postado em 18/09/2019 04:16
Um dos fundadores do Barão Vermelho, Roberto Frejat construiu ao lado de Cazuza um dos mais ricos legados do rock brasileiro. Depois, em carreira solo, o guitarrista, cantor e compositor carioca continuou produzindo bastante a partir de 2001, quando lançou Amor pra recomeçar, o primeiro álbum individual.
Coautor de clássicos como Bete Balanço, Maior abandonado, Pro dia nascer feliz e Todo amor que houver nessa vida, Frejat vem a Brasília desde os primórdios de sua antiga banda. Hoje, ele retorna para se apresentar no Prudential Concerts Let;s Rock, que ocorre às 20h, no Teatro da Unip, acompanhado por orquestra sinfônica ; formada por músicos arregimentados ; sob a regência do maestro Carlos Prazeres.
Em edições anteriores, que adotou como tema Acordes Brasileiros e Bossa Nova, o Prudential Concerts teve como convidados nomes icônicos da MPB: Gilberto Gil, Milton Nascimento e Alceu Valença. Neste ano, entre maio e agosto, já foi assistido em Porto Alegre, Belo Horizonte e Rio de Janeiro. O encerramento da turnê ocorre em São Paulo, no próximo mês.
Regente da Orquestra Sinfônica da Bahia e maestro assistente da Orquestra Petrobras Sinfônica, o carioca Carlos Prazeres diz que o Prudential Concerts, embora seja descontraído, têm um acentuado conteúdo cultural. ;Parte dos sucessos populares têm referência erudita. Instiga-me reger orquestras tocando rock;n;roll, que têm influência direta do barroco;, comenta.
Prudential Concerts Let;s Rock
Apresentação de orquestra sinfônica tendo Roberto Frejat como convidado, sob a regência do maestro Carlos Prazeres, hoje, às 20h, no Teatro da Unip (913 Sul). Ingressos R$ 50 e R$ 25 (meia- entrada), à venda no local. Classificação indicativa livre.
Como tem sido a experiência de se apresentar acompanhado por uma orquestra sinfônica?
Já havia vivido essa experiência anteriormente, e era apenas algo pomposo. Agora, tem sido especial, pois os arranjos foram criados originalmente para esta formação. Alexandre Caldi se saiu bem ao transpor as canções para a textura e o universo da orquestra.
A escolha do repertório para o concerto foi sua?
Fiz sugestão de músicas que imaginava se adequarem mais a um concerto sinfônico. Mas quando fomos fazer os primeiros ensaios, houve necessidade de incluir outras para preencher esse formato de apresentação. O repertório tem 10 músicas. Há as que compus na época do Barão Vermelho, outras em carreira solo. Tudo ainda, registrada num single, é uma parceria minha com Mauro Santa Cecília e Adriano Nunes, um poeta alagoano.
Você já conhecia o maestro Carlos Prazeres?
Eu já havia tomado conhecimento do trabalho dele, mas só fui conhecê-lo nos ensaios que fizemos em Porto Alegre, antes do início da turnê do projeto. Ele também estava inteirado do que eu fazia e também dos arranjos que foram criados. Houve necessidade de pequenos ajustes, mas depois tudo se encaixou. Tem sido um prazer imenso cantar sob a batuta dele.
Há algum projeto em vista, após a série de concertos?
Tenho um disco gravado e mixado, e agora estou definindo a estratégia de lançamento. São onze músicas e a maioria é de uma produção recente, mas há composições de outros autores que eu interpreto. Vou disponibilizá-las nas plataformas digitais. O single Tudo ainda já pode ser acessado. Devo juntar o repertório num disco físico, para uso promocional, mas serão apenas algumas cópias.. Por enquanto, é o que posso falar sobre esse novo trabalho.
Como avalia a carreira solo, já com quase 20 anos?
Mesmo com as dificuldades que precisamos superar, acredito que tem sido profícua. Desde Amor pra recomeçar, o primeiro álbum, de 2001, que vendeu 105 mil cópias e recebeu disco de ouro, foram lançados quatro discos, três de estúdio e um ao vivo, com o registro da minha apresentação no Rock in Rio de 2011. Convivo com uma boa agenda de shows e continuo produzindo bastante.
A saída do Barão Vermelho foi tranquila ou houve algum trauma?
Foi tudo muito simples e acabou numa boa. Eles (os ex-companheiros de banda) tinham a demanda deles e eu a minha. Como não era conciliáveis, retirei-me em 2017, sem trauma, para nenhuma das partes, acredito.
Gostou do Por que a gente é assim, o documentário sobre o Barão?
Gostei muito do resultado final. Ele é muito fiel ao que aconteceu. Destaco também a direção da cineasta Mini Kert. Produzido para o Canal Curta, obteve uma ótima repercussão.
No filme, há um destaque maior para a sua parceria com o Cazuza. Que lembranças guarda dele?
Trinta anos depois da morte dele, ainda sinto muita saudade do Cazuza, pela parceria, pelo convívio, pela amizade. Sem ele, abriu-se uma grande lacuna no rock brasileiro. A liberdade, a independência, a insubmissão, a rebeldia dele fazem muita falta nos dias de hoje. Músicas que fizemos juntos como Bete Balanço, Ideologia e Pro dia nascer feliz podem ser vistas como marcas registradas da nossa parceria e se tornaram clássicos da música popular brasileira.
Como vê o panorama do rock no Brasil atualmente?
O rock, tanto no Brasil, como em outros países, sobrevive, mas sem o mesmo vigor e projeção de outros tempos. No gosto dos jovem foi substituído pelo hip-hop, como música de contestação. Pelo consumo massivo, também já está sendo cooptado e absorvido pelo sistema.
Que avaliação o artista e o cidadão fazem do país neste momento?
Vivemos atualmente um grande retrocesso em vários segmentos, inclusive no campo da arte e da cultura, diante de tantas barreiras que são impostas. Mas não temos o direito de nos aquietar.Temos que nos rebelar, que lutar para impedir que nos calem, que deixemos de produzir, de fazer arte e cultura. Afinal de contas, é isso que nos distingue como brasileiros.