postado em 24/08/2019 04:07
O Nordeste é formado por nove estados que espalham diversidade cultural e artística. Apesar do calor que une as diferenças, cada um tem suas particularidades. Na 20; edição do Cena Contemporânea, dois espetáculos trazem discussões e aspectos da cultura nordestina: A invenção do Nordeste, do Grupo Carmin, vindo do Rio Grande do Norte, e A sambada do Boi de Chuva no terreiro do mundo, da companhia brasiliense La no Meio do Céu.
Dirigida por Quitéria Kelly, A invenção do Nordeste, em cartaz hoje no teatr do Centro Cultural Banco do Brasi (CCBBl, parte de uma reflexão sobre o que é ser nordestino. ;A proposta surgiu quando da reeleição de Dilma Rousseff, com aqueles vários ataques aos nordestinos, da mesma forma como se repetiu agora. Aquilo nos chocou muito. Pensávamos que era algo superado, mas se provou o contrário;, relembra o ator e dramaturgo Henrique Fontes. Com a peça, o grupo conquistou o Prêmio Cesgranrio de Melhor Espetáculo e o Prêmio Shell de Melhor Dramaturgia.
A encenação, inspirada na obra homônima de Durval Muniz de Albuquerque Jr., investiga os mecanismos estéticos, históricos e culturais que contribuíram para a concepção de uma visão do nordeste brasileiro. ;As artes tiveram um papel fundamental na construção dessa identidade fake. A literatura, o cinema, as artes plásticas e o teatro criaram um tipo nordestino e uma região que não corresponde, necessariamente, à realidade;, pondera Fontes. A peça, uma autoficção com humor, conta a história de dois atores selecionados para viver personagens nordestinos e, mesmo já sendo, precisam provar que podem interpretá-los.
A companhia brasiliense La no Meio do Céu apresenta hoje, no Teatro Galpão (Espaço Cultural Renato Russo), A sambada do Boi de Chuva no terreiro do mundo, inspirado no folguedo popular e na história do Cavalo Marinho de Pernambuco. Por meio do teatro de bonecos e da teatralidade dos espetáculos populares, a peça infantojuvenil aborda questões ligadas ao meio ambiente e à responsabilidade de cada cidadão.
;Sou de Pernambuco e escrevi esse texto quando morava lá. Minha formação era de brincante, participava dos folguedo. A cultura popular aborda temas muito intrínsecos não só da realidade social como da existência;, detalha a diretora Karla Juliana Kaju.
Inspirado no punk
No palco, três pessoas encenam uma dança com contornos de violência e agressividade. A intenção é refletir sobre a explosão da violência e as maneiras de contê-la, de onde ela vem, como se apresenta e que limites pode encontrar. Sob direção de Diogo Granato e encenado por Carol H;fs, Juliano Coacci e Renato Alvarenga, Mosh nasceu da experiência pessoal dos atores e bailarinos. ;A ideia começou a ganhar forma no casamento de um amigo. Falamos de fazer um espetáculo sobre violência e discutimos várias imagens caricaturais que nos fizeram pensar na explosão da violência e em como contê-la ou não;, explica Alvarenga. ;Falamos também de vários episódios pessoais em que a fala não se mostrava suficiente e em que a violência acabava eclodindo.;
Os shows de punk rock frequentados pelos três forneceram parte das imagens trabalhadas na coreografia. Mosh pit, ou as rodas de bate-cabeça comuns nesse tipo de concerto, inspiraram a movimentação e a concepção do espetáculo. A vivência dos intérpretes, que participaram do movimento roqueiro na cidade nos anos 1990, pontuou as leituras pessoais de cada um para o gestual desenvolvido no palco. ;A ideia foi falar do punk rock como se fosse um depoimento pessoal, corporal, cênico de cada intérprete/criador, falar do que foi e do que é o punk rock para cada um deles;, avisa Granato, que ganhou o prêmio de melhor intérprete pela Associação Paulista de Críticos de Arte em 2006. ;É um depoimento pessoal dançado, atuado e interpretado por essas pessoas.; A trilha sonora ficou por conta de Rafael Leporace, que foi integrante da banda Bois de Gerião.