Irlam Rocha Lima
postado em 28/09/2019 06:00
Embora a década de 1980 tenha entrado para a história da música popular brasileira como o período que o rock produzido no país ocupou lugar de grande relevância, foi um artista do segmento pop que mais acumulou hits: o cantor, compositor e pianista paulistano Guilherme Arantes. Com músicas tocando sem parar nas rádios FM e canções se sucedendo na trilha sonora de novelas, ele também foi gravado por nomes icônicos da MPB, como Roberto Carlos, Caetano Veloso, Elis Regina, Maria Bethânia e Baby do Brasil.
Mais recentemente, Gal Costa incluiu composições de Guilherme em seus discos. Mas ele tem sido regravado por cantoras da nova gerações, entre os quais Ana Carolina, Vanessa da Mata e Céu, o que demonstra o interesse dos intérpretes pelo trabalho do artista que, com mais de 40 anos de carreira, continua produzindo sem parar.
Desde 2000, Guilherme divide-se entre a música e o Instituto Planeta Água, ONG que mantém em Jacuípe, no litoral norte da Bahia. Ali, faz o plantio e o replantio de mudas, a conservação dos manguezais, além de desenvolver atividades ligadas à educação ambiental e artesanato voltado para jovens e senhoras. No local, instalou também uma pousada para receber músicos, um estúdio e a produtora Coaxo do Sapo.
[SAIBAMAIS]Guilherme se desdobra para cumprir a agenda de shows, uma vez que continua se apresentando por todas as regiões. De volta a Brasília, o cantor ocupa o palco do Teatro da Unip, sábado (28/9), às 21h, com um recital de piano e voz no qual revisita canções que marcaram a trajetória artística, como Amanhã, Brincar de viver, Cheia de charme, Deixa chover, Êxtase, Fã número 1, Meu mundo e nada mais, Planeta água e Um dia um adeus.
Guilherme Arantes
Show de piano e voz neste sábado (28/9), às 21h, no Teatro da Unip (913 Sul). Ingressos: R$ 100 (setor especial) e R$ 120 (setor vip) ; valores referentes à meia entrada. Assinante do Correio tem direito a 50% de desconto no preço do ingresso de inteira. Ponto de venda: rede de lojas Óticas Diniz e na bilheteria do teatro. Não recomendado para menores de 14 anos.
Entrevista // Guilherme Arantes
O show de piano e voz, de característica intimista, lhe permite o que?
Esse formato de show, quase um recital, me dá liberdade para passear pela minha obra, de interpretar um número maior de canções e de ter uma interação maior com a plateia. Estar mais próximo das pessoas, dos espectadores, me traz muita satisfação.
Além dos clássicos de sua obra, o que nunca fica de fora do repertório?
É claro que o público espera que eu cante músicas que se tornaram marcantes em minha carreira, como Amanhã, Cheia de charme, Êxtase, Meu mundo e nada mais, Planeta água e Um dia um adeus. Mas sempre incluo no repertório as ;pops-bossa; Coisas do Brasil, Deixa chover e O melhor vai começar, além de canções do Flores & Cores, meu disco mais recente.
Ter composições suas gravadas por ícones da MPB foi algo relevante para você?
Para mim, foi um privilégio ter as minhas criações no repertório destes grandes nomes da MPB. O Caetano regravou Amanhã, que eu já havia gravado. Pedacinhos, que Bethânia registou é uma parceria minha com Juan Lucien. Essa é uma canção com presença nas FM até hoje. Tenho músicas nos novos discos de Gal, que fiz a pedido dela; mas também sou gravado por artistas da nova geração, entre as quais Ana Carolina, Vanessa da Mata e Céu. É uma alegria, pois a gente busca uma continuidade na carreira.
Quase 40 anos depois, que lembrança você guarda do MPB Shell em que Planeta Água era a favorita para vencer o festival e ficou em segundo lugar, provocando uma grande polêmica?
Planeta água ter ficado em segundo lugar no MPB Shell se tornou algo emblemático em minha carreira. As vaias da plateia dos festivais, tanto os da TV Record, quanto o Internacional da Canção da TV Globo são elementos importantes e fazem parte da história da música popular brasileira. Eram componentes quase que obrigatórios e causavam muita repercussão. Fui beneficiado com aquele segundo lugar, pois até hoje aquele fato é lembrado e Planeta água tornou-se um clássico da minha obra.
Os festivais fazem falta nos tempos de agora?
Festivais daquele porte, com certeza, fazem falta hoje em dia. Eles poderiam contribuir para o surgimento de compositores. A música brasileira não vai bem. Hoje, se faz música utilitária, em vez de música mais profunda, mais ambiciosa.
Você se vê como um precursor por abordar em sua música a questão do meio ambiente?
Planeta água era uma ode à abundância da água e à beleza desse elemento no planeta. Na época não pensava na falta d;água nem na questão do meio ambiente. Com o tempo, por uma casualidade, lhe foi agregado esse sentido preservacionista.
Como vê a discussão em torno do desmatamento e dos incêndios na região amazônica?
O assunto do meio ambiente foi colocada em discussão com a ascensão da social-democracia na década de 1990, que acabou estigmatizando a questão ambiental como causa ligada à esquerda. Atualmente, existe uma reação à direita e promove embates acalorados, provocando um clima de dualismo e polarização, entre o conservacionismo e o produtivismo. Sempre propus a integração entre a produção agrícola e a preservação da biodiversidade. Vejo isso como um casamento obrigatório, principalmente no Brasil, onde a fronteira agrícola tende sempre a querer se expandir. Não tem crescimento sustentável sem a preservação.