Melissa Duarte*
postado em 04/10/2019 16:06
Poesia e erotismo se encontram na 2; Jornada de Poesia LGBT%2b. O evento reúne escritoras e compositoras lésbicas que vêm reinventando o fazer poético no país. ;É mais do que a importância de falar sobre a poesia LGBT, mas ter espaços para viver e experimentá-la em nossas vidas, porque ela é esse espaço de criação que atravessa a palavra, a imaginação e a possibilidade de recriarmos nossos mundos;, explica a poeta transfeminista Raíssa Éris Grimm. O encontro, intitulado de 2; Jornada de Poesia LGBT ; A correnteza erótica de Cassandra Rios, será neste fim de semana na Casa de Cultura da América Latina (CAL).
A segunda edição da jornada homenageia a poeta Cassandra Rios (1932-2002), pioneira da literatura homoerótica feminina com a publicação de A volúpia do pecado (1948). A primeira brasileira a bater a marca de 1 milhão de exemplares vendidos, em 1970, e viver da própria literatura também foi a mais censurada durante a ditadura militar (1964-1985): 72% das obras dela ; ou 36 de 50 ; foram proibidas à época.
[SAIBAMAIS] Com foco na censura, a ideia das participantes é romper os silêncios impostos ao conteúdo, às autorias e ao público LGBT. A sigla se refere a lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis, transgêneros, queer (gênero não-binário) e intersexuais. Organizado pelo Instituto Cultura Arte Memória LGBT , a expectativa de público da organização é de pelo menos 100 pessoas.
Para a oficina que irá ministrar, Raíssa leva o processo de criação, experimentação e de escrita, que também se encontra no livro dela, Sapa profana (2018). Nele, a autora escreveu sobre temas relacionados ao corpo e ao erotismo. ;É uma questão cada vez mais forte nas minhas poesias: o erótico entendido num sentido amplo que vai além da sexualidade, num processo de conexão e de fruição com o corpo;, comenta a doutora em psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Mas o trabalho vai além da literatura: para Natália Borges Polesso, as funções de escritora, tradutora e pesquisadora em teoria da literatura se misturam. ;Às vezes, fluem tão tranquilamente que nem sei onde se distinguem. Já em outras, criam atritos e contradições;, conta a vencedora do Prêmio Jabuti, que ainda explica que não pode ser a crítica ou a teórica do próprio texto enquanto o redige.
No evento, Natália também irá lançar o livro Controle (Companhia das Letras, 2019), que se passa entre 1990 e 2014. ;(A obra) é sobre estar sozinho, sobre tentar se enquadrar ao que se entende por normalidade, sobre tentar e falhar;, descreve. A personagem principal, Nanda, por exemplo, vive diversos conflitos por causa da epilepsia.
As artistas Diana Salu, Kati Souto, Letícia Fialho, Livia Viganó, Nina Ferreira e Tatiana Nascimento também participam da jornada. ;Elas nos ajudarão a refletir de forma rica sobre como a poesia pode representar, criar e transformar corpos, desejos, imagens, autoimagens e experiências e a força que a poesia e o erotismo têm de irromper opressões, censuras e autocensuras;, define a coordenadora de produção do evento, Bruna Penha, do Instituto LGBT .
;Sei que há poetas que me emocionam, me tocam, me dizem coisas que bagunçam. Tenho apreço por quem calcula palavras tão magicamente. Sem dúvidas, há poetas LGBTQ que fazem isso bem. Não acho que seja necessariamente questão de representatividade. Mas é muito bom saber da existência dessa poesia, de autorias não-heteronormativas e de suas excentricidades;, analisa Natália, fã desse tipo de literatura. ;Espero que seja um encontro bonito;, finaliza.
Programação
Sexta-feira (4/10)
10h: oficina sobre censura e escrita para o público LGBT, com Nina Ferreira
14h: oficina de experimentação sobre corpos de lésbicas, com Raíssa Éris Grimm
17h: oficina sobre publicações e práticas editoriais de lésbicas, com Livia Viganó
19h30: abertura com roda de conversa sobre escrita LGBT contra censura, com Nina Ferreira, Raíssa Éris Grimm e Diana Salu
21h: pocket show, com Letícia Fialho
Sábado (5/10)
10h: oficina sobre poética do silêncio, com Tatiana Nascimento
14h: oficina sobre erotismo e poesia, com Kati Souto
17h: oficina sobre modos de narrar, com Natália Borges Polesso
20h: lançamento do livro Controle, de Natália Borges Polesso, e bate-papo, com Tatiana Nascimento
Serviço
2; Jornada de Poesia LGBT ; A correnteza erótica de Cassandra Rios
Casa de Cultura da América Latina ; CAL (SCS, Q. 4, Bl. A, lt. 170, Ed. Anápolis, salas 301 e 302). Sexta (4/10) e sábado (5/10), das 10h às 22h. Oficinas, música e literatura sobre e para o público LGBT. Entrada franca, com inscrições pelo site. Classificação indicativa livre.
*Estagiária sob supervisão de Roberta Pinheiro