tenho origem na geração beat e na geração mimeógrafo dos anos 1970,;, assume. O primeiro livro, ele publicou aos 16 anos, antes de entrar para o curso de publicidade na Universidade de Brasília (UnB). Foi em 1976, e a publicação só foi possível graças ao mimeógrafo.
Hoje, é nas redes sociais que encontra um espaço de divulgação amigável. ;Acho que a poesia casa bem com a plataforma das redes sociais;, diz. Por isso, pediu a poetas da cidade que gravassem alguns de seus versos. Os vídeos estão sendo postados no Facebook (José Carlos Vieira) e no Instagram (@josecarloscorreiobraziliense) à medida que são realizados e já ganharam leituras de Mariana Aydar, Nicolas Behr, Ricardo Garcia (o Pipo, do Melhores do Mundo), Paulo Kauim, Marina Mara, Murilo Grossi, Noélia Ribeiro e X, do Câmbio Negro.
A própria poesia e a paixão são temáticas constantes dos versos de Você, escritos como se fossem fragmentos de uma conversa com alguém que pode ou não existir. José Carlos Vieira inventa amores para criar histórias e se endereça a esses interlocutores como se erguesse um mundo próprio no qual o sentimento é condição para estar vivo. ;Há muita declaração que não é direcionada a uma pessoa. É sobre como você se declara;, garante. ;Gosto da poesia que sabe dançar e beber vinho;, diz o poeta, que tem parcerias musicais com nomes como Dillo D;Araújo, Marquinho Gil e Jorge Ferreira.
Estética
Há vários sentidos e funções em escrever poesia mas, para o autor, a maior delas é se preparar para a morte. Daí a melancolia presente em muitos dos versos de Você. Pode parecer um paradoxo, já que ele escreve para dar sentido à vida e encontra na paixão um excelente motivo. Mas o paradoxo é também um outro lado da função da escrita poética. ;Escrever é uma busca pela eternidade, porque você deixa um livro, você morre sem querer morrer;, reflete.
Para a capa, o poeta também foi buscar, em parceria com o designer gráfico Valdo Virgo, um universo pelo qual tem muita simpatia. ;Evoluímos o conceito a partir do design soviético dos anos 1930. Tenho paixão por esse período, pela construção das mensagens, aquela estética da câmera que valoriza o homem, em que a câmera foca de baixo para cima;, conta.
Você ; Poemas de paixões e coisas parecidas
De José Carlos Vieira. Editora Pergunta Fixar, 88 páginas. R$ 20 e R$ 10 (e-book). Lançamento hoje, às 19h30, no Beirute da 109 Sul.