postado em 04/09/2019 04:08
O nome faz uma referência ao movimento das redes. A exposição Vaivém, em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil, contudo não se limita ao balanço do objeto. Pelo contrário, ela desfaz cada amarração das redes de dormir e se revela como um grande estudo de caso da invenção da brasilidade. ;A rede, o samba, o futebol, nenhuma associação ao Brasil se deu de maneira aleatória. Cria-se um discurso. A mostra é importante para desconstruir o senso comum, quebrar o que a gente assume como sendo obviamente brasileiro e complexificar esses símbolos e lugares;, afirma Raphael Fonseca, curador da exposição, crítico, historiador da arte e curador do MAC-Niterói.
A construção do projeto teve início em 2012 no doutorado de Fonseca. Ao se debruçar sobre a representação da preguiça no Brasil, ele encontrou uma presença constante e numerosa da rede de dormir. ;Optei pelo deslocamento da tese e trabalhei mais de 300 imagens de coleções brasileiras e internacionais. Percebi que havia ali um material muito rico e uma narrativa possível para a história da arte no Brasil que não havia sido contada;, detalha. Munido da vasta pesquisa, ele construiu um projeto curatorial que desconstrói clichês e estereótipos.
Na narrativa expositiva, Fonseca optou por um olhar transhistórico, não cronológico. Mesclando documentos históricos a trabalhos contemporâneos e promovendo um diálogo entre pinturas, esculturas, instalações, fotografias, vídeos, intervenções e performances, o crítico e curador traça não só a história das redes de dormir, mas também o impacto delas na formação da identidade brasileira. ;É uma possibilidade de olhar para a história a partir de múltiplos tempos, uma maneira mais anacrônica;, resume.
A mostra está dividida em seis núcleos temáticos. Resistências e permanências, no qual as redes aparecem como símbolo onipresente da cultura dos povos originários do Brasil; A rede como escultura, a escultura como rede reúne trabalhos que usam o objeto como ferramenta escultórica; Olhar para o outro, olhar para si apresenta trabalhos de artistas históricos; Disseminações: entre o público e o privado, as redes são reveladas como atividades do cotidiano do período colonial brasileiro; Modernidades: espaços para a preguiça, o objeto passa a ser associado à preguiça e ao descanso; e, por último, Invenções do Nordeste, revela a relação entre as redes e esta região do país, além de trabalhos em que elas surgem como símbolo de orgulho local e de sua potente indústria têxtil.
Ao todo, Vaivém reúne mais de 300 obras, com recorte entre os séculos 16 ao 21 e 141 artistas. Entre eles, nomes como Bené Fonteles, Cláudia Andujar, Bispo do Rosário Rede de Socorro, coletivo Opavivará, Hélio Oiticica, Tunga, Ernesto Neto, Jean-Baptiste Debret, Dalton Paula e até um desenho pouco exibido de Tarsila do Amaral. Fonseca aponta que um dos grandes aprendizados dessa pesquisa foi descobrir que a rede de dormir é uma invenção ameríndia. ;Nada mais justo, então, do que a presença de artistas indígenas;, acrescenta o curador.
Exposição Vaivém
No Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). Visitação até 10 de novembro. De terça a domingo, das 9h às 21h