Diversão e Arte

A poesia norte-americana é tema do projeto Poesia do Mundo

Obras americanas do século 20 serão lidas nesta quarta-feira na Casa Thomas Jefferson. Confira a entrevista com a idealizadora do projeto, Maria Lúcia Verdi

Severino Francisco
postado em 11/09/2019 09:45
Allen Ginsberg é um dos poetas que serão lidos hoje no projeto Poesia do MundoA poesia norte-americana do século 20 é o tema da sexta edição do projeto Poesia do Mundo, idealizado pela poeta e mestre em literatura Maria Lúcia Verdi. Serão lidos, em inglês e em traduções ao português, textos Walt Whitmann, William Carlos Williams, Silvia Plath, Raimond Carver, Allen Ginsberg, Adrienne Rich, Harold Norse, Simon Ortiz, Elizabeth Bishop, Rita Dove e Miguel Piñero. E, nesta entrevista, Maria Lúcia fala sobre o projeto e sobre as singularidades da poesia estadunidense.
Entrevista // Maria Lúcia Verdi
Como concebeu esta edição de Poesia do Mundo com os poetas norte-americanos? O que norteou a escolha dos poetas?
A poesia norte-americana é incrível, mudou a estética mundial com Walt Whitman, com Ezra Pound e com a geração beat. Tive o sentimento de que a linha iniciada por Whitman, poeta excepcional, linha comprometida com a vida real, com a linguagem da gente comum, com a musicalidade da respiração, com a liberdade de ser e se manifestar a partir da diferença que forma cada um, seria oportuna num momento em que a ;diferença; luta por resistir por meio de distintas formas de ativismo.

Minhas leituras me guiaram, mas sobretudo a escolha da temática da resistência ; poetas que enfrentaram extremos desafios na vida pessoal, que resistiram, e elaboraram grande poesia a partir daí. São poetas comprometidos com o mundo dos ;beat; (;cansados;, uma das acepções do termo), das minorias (gays, lésbicas, negros, indígenas) ou que escrevem a partir de uma crise existencial permanente, como Silvia Plath, que se suicidou.
Como a poesia americana se situa no modernismo internacional?
A poesia norte-americana, com a introdução do verso livre e de temas banais, em 1855, com Folhas de Relva, de Walt Whitman, e com a obra de Ezra Pound, que se utiliza da intertextualidade, das referências a outras culturas e poetas, bem como da tradução, modificaram o cenário da poesia internacional. Pound influenciou o modernismo. Whitman influenciou a filosofia, a música, o undergournd a partir do que dele recuperaram os escritores da geração beat, surgida a partir da metade dos anos quarenta.

Como temática, uma das singularidades da poesia norte americana é a presença constante da natureza. Com a geração beat e, posteriormente com os beatnik, a cidade, as questões do homem perdido no asfalto, encurralado entre arranha-céus e a dificuldade de sobreviver, de trabalhar, vem a ser outra característica, como nos contos e poemas de Raimond Carver, um dos poetas a serem lidos, representante do Realismo Sujo americano.


A liberdade é um tema forte para a sociedade americana?
A liberdade é central na expressão poética dos poetas selecionados. Diferentemente da linha Pound-T.S: Eliot, hermética, sofisticada, filosófica, a linha escolhida: Whitman- Williams Carlos Williams- Allen Ginsberg nasce de escritores que tem coragem de se expor, de falar de seus traumas e desafios, de lutar para que todos possam ter o direito de expressar sua diferença. W.C.Williams, médico e poeta, vivia uma vida familiar tranquila mas retratava os intranquilos, os necessitados.


Que lugar atribui à poesia no mundo atual, dominado pela velocidade, o narcisismo, a servidão voluntária, entre outras ameaças?
O lugar que é preciso descobrir em si, escutar em si, descobrir no outro, na fala do outro, descobrir em torno a si, olhando e escutando o mundo. A poesia é o lugar do profundo, do que se descobre em silencio ou se identifica em um grito (Allen Ginsberg e seu Uivo) que vem da rua, da dinâmica da vida.

A musicalidade, a síntese, a imagética, tudo o que compõe a poesia pode falar de um modo especial sobre esse mundo que você bem definiu. Ela é um outro discurso, uma outra fala, uma pontuação necessária no escorrer interminável e ininterrupto da informação que nos invade.
Serviço
Poesia estadunidense do século 20
Casa Thomas Jefferson (706/906 Sul). Nesta quarta-feira (11/9), às 20h. Entrada franca. Classificação indicativa livre.

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