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Para homenagear o centenário de Jackson do Pandeiro, reportagem dos Diários Associados vai à sua terra natal

Correio Braziliense
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postado em 31/08/2019 04:08
Para homenagear o centenário de Jackson do Pandeiro, reportagem dos Diários Associados vai à sua terra natal


Alagoa Grande (PB) - Município da Paraíba, com 28,4 mil habitantes, a 118 quilômetros de João Pessoa, Alagoa Grande recebe gente do Brasil e do mundo, que chega lá em busca dos primeiros passos de um dos nomes disruptivos da música brasileira. Há exatos 100 anos, completados em 31 de agosto, nascia José Gomes Filho, fruto da união do oleiro Zé Gomes e de Flora Mourão, cantadora de coco. Como que avisando ao visitante que ali é território sagrado da música, um monumento em forma de pandeiro abre as portas da cidade, que se desenvolveu em torno de lagoa emoldurada por casas coloridas que desenham a geografia. ;Jackson já veio com o ritmo no sangue. A mãe dele era coquista, muito requisitada na região. Desde muito cedo, ele tocava zabumba ou ensaiava alguns toques iniciais de percussão. Foi ali que ele decidiu ser um músico profissional;, conta o escritor Fernando Moura, coautor com Antônio Vicente, da biografia Jackson do Pandeiro: o rei do ritmo (Editora 34).

No último dia 18, domingo, era possível avistar, por toda a cidade, motocicletas aos montes. A presença dos motociclistas denunciava que o vaqueiro do sertão, montado a cavalo, gibão e chapéu de couro ; imagem essa de um sertão imaginário ;, não é a única do homem e da mulher nordestina. E Jackson há muito diz isso em sua música, que faz a ponte entre a tradição do sertão e a modernidade das cidades.

Perceber a geografia da cidade, que fica na região do Brejo da Paraíba, interligando o litoral ao sertão, nos dá pistas para entender a música de José Gomes Filho, que, depois de ter saído de lá, já em Campina Grande, trocou o nome de batismo para Jackson. A reportagem do Estado de Minas foi à Paraíba, por ocasião das comemorações do centenário de Jackson do Pandeiro, para ouvir especialistas, músicos populares e nomes que despontam da música contemporânea ; como mostramos no vídeo Para entender: para ouvir Jackson do Pandeiro. No entanto, por generosidade, a Paraíba dá sempre mais: no domingo de céu nublado e chuva fina, no Memorial Jackson do Pandeiro, testemunhamos turma de 50 alunos, que tocavam sucesso de Jackson com flauta doce, escaleta e lira.

A turma do Instituto de Educação Infantil e Ensino Fundamental Virgem dos Pobres viajou uma hora e meia de Mogeiro a Alagoa Grande para prestar homenagem ao rei do ritmo. ;Jackson do Pandeiro é o homem que marcou a nossa terra, a nossa história, com um ritmo que só ele pode fazer, tocando seu pandeiro. Tocou muitos instrumentos, mas o que mais se destacou foi o pandeiro, com que ele fez e faz ainda hoje sucesso. Jackson do Pandeiro foi um homem muito importante. Ele, quando era pequeno, ajudou a sua mãe, que não conseguia ter nada, porque seu pai tinha acabado de morrer, quando ele tinha 11 anos de idade. Ele foi um homem que marcou a história do Brasil e de toda cidade;, diz a pequena Iany Carla Borges dos Santos, de 8 anos.

Ela tem na ponta da língua sucessos como Sebastiana, de 1953, e Como tem Zé na Paraíba. ;Ele foi fazer um jornal. E, nesse jornal, o radialista disse que estava faltando alguma coisa nele para fazer esse som. Era alguma coisa no nome dele. Então, botou Jackson, o rei dos ritmos. Ele tocava tudo, mas o principal era o pandeiro. Então, por isso ele acrescentou Jackson do Pandeiro;, conta a menina, colocando ênfase em Jack toda vez que pronuncia o nome do músico. Mas o nome artístico que Jackson adotou não foi aprovado pela mãe, como revelado no livro O fole roncou! Uma história do forró (Editora Zahar), de Carlos Marcelo e Rosualdo Rodrigues. ;Mas é isso mesmo... Eu batizo um filho com nome de José, e vêm o diabo trocar o nome para um tal de Jack que eu não sei de onde saiu nem por onde entrou!”, disse a mãe.

Criado em 2008, o Memorial Jackson do Pandeiro, em Alagoa Grande, ocupa um casarão azul com janelões. O visitante encontra parte da discografia, instrumentos tocados ou fabricados por Jackson, o violão que ele tocou assinado por Juscelino Kubitschek, roupas da esposa Almira Calixto; fotos históricas, como o registro do encontro dele com Luiz Gonzaga, cordéis e revistas, recortes de jornais e vídeo contando a história dele. Entre tantas preciosidades, o visitante pode ouvir o primeiro LP de Jackson, gravado em 1953 em 78 rotações, com os sucessos que apresentaram Jackson, Sebastiana; e Forró do Limoeiro. O disco na vitrola irradia a música de Jackson para todo o Brasil. ;Pra gente é uma satisfação enorme saber que um filho de Alagoa Grande, que era negro, nasceu pobre lá no engenho, afastado até da cidade, conseguiu pelo seu talento e seu esforço mudar a música no mundo;, analisa Marcelo Félix, secretário da Cultura e Turismo de Alagoa Grande. Jackson foi casado três vezes. A última esposa foi Nelza, que atualmente vive em João Pessoa.


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