postado em 05/09/2019 04:08
;Vamos matar este maldito palhaço;, demarca o personagem Richie (Bill Hader), em comum acordo com uma infinidade de amigos de infância que movimentam a trama do longa It: Capítulo dois. Com estreia hoje, na cidade, It: capítulo dois, a continuação do maior êxito de terror de todos os tempos traz um novo embate entre os integrantes do chamado Clube dos Otários e do sinistro palhaço Pennywise.
Tudo se dá em tempos atuais, contrariando a base para os dois filmes, um livro do mestre do horror literário Stephen King, lançado em 1986, com mais de 1000 páginas. Vale a lembrança de que It: a coisa, lançado há dois anos nas salas de cinema, esteve à frente de O sexto sentido (1999) e do cultuado O exorcista (1973), nas bilheterias mundiais.
Para além das assustadoras imagens de pessoas ;desmembradas; em cena, o filme de Andy Muschietti, o mesmo diretor do primeiro filme e ainda de Mama (2013), avança em devastadores segredos, libertos depois que, um a um, os personagens do primeiro filme se reencontram, passados 27 anos. Autoproclamado um ;Devorador de Mundos;, o amedrontador palhaço persegue um final nada feliz, seguindo a linha de um escritor retratado na trama: o solitário Bill (James McAvoy, de Fragmentado).
Assustadoramente demorado, o novo filme, com ação passada na mesma pequena cidade de Derry, tem pouco menos de três horas de narrativa. Para demarcar parte da ambientação, quando da juventude da galeria de amigos que contempla a voluntariosa Beverly (Jessica Chastain, na segunda fase do longa), o estudioso Mike (Isiah Mustafa, de Quero matar meu chefe) e o instável Stanley (Andy Bean), o roteiro usa referências aos fliperamas com temática de Street fighter e ainda à atriz Meg Ryan (em pôster de Mens@gem para você).
Efeitos de bullying são expressos das formas mais inesperadas entre os recém-unidos tipos como Ben (Jay Ryan, da série A Bela e a Fera) e Eddie (James Ransone, de A entidade). Muito vem como herança negativa do que passaram em It: a coisa. Richie (Bill Hader, da série Barry), aspirante a astro de stand up, por exemplo, vomita, a todo instante. É o efeito do que passou, na infância.
A grande pergunta do novo filme é esclarecida a partir de uma bateria de sustos: será que, adultos, os protagonistas do filme correm o risco de seguir ;flutuando;, numa condição de estar nas mãos do palhaço manipulador Pennywise? Na aventura, a única mulher entre os marmanjos que cresceram juntos, Beverly confirma o poder de antecipar episódios como o da morte de um dos integrantes da patota dos otários (incapazes de grandes perdas, exatamente por causa desta condição assumida de ;perdedores;).
A fuga num hospício, capaz de libertar personagem essencial do primeiro filme, além de remeter a recurso do remake de Halloween, aproxima o grupo de amigos da nova incursão do pavoroso Pennywise, que tem frequência de ciclos na Terra bem maior do que a aparição do cometa Halley, atuando a cada 27 anos.
Esmiuçando traumas
Na cartela de traumas a serem pinçados e usados contra cada um dos agora crescidos meninos, o palhaço tem amplas possibilidades. Bill, o protagonista do primeiro filme, segue inquietado pela eterna dúvida da maior motivação (num plano racional) para a morte do pequeno irmão Georgie, violentamente assassinado na boca de um bueiro. Diante de uma leve mentira, Bill se vê martirizado pelo crime contra Georgie que (numa comparação cinematográfica), vestido com uma capa de chuva, projeta a evidente comparação com o destino da menina do clássico Inverno de sangue em Veneza (1973).
Contando com o mesmo roteirista de filmes como It: a coisa, A freira e O perigo bate à porta, o calejado Gary Dauberman ; que entre outros feitos macabros, na indústria do cinema, assinou a direção de Annabelle 3: De volta para casa ;, o cineasta argentino (de origem italiana) Andy Muschietti embala o novo filme com a mesma alternância de susto e de sequências engraçadas. Vagando entre seres mulambos e asquerosos, o jovem Eddie, por exemplo, num flashback, tem como irônica trilha sonora a clássica Angel of the morning, enquanto a mãe agoniza, na frente dele.
Noutras duas cenas, igualmente chocantes, um tronco anda, em cadência desnorteada, sem membros superiores e, noutra, jovens ficam literalmente com o coração na mão. Ah! Ainda há o mesmo jogo de portas repletas de armadilhas. Gente trêmula, um inesperado destino para viciados em drogas e a má índole de um aparentemente inofensivo cachorrinho spitz alemão são só alguns sustos, por debaixo das mangas do roteirista Gary Dauberman.