Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Figurinista de 'Bacurau' conta detalhes da construção visual do filme

A pernambucana Rita Azevedo foi a responsável por desenvolver o visual do longa. Confira a entrevista

, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles. Além do roteiro disruptivo, o longa também traz a resistência de um povo como o tema central da história.

A tarefa de representar visualmente esse sertão nordestino de Bacurau fica por conta da Direção de Arte e do Figurino da obra. A figurinista responsável por trazer todo essa visualização foi a pernambucana Rita Azevedo. Arquiteta e urbanista pela Universidade Federal de Pernambuco, também desempenhou a função nos filmes Aquarius, Divino amor e Swinguerra. Em entrevista ao Correio, Rita conta sobre o processo de produção para construir o catálogo de roupas e adereços da obra.


Como começa a construção dos seus personagens?

A construção de cada filme é sempre muito diferente. Entrar nesses universos é uma jornada, porque é sempre uma coisa muito específica, sabe? Em Bacurau eu precisei me deslocar no tempo, para o futuro, mas vendo o realismo do sertão hoje. Eu também tinha a necessidade de fazer esse sertão dialogar com as periferias, trazer a atitude, a vaidade, a massificação.


E quanto tempo leva?

São várias semanas de pré-produção. Para chegar em Lunga (interpretado por Silvero Pereira), foram 10 semanas. Eu tinha conversas transformadoras em cada encontro com os diretores e roteiristas. A partir disso, fiz pesquisa de roupas de alta costura. Essas marcas me traziam o elemento do que estava sendo construído hoje, aí eu sempre fazia o cálculo de desconstrução e proporção até o futuro representado no filme.


O filme tem uma história de resistência muito forte. Como isso é representado nas roupas?

Mostrando as pessoas não como fragilizadas e simples. Tem uma atitude no figurino que esse processo de caracterização conseguiu, com as cores vibrantes, o processo de lavagem das peças, os adereços. Não focamos naquele estereótipo de tecido de algodão sem cor.


Como foi para caracterizar Lunga, personagem mais marcante do filme?

Foi bem desafiador. A gente precisava representá-lo ele em dois momentos bem distintos: um como refugiado, em situação desumana, se escondendo; o outro como líder, com força e com vaidade. Um cangaceiro contemporâneo. Lunga tem dois figurinos no filme, que precisaram ser muito certeiros. E foi. O desdobramento dele no filme foi muito incrível, e o figurino com certeza contribuiu para isso.


Para finalizar, o que te chama a atenção no cinema pernambucano, principalmente na sua área de figurino

A gente em Pernambuco passou a ter agora universidades de cinema. Mas antes não tinha isso. Acaba que a formação das pessoas que trabalham com cinema são totalmente diversas. Talvez isso seja importante porque é como se tivesse mais liberdade num processo de construção, e acho que isso traz mais diversidade aos filmes pernambucanos, e acho que isso acaba marcando as produções. Eu tenho um processo de liberdade um pouco maior.
*Estagiária sob a supervisão de Igor Silveira