postado em 01/10/2019 04:13
Ao longo dos 30 anos, o funk viveu diferentes momentos de auge. Esse sucesso do estilo musical no Brasil se deve por retratar exatamente parte da população brasileira. ;Quando você fala de funk, você fala da favela, onde ele foi criado. De cada 10 casas, sete estão produzindo músicas. São canções que saem de um quartinho, que, às vezes, foram gravadas num fone de ouvido e viram sucesso no mundo. O funk é inspiração para muita gente. É o começo de tudo: veja a Anitta que começou no funk e hoje canta vários estilos. Outro exemplo é a Ludmilla. O funk é o ritmo que fala a verdade. Todo funkeiro, MC e DJ quer botar sua verdade, o que ele sentiu, o que ele passou na música;, afirma DJ Iasmin Turbininha, uma das sensação do 150 BPM.
O forte teor social é outro ponto que DJ Marlboro destaca do movimento. ;O funk é muito o dia a dia. Ele dá oportunidade aos excluídos, tem todo um papel importante social;, comenta. De acordo com o especialista Lucas Reginato, a ascensão do ritmo tem a ver ainda com a mensagem, a sonoridade e a simplicidade de concepção: ;O funk é popular porque a linguagem é acessível, e o ritmo é contagiante. O funk é música eletrônica, feita no computador, ninguém precisa aprender a tocar um instrumento e alugar um estúdio de gravação. Por isso, é mais barato de se produzir também. No mundo inteiro, os ritmos mais populares hoje em dia são eletrônicos, como o hip-hop, o reggaeton, o technobrega, etc;.
Mesmo dominando as paradas, o funk continua a sofrer preconceito. As críticas em sua maioria são voltadas ao conteúdo. Em 2017, o Congresso Nacional chegou a discutir a criminalização do funk. Neste ano, uma nova polêmica surgiu com a prisão do DJ Rennan da Penha, que, foi acusado de associação ao tráfico por comandar o Baile da Gaiola. Para especialistas e integrantes do funk, as críticas do estilo musical revelam um preconceito com a origem do ritmo. ;O funk sempre vai ser criticado por ser da favela. E ele sempre vai ser da favela; então, essa discriminação vai acontecer. Mas, se depender de mim, o funk nunca vai acabar. Vai só prosperar. As pessoas não entendem o que o funk faz pelos favelados, pelo povo. Você hoje vê a meninada querendo virar DJ. Ele pode estar produzindo funk hoje e amanhã ser DJ de um grande artista;, comenta Iasmin.
;O funk é perseguido porque é uma expressão do Brasil de verdade, do Brasil que é negro e mora na favela. As críticas quanto à qualidade do funk quase sempre são elitistas, porque comparam a obra a um padrão que o artista nunca considerou ;, afirma Lucas Reginato.
E completa: ;Como aconteceu com o samba, no começo do século passado, a perseguição é inclusive criminal, porque a justiça também é preconceituosa. O artista mais influente do funk nos últimos anos está preso, porque supostamente tinha relação com o tráfico enquanto fazia sucesso como DJ. Os desembargadores do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro não consideraram a hipótese de ele se relacionar com aquelas pessoas porque eram vizinhos e amigos de infância. Nem levaram em conta que um artista de sucesso, com música no Domingão do Faustão, não precisa vender droga pra ganhar dinheiro;.
Projeção
Um ritmo em constante mudança, o que se pode esperar e projetar em relação ao funk 30 após o lançamento? Para o DJ Marlboro, uma ode ao estilo. Desde 2017, ele lança o Funk Brasil Relíquias, projeto em sete volumes, em que celebra o funk do passado e o aproxima das tendências atuais. ;As pessoas têm que enxergar que o funk tem que ser feito com qualidade e responsabilidade para ter longevidade. Nunca fiz música para classe social. Fiz para várias. Assim o funk agrada mais pessoas;, afirma.
A DJ Iasmin Turbininha tem apostado no brega funk e no 170 BPM. ;O funk sempre vai mudar. Estou lançando um projeto brega funk, um ritmo que muitas pessoas estão gostando. Daqui a 10 anos, o funk ainda vai revelar muitos artistas. Pode esperar que o funk, como o samba antigamente, vai conquistar seu espaço. Espero o dia que seja reconhecido como uma cultura;, sonha.