Diversão e Arte

Sarau das Sebastianas valoriza a arte de mulher para mulher

A região de São Sebastião foi escolhida para receber a primeira edição do evento, que promete literatura, música e teatro no Parque Ambiental do Bosque

Melissa Duarte*, Caroline Cintra
postado em 13/09/2019 17:26
Dhi Ribeiro é um dos expoentes do samba nacionalA arte das mulheres e para as mulheres é o mote do 1; Sarau das Sebastianas que ocorrerá neste sábado (14/9) no Parque Ambiental do Bosque, em São Sebastião. A estreia do evento vai reunir e valorizar iniciativas artísticas como poesia, artesanato, comidas, música, circo, exposição, teatro e dança, com entrada franca.

A ideia do evento surgiu da produtora Nanah Farias. Moradora de São Sebastião e apaixonada por artes, em 2013, ela desenvolveu uma revista com fotos de mulheres carentes da região. Sebastianas veio daí ; e também em homenagem à cidade. Como sempre participou de festivais culturais em todo o DF, acabou se envolvendo com outras festividades e deixou o projeto da revista de lado temporariamente. Quando recebeu a oportunidade para realizar um grande evento, deu o nome de um projeto para a outra, então surgiu o Sarau das Sebastianas.

;Foi aí que veio a ideia de um evento com a organização e participação de mulheres. Minhas expectativas são as melhores e acredito que o parque vai bombar. Pretendo fazer outras edições, uma por ano. Tivemos a sorte do patrocínio do Fundo de Apoio à Cultura do DF (FAC-DF) e espero que nos próximos anos a gente consiga novamente;, diz. A proposta é perpetuar o sarau por outras cidades do DF.

Atrações do 1; Sarau das Sebastianas

Na primeira edição, quem participa são nomes conhecidos Brasília afora. Entre as principais atrações está a cantora Dhi Ribeiro. Carioca criada em Salvador, foi no DF que a sambista construiu a carreira musical. Em 2017, a artista participou do The voice Brasil representando a capital federal e ganhou mais notoriedade nacional. Para ela, o cenário cultural na cidade tem dado, cada vez mais, espaço para as mulheres. ;É uma felicidade enorme participar de eventos assim. Brasília merece e precisa disso. A quantidade de produtoras, artistas e empreendedoras do meio cultural é grande e tem uma nova geração que já está atuando. Poder participar de um evento feito por mulheres, para mim, ganha um colorido diferente;, diz a sambista.

Também entre as mulheres que se apresentaram como atração musical está a cantora de forró Carliane Alves. Ela lembra que, quando recebeu o convite para participar do evento e soube da proposta, ficou bastante emocionada. ;Foi maravilhoso e não poderia ser melhor. Deveria ter mais outros nesse mesmo sentido, todo trabalhado por mulheres. Espero ver o parque lotado de mulheres e de homens para eles verem que nós somos capazes de fazer e nos mobilizar com nossa arte;.

Representante do forró na capital, Carliane Alves acredita em cenário cultural mais aberto para as mulheres

A artista Xibi Rodrigues, moradora de São sebastião há 21 anos, pinta, desenha, faz gravura, mural e performance poética. No sarau, ela vai expor telas e apresentar poemas em ritmo de rap, em que as pinturas refletem as imagens de mulheres negras e periféricas e as poesias trazem à tona os sentimentos e o dia a dia dela. ;Por meio deles (do meu trabalho), posso derramar todas as imagens e estéticas que me atraem e que compõem meu cotidiano e tudo a que estou suscetível;, explica.

Cristiane Sobral fica responsavel pelas performances poéticas do sarau. Escritora, atriz, cantora e dramaturga, a carioca, radicada em Brasília, une todas essas funções em uma arte que fala sobre afeto, maternidade, feminismo, negritude, diáspora negra e ancestralidade. Erotismo não pode faltar, já que, para Cristiane, a autodescoberta feminina vem da liberdade e de conhecer a própria sexualidade.

Cristiane Sobral une literatura e artes cênicas em seu trabalho autoral
;Falar sobre mulheres negras que se amam, sonham e desejam é revolucionário na ficção;, defende. Por isso, a dramaturga substitui o conceito de solidão da mulher negra pela descoberta do autoamor e do autocuidado dela, algo que está previsto na apresentação. ;O amor romântico não depende de nós. Não que não exista, mas (nós mulheres negras) não estamos esperando por ele. A apresentação (baseada no livro dela Dona dos ventos, lançado neste ano) diz que a gente precisa se bastar;, argumenta. ;As mulheres negras sempre foram as cuidadoras de todas as mulheres, de todas as famílias. Estão na base da pirâmide social. Falar sobre elas reverencia todas as mulheres;, completa.

A pedagoga Karla Ramalho estará no evento. Para ela, a região de São Sebastião é pioneira em saraus da periferia. ;São Sebastião é uma cidade repleta de coletivos e, ao longo do tempo e com muita luta, as mulheres ganharam destaque, mas não estão à frente (dos eventos);, analisa ela, que mora da cidade há 20 anos. Ela acredita que essa seja uma forma de mulheres periféricas, como ela, dialogarem sobre as causas que defendem.

*Estagiária sob supervisão de Adriana Izel

Quem participa?


Circo: dupla Limonada e Caramelo
Exposição: obras de Carli Ayô e Xibi Rodrigues
Música: Carliane Alves, Dhi Ribeiro, DJ Kashuu, Gabi Viola e Martinha do Côco
Poesia: Bia Estiano, Carli Ayô, Cristiane Sobral, Leisa Sasso, Nanda Pimenta, Priscilla Sena, Seira Beira e Xibi Rodrigues
Poesia musicada: espetáculo Dona dos ventos, de Cristiane Sobral, com a instrumentista Dani Vieira
Teatro: A grande aventura, de Kelly Costy, e Brincadeira de Maria, da Trupe As Desempregadas

Serviço
1; Sarau das Sebastianas
No Parque Ambiental do Bosque (Q. 202, cj. 1, Bairro Residencial do Bosque, São Sebastião). Neste sábado (14/9), das 14h às 22h. Apresentações de circo, exposição, música, poesia e teatro. Entrada franca. Classificação indicativa livre.

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