postado em 04/09/2019 04:08
Recado
;Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não escuta música, quem não acha graça em si mesmo.;
Pablo Neruda
Uiiiiiiiiiiiiii! Segura o ministro da Educação
Sua Excelência sentou-se diante do computador. Tinha de escrever ofício ao colega da Economia. O objetivo era nobre ; convencer Paulo Guedes a poupar de cortes o rico dinheirinho do MEC. Começou espancando a língua: ;Com a redução de bolsistas de mestrado e doutorado, há paralização de pesquisas;. Assim mesmo ; paralisação com z. Sem piedade, repetiu a surra no parágrafo seguinte: ;Haverá a paralização de cursos, campi e possivelmente instituições inteiras;. Releu o texto. Satisfeito, assinou embaixo.
A família
Abraham Weintraub esqueceu que, na língua, a família fala alto. O clã explica, por exemplo, a presença do s em analisar e do z em civilizar. Analisar é derivado de análise. Ora, se análise tem s no radical, nada mais justo que a letrinha se mantenha no verbo. É o caso de bis (bisar), catálise (catalisar), pesquisa (pesquisar), liso (alisar), improviso (improvisar). E, claro, paralisia (paralisar). Reparou? O s faz parte da palavra primitiva. O verbo se formou com o acréscimo do -ar.
Sem mudança
A família das ilustres criaturas seguem a regra: análise (analisar, analisado, analisador), paralisia (paralisar, paralisante, paralisado, paralisação), pesquisa (pesquisar, pesquisador, pesquisado), catálise (catalisador, catalisante, catalisado), improviso (improvisar, improvisação, improvisado, improvisador). E por aí vai.
A vez do z
Como explicar a presença do -izar em amenizar, capitalizar, humanizar, simbolizar etc. e tal? Eles não têm o s onde o prefixo -ar possa se agarrar. Precisam de uma ponte. Construíram o iz, que se mantém nos derivados: ameno (amenizar, amenização), capital (capitalizar, capitalização, capitalizado), humano (humanizar, humanização, desumanizado), canal (canalizar, canalizado, canalizante).
Na origem
Alguns têm o z no radical. Nada mais justo que respeitar a família. É o caso de cicatriz (cicatrizar, cicatrização), deslize (deslizar), juízo (ajuizar, ajuizado), cicatriz (cicatrizar, cicatrização), raiz (enraizar, enraizado).
Até tu, Raquel?
Decisão do STF ;possui o potencial de afetar as milhares de condenações penais referentes a uma miríade de crimes;, escreveu Raquel Dodge. A procuradora-geral da República trocou os gêneros. Milhar, como milhão, é substantivo masculino: Cerca de dois milhares de pessoas assinaram o pedido. Decisão do STF possui o potencial de afetar os milhares de condenações penais. Um milhão de pessoas foram à manifestação. Duzentos milhões de estrelas brilham no céu.
Por falar em milhar...
No tempo em que o jogo do bicho estava no auge, Moreira da Silva fez estrondoso sucesso com o samba de breque ;Acertei no milhar;, que diz: ;Etelvina! O que é, Morengueira? / Acertei no milhar! / Ganhei quinhentos contos, / Não vou mais trabalhar/ Você dê toda roupa velha aos pobres / E a mobília podemos quebrar/ (...) / Etelvina, vai ter outra lua de mel / Você vai ser madame / Vai morar num grande hotel / Eu vou comprar um nome não sei onde / de Marquês Morengueira de Visconde / Um professor de francês, mon amour / Eu vou mudar seu nome pra Madame Pompadour;.
Leitor pergunta
Furacões fazem estragos. Este ano é a vez do Dorian. Ele destruiu casas, derrubou árvores, inutilizou carros. Ao ver o noticiário, fiquei curioso: qual a origem do vocábulo furacão?
Célia Matos, Guarujá
A palavra veio do espanhol huracan. A língua de Cervantes se inspirou em Huracan, deus da mitologia maia. A divindade dos ventos, das tempestades e do fogo tratava da construção e da destruição na natureza. Tinha o nome associado às tormentas e às tempestades. Daí o fato de muitos descobridores designarem grandes tempestades de furacões.