Ricardo Daehn
postado em 07/09/2019 06:25
Oferecer uma oportunidade de os brasilienses terem contato com 10 filmes de gêneros diferentes, focando variados públicos foi uma das metas do curador da Mostra de Cinema Taiwanês, Marcos Coimbra, ao elaborar a seleção de filmes. Associada à realidade de uma democracia consolidada, em etapas históricas bastante diferenciadas, Taiwan tem lugar assegurado numa visão globalizada, especialmente pelo desenvolvimento de tecnologia. O cinema é uma atividade que desempenha boa capacidade de comunicação com o mundo, pela atividade de artistas como os premiados diretores Hou Hsiao-hsien, Ang Lee (que migrou o talento para a indústria de Hollywood, com filmes como O segredo de Brokeback Mountain e Hulk) e Tsai-Ming liang.
Idealizador da mostra, além de crítico e organizador no Cineclube Digital (RJ), o mestre em literatura comparada Marcos Coimbra teve como gatilho para a mostra (que ocupará o Cine Brasília, na EQS 106/107, de 9 a 13 de outubro) um edital da Embaixada de Taiwan para difusão da cultura do país situado a leste da Ásia. ;Tive na mente, como público, desde as famílias com crianças, até pessoas fascinadas por blockbuster, passando ainda por cinéfilos em busca de algo mais alternativo ou autoral;, comenta o curador. Ele destaca para o público mais amplo Long time no sea, um drama musical familiar.
Primeiro filme assinado pela diretora Heather Tsui, com extensa carreira na televisão, Long time no sea trata dos pequenos desejos de um menino, com origens associadas ao povo Yami, que mora com a avó, enquanto espera por mais atenção paterna. Uma das vontades está na aquisição de um par de sapatos. Tradição secular e estudos de dança estão entranhados no enredo. Abrindo toda a programação, que terá entrada franca, às 20h, em 9 de outubro, Cape no. 7 é um drama musical romântico. Tudo parte da relativa derrota do aspirante a cantor Aga que retorna para casa, um tanto desiludido com aspectos profissionais. É quando esbarra na modelo Tomoko, que, no município de Hengchun, recruta artistas ocasionais para montar uma banda integrada por pessoas comuns.
Aficionados
Em 12 de outubro, a atração na mostra será Kano, capaz de retratar a extensão da paixão que taiwaneses têm por beisebol. Dados histórico e biográficos estão mesclados, na trama que decorre em 1931. Realizado em 2014, e com mais de três horas de duração, Kano expõe traços surtidos pela ocupação japonesa, em Taiwan, estendida até o final da Segunda Guerra. O beisebol vem como apoio moral de jovens estimulados à doutrina agrícola, numa região interiorana. Depois de intenso treinamento, o destino de rapazes é mudado e tudo culmina com o olhar atento de 55 mil torcedores envolvidos por disputas no campo.
Filme que mistura drama, fantasia e mistério, numa embalagem das ;que mais pode surpreender o espectador;, como atesta o curador, The tenants downstairs está previsto para ter exibição em 10 de outubro. Longa de estreia de Adam Tsuei, a produção de 2016 trouxe Giddens Ko, o cultuado autor do livro em que o filme está baseado, como corroteirista. O autor conta de estranha interferência na dinâmica dos moradores de um prédio. Na intimidade, e por tempo integral, são espiados, com monitoração plena, pelo proprietário de um condomínio.
Mostra de Cinema Taiwanês
Cine Brasília (EQS 106/107). A partir de 9 de outubro, com abertura às 19h. Até 13 de outubro, com apresentação de 10 filmes. No dia 12 de outubro, às 17h, debate com o curador Marcos Coimbra.
Os imperdíveis, por marcos coimbra
A arte de viver, de Ang Lee
; ;Pode ser considerado uma breve síntese estilística e temática do que Lee viria apresentar posteriormente ao longo de sua cinematografia, com forte implicação biográfica, aspectos das relações culturais e linguísticas entre Oriente e Ocidente e conflitos entre gerações, ou seja, um drama sobre as consequências do espaço-tempo em diferentes épocas da vida dos personagens, impresso em um estilo preciso e delicado, que transmite a atmosfera oriental de forma profunda, sem por isso deixar-se de se fazer entender ou apreciar pelo gosto do espectador ocidental padrão;
Poeira ao vento, de Hou Hsiao-hsien
; ;É um drama romântico que traz o tema do êxodo e das dificuldades de adaptação à cidade grande, mas por detrás desse tema aparentemente simples se descortina um modo de fazer cinema autêntico, cheio de cor local. Ou talvez seja o maior diretor da história do cinema taiwanês, pois seu estilo colocou em xeque os modos tradicionais de tratamento da temporalidade e do próprio recorte tal como eram feitos no cinema mainstream ocidental. Estamos diante do mestre do cinema fragmentado, ou do cinema de fluxo, como ficou convencionado esse estilo que depois teria escola própria;