Diversão e Arte

Encontro de amigos

Em livro, diretor artístico Jorge Davidson reúne amigos artistas e jovens com Síndrome de Down para celebrar a inclusão em homenagem ao filho Breno Prisco

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 22/09/2019 04:07
Caio Salgado Prado de Araújo e Erasmo Carlos



A vida era intensa, um rock and roll total. Shows, artistas, bandas, festas, trabalhos que não paravam e um desenvolvimento profissional crescente e acelerado. O ano de 1985, contudo, introduziu notas compassadas à vida do diretor artístico Jorge Davidson. ;Como seria nosso futuro?;, iniciava a nova canção. Era a chegada de um novo integrante da família: Breno Prisco, primeiro filho do diretor e um bebê com Síndrome de Down. A notícia abalou a harmonia do rock and roll tocado até então. Contudo, entre ensaios e novos arranjos, Davidson encontrou o perfeito equilíbrio entre intensidade e lentidão: o amor. ;Ele é nada mais nada menos que meu filho;, afirma o diretor artístico.

Em homenagem ao filho e, sobretudo, para celebrar a inclusão, Davidson lança a segunda edição de Down! Viva a diferença com arte e inclusão. O livro de fotografias com mais de 40 personalidades das artes e do esporte clicadas ao lado de jovens e adultos com Síndrome de Down é uma verdadeira reunião de amigos. Nos cliques de Cristina Granato, Marcia Moreira, Marcos Hermes e Maurício Valladares, estampam-se abraços, sorrisos, brincadeiras, admiração e, principalmente, igualdade de quem ama a vida em suas particularidades, entre ritmos intensos e lentos.


;Não são ensaios posados, são encontros fotográficos. A ideia foi juntá-los de acordo com a atividade deles, atividade laboral, esportiva, profissional;, explica o diretor artístico.

Mais do que um livro de fotografias, a produção resulta da união de forças de Davidson e do filho Breno, assistente de produção que viabilizou muitos encontros, e de partilhas entre artistas, esportistas e jovens com Down. Acostumado a viver no meio artístico desde pequeno, o projeto foi uma satisfação para Breno. Como uma corrente, um chamou o outro e todos viabilizaram Down! Viva a diferença com arte e inclusão. Alceu Valença, Ana Carolina, Cissa Guimarães, Djavan, Erasmo Carlos, Júnior, Marcelo D2 e Regina Duarte são alguns dos nomes que não pensaram duas vezes em apoiar a proposta.


Ao publicar o material, além da beleza genuína dos cliques, o diretor artístico comprova que não há limitações para a inclusão, a independência e a autonomia. Breno participou de toda a produção do livro e Yve Caminha, outra jovem com Down, foi assistente de fotografia. ;Como as pessoas com síndrome de Down estão cada vez mais presentes nas mais diversas áreas, até parece que tem havido um aumento dessa população. Na verdade, são suas próprias conquistas que as vêm colocando em todos os ambientes. Elas têm abraçado as oportunidades do mundo moderno para ocupar, de forma crescente, seu devido espaço na sociedade. Têm alegria de viver e são experts nessa arte;, afirma Davidson.


Mais de 30 anos depois, o diretor artístico não vê mais o rock and roll da sua vida sem as notas compassadas. ;Não existe ninguém preparado para essa situação ou que possa compreendê-la na sua essência e de momento. Não sou um ótimo pai, eu sou um pai e faço o que posso dentro da minha responsabilidade, dentro do meu amor. Hoje, eu não sei o que seria da minha vida sem ele. Falo que eu que sou dependente dele, na relação, na companhia, na amizade. Brinco que nós dois somos um;, conta.



DOWN! Viva a diferença com arte e inclusão
Gryphus Editora. 120 páginas. R$ 49,90




Três perguntas / Jorge Davidson


Por que decidiu produzir este livro de fotografias?
Hoje, me considero um integrante da primeira geração de pais inclusivos, mas as coisas eram mais difíceis lá atrás. O livro é uma busca de oferecer essa experiência aos novos pais, às futuras gerações e às pessoas com Síndrome de Down. Procurei unir as minhas experiências e a minha vivência como pai. É um projeto de amigos, são os meus artistas ao longo de toda minha vida e a relação do meu filho, dos amigos do meu filho. É poder dar um exemplo, que as pessoas observem casos positivos.


Entre tantos aprendizados, qual destacaria que foi o maior deles nesses mais de 30 anos de vivência com o Breno?
São vários, mas, acima de tudo, o amor, o carinho, a ingenuidade, a generosidade, a gratidão. São coisas que você vai observando e percebe que não tem maldade. Tenho algumas dessas virtudes, mas a maioria delas aprendi ao longo da minha relação com ele e com eles. São pessoas sensíveis e espontâneas. Costumo dizer que se todos fossem iguais a eles, o mundo seria melhor, mais humano, mais divertido, com menos maldade. Também aprendi a me policiar no nosso sistema de vida, a correria, a ansiedade. Ele me fez buscar uma moderação. Mas tenho muito o que aprender ainda.


Acredita que hoje a inclusão já é uma realidade? Se sim, quais são os próximos desafios?
Hoje, considero que a inclusão é um fato. Já me deparei no passado com situações mais difíceis. Independência e autonomia são as buscas para as próximas gerações. Muitos deles já têm, em escalas distintas, mas envolve também uma limitação dos pais, sobretudo na autonomia. Eu mesmo me sinto um pouco limitado. Isso vai progredir, mas esse alcance, mais do que nunca, vai precisar do entendimento dos pais. Não que eu não queira que ele alcance, mas tem coisas que eu não estou preparado ainda. O Breno trabalha, vai a todos os lugares, tem sua liberdade. Lá atrás não eram essas as expectativas. Com certeza, o incentivo e o estímulo vão levando-os adiante. Eles estão de mãos dadas, um ajudando o outro e fazendo a progressão diante da sociedade.

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