Diversão e Arte

Exposição Vaivém chega ao CCBB e fica na capital até novembro

A visitação é até 10 de novembro. De terça a domingo, das 9h às 21h

ROBERTA PINHEIRO
Roberta Pinheiro
postado em 04/09/2019 07:00
A visitação é até 10 de novembro. De terça a domingo, das 9h às 21h

O nome faz uma referência ao movimento das redes. A exposição Vaivém, em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil, contudo não se limita ao balanço do objeto. Pelo contrário, ela desfaz cada amarração das redes de dormir e se revela como um grande estudo de caso da invenção da brasilidade. ;A rede, o samba, o futebol, nenhuma associação ao Brasil se deu de maneira aleatória. Cria-se um discurso. A mostra é importante para desconstruir o senso comum, quebrar o que a gente assume como sendo obviamente brasileiro e complexificar esses símbolos e lugares;, afirma Raphael Fonseca, curador da exposição, crítico, historiador da arte e curador do MAC-Niterói.

A construção do projeto teve início em 2012 no doutorado de Fonseca. Ao se debruçar sobre a representação da preguiça no Brasil, ele encontrou uma presença constante e numerosa da rede de dormir. ;Optei pelo deslocamento da tese e trabalhei mais de 300 imagens de coleções brasileiras e internacionais. Percebi que havia ali um material muito rico e uma narrativa possível para a história da arte no Brasil que não havia sido contada;, detalha. Munido da vasta pesquisa, ele construiu um projeto curatorial que desconstrói clichês e estereótipos.

Na narrativa expositiva, Fonseca optou por um olhar transhistórico, não cronológico. Mesclando documentos históricos a trabalhos contemporâneos e promovendo um diálogo entre pinturas, esculturas, instalações, fotografias, vídeos, intervenções e performances, o crítico e curador traça não só a história das redes de dormir, mas também o impacto delas na formação da identidade brasileira. ;É uma possibilidade de olhar para a história a partir de múltiplos tempos, uma maneira mais anacrônica;, resume.

Ao todo, Vaivém reúne mais de 300 obras, com recorte entre os séculos 16 ao 21 e 141 artistas

A mostra está dividida em seis núcleos temáticos. Resistências e permanências, no qual as redes aparecem como símbolo onipresente da cultura dos povos originários do Brasil; A rede como escultura, a escultura como rede reúne trabalhos que usam o objeto como ferramenta escultórica; Olhar para o outro, olhar para si apresenta trabalhos de artistas históricos; Disseminações: entre o público e o privado, as redes são reveladas como atividades do cotidiano do período colonial brasileiro; Modernidades: espaços para a preguiça, o objeto passa a ser associado à preguiça e ao descanso; e, por último, Invenções do Nordeste, revela a relação entre as redes e esta região do país, além de trabalhos em que elas surgem como símbolo de orgulho local e de sua potente indústria têxtil.

Ao todo, Vaivém reúne mais de 300 obras, com recorte entre os séculos 16 ao 21 e 141 artistas. Entre eles, nomes como Bené Fonteles, Cláudia Andujar, Bispo do Rosário Rede de Socorro, coletivo Opavivará, Hélio Oiticica, Tunga, Ernesto Neto, Jean-Baptiste Debret, Dalton Paula e até um desenho pouco exibido de Tarsila do Amaral. Fonseca aponta que um dos grandes aprendizados dessa pesquisa foi descobrir que a rede de dormir é uma invenção ameríndia. ;Nada mais justo, então, do que a presença de artistas indígenas;, acrescenta o curador.
Assim, entre as obras estão produções de 32 indígenas, uma grande parte inédita. ;Não romantizamos a relação com esses artistas, não hierarquizamos. A ideia foi deixar eles livres para produzir;, afirma Fonseca. Compõem, dessa forma, a rede de relações da exposição Vaivém as pinturas de Carmézia Emiliano, da Duhigó, do Jaider Esbell; os desenhos de Yermollay Caripoune; o vídeo de Arissana Pataxó, entre outros.
[VIDEO1]

A cada núcleo visitado, novos olhares e muitas reflexões são despertadas. ;Acho que não tem uma conclusão específica. São várias. É um objeto que possibilita discursos variados, do colonizador e colonizado, do patrão e funcionário, do senhor de engenho e escravizado. Pelos próximos séculos, a rede vai balançar para lá e para cá criando novas leituras e simbologias;, resume.
Ao Correio, o curador pontua três trabalhos que o público não pode perder:

MAHKU (Movimento dos Artistas Huni Kuin)
Em São Paulo, eles criaram uma pintura mural que faz referência ao canto Yube Nawa Aibu
É um grupo de artistas que mora no Acre e trabalha, principalmente, com pintura em larga escala. Em cada CCBB, eles estão fazendo uma pintura diferente e sempre pinturas que têm a ver com uma série de cantos tradicionais, passados geracionalmente, e que, de alguma maneira, podem vir a se relacionar com narrativas que tem a ver com a redes. Em algumas imagens, eles pintam algumas redes como elemento da narrativa e, em outras, como elementos centrais. É interessante também como é um trabalho coletivo.

Talles Lopes
[VIDEO2]
Na obra, ele faz uma réplica da coluna do Palácio da Alvorada, que o Niemeyer projetou, e deita essa coluna numa rede com as cores verde e amarelo. É uma espécie de ironia ou reflexão, como se Brasília estivesse dormindo na rede. Então, tem uma série de leituras que o público pode fazer a partir do trabalho.

Carmézia Emiliano
A visitação é até 10 de novembro. De terça a domingo, das 9h às 21h
É uma pintora do povo Macuxi, que mora em Boa Vista. Ela fez três quadros para a exposição, hipercoloridos, com as redes e sempre com mulheres, porque, nas culturas ameríndias, são as mulheres que fazem as redes. É uma super pintora e acho importante frisar que é uma artista indígena contemporânea, mas é um trabalho que acrescenta muito nas discussões em geral sobre pintura na arte contemporânea.

Serviço

Exposição Vaivém
No Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). Visitação até 10 de novembro. De terça a domingo, das 9h às 21h



Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação