Lucas Batista*
postado em 28/08/2019 07:00
Forró, funk e rock, tudo isso misturado com música eletrônica, consegue imaginar? Pois o Live PA (Artista de performance ao vivo, em português) pode englobar tudo isso com apresentações em tempo real. Esse formato é diferente do trabalho usual de um DJ, porque a música é criada pela pessoa que está realizando a performance, com improvisação e composição ao vivo ou arranjo musical. Basicamente, o DJ Live PA é aquele que atua como DJ, mas durante a apresentação acrescenta novos elementos, aplica efeitos e performances que dão uma nova cara para a música. É como a criação de um remix ao vivo.
Alguns artistas já consagrados na música internacional são considerados criadores de Live PA, como o duo norte-americano Twenty One Pilots e a dupla europeia Daft Punk. No Distrito Federal. A vertente é uma realidade na vida de músicos que estão em busca de ascensão no mundo eletrônico. Mesmo ainda não tão conhecidos, os produtores costumam surpreender com suas performances em shows e acabam conquistando novos fãs.
Cabra Guaraná
Projeto realizado por Israel Lara, de 33 anos, a Cabra Guaraná é um trabalho de experimentação. Israel veio do rock, mas quando partiu para o Live PA percebeu que o público se atraiu mais pelo funk. ;No início, éramos eu e um amigo, Maurício Barcelos, lançamos cinco músicas, sendo duas delas com elementos do funk carioca. O que não esperávamos aconteceu, as que tinham funk tiveram muito mais repercussão que as outras músicas;, afirma ao Correio.
Israel, que também é conhecido com Tynkato, revelou que no início tinha dificuldades nas apresentações por precisar tocar vários instrumentos ao mesmo tempo, até que conheceu uma das ferramentas mais importantes para quem realiza Live PA, o Sampler ; equipamento que armazena os sons de forma eletrônica e depois consegue reproduzi-los juntos ou individualmente.
A Cabra Guaraná está no meio do lançamento do novo álbum Elemento 115, um projeto também de experimentação, com músicas bem-humoradas e improváveis. ;Faço funk de memes, consegui que uma delas chegasse a mais 35 mil plays no Spotify, a Repangalejando e a Taguayork, que fiz para a cidade de Taguatinga, entrou para uma playlist oficial do aplicativo, chamada Trap Ouro;, diz.
Mesmo tendo álbuns autorais e músicas adquirindo sucesso, Israel não abandona o improviso na hora da apresentação. ;As pessoas demoram um pouco para entender o que está rolando, depois veem que eu to montando e cantando tudo ao vivo. Vou sentindo a vibe da galera e monto o show ali na hora;, conta.
Forró Red Light
Formado por Ramiro Galas, de 33 anos, e Geninho Nacanoa, de 43 anos, o duo surgiu da ideia de realizar um baile de forró misturado com uma festa de música eletrônica. Assim, eles trazem o calor humano e a dança de um bom forrobodó com a intensidade e continuidade de uma festa de música eletrônica, um arrasta-pé do futuro.
O grupo já fez apresentações em grandes festivais como o Coala, em São Paulo, Queremos, no Rio de Janeiro e o Coma em Brasília. ;Todos eles foram de grande importância para a consolidação de nosso trabalho, ampliaram o público e o alcance das mídias. Isso tem muito significado para artistas independentes, sem grande apoio de gravadoras;, afirma Ramiro.
A marca registrada do grupo é o ;Forrobodó System;, denominação para explicar a forma que criam as músicas. ;Misturamos o suingue e os beats latino-americanos, as origens africanas, indígenas e mouras da música, a síntese do forró e de muito mais da cultura nordestina com a música de fora;, explica.
O duo realiza também a sua própria festa, o Baile In Grená, que mistura som e luzes com aroma de essências naturais, em uma experiência extrassensorial. ;O baile foi criado para reproduzir a atmosfera musical eletro orgânica dentro de um ambiente de festa. Com elementos que despertam os sentidos e ajudam a comunicar e promover artistas com a mesma linguagem que a nossa;, conta Geninho, idealizador da festa.
Beatriz Águida
Cantora e compositora de 35 anos, Beatriz participa de bandas e projetos musicais desde 1998, dentre os trabalhos tem como destaque a banda Pulso. A artista, que sempre tentou viver da música, mas há cinco anos trabalha como educadora infantil, se juntou a técnica de Live PA por acidente. ;Íamos participar de um festival, mas o nosso baterista não pôde participar. Então o baixista, Leonardo Ribeiro, sugeriu que chamássemos o Ramiro Galas, do Forró Red Light. O show deu tão certo que decidimos gravar um disco;.
Segundo Beatriz, as influências de música eletrônica sempre estiveram presentes em sua vida, mas nunca havia usado em suas próprias músicas. Agora, vive uma nova fase andando lado a lado com o eletrônico em suas apresentações, que estão agradando quem escuta. ;O feedback é muito bacana. Sinto que o eletrônico e o orgânico se abraçaram.. É um som sincero, é nisso que acredito e quero passar;, diz.
A artista, que já fez participou de festivais como o Bocadim, Quanta e Coma, contou ainda que prepara está prestes a lançar um novo disco Água e som. ;Vamos ter um formato com voz, guitarra, baixo e bases eletrônicas. Nos shows já temos bases de beats, mas o Ramiro sempre improvisa;, revela.
*Estagiário sob supervisão de Severino Francisco