Diversão e Arte

Cantor Castello Branco lança último disco de trilogia

'Sermão' encerra a trinca iniciada em 2013 com o álbum 'Serviço' e seguido por 'Sintoma', de 2017

ROBERTA PINHEIRO
Roberta Pinheiro
postado em 08/10/2019 08:38
Castello Branco:

A arte provocativa do músico Castello Branco é um contraponto ao seu canto pausado, lento e bem articulado. "A minha terra não é plana / Clama pelo papo reto". Em Geral importa, assim como nas outras 10 composições do seu novo disco, Sermão, o músico, uma das apostas da nova música brasileira, traça um desenho em cada canção com letras faladas com precisão e cuidado. Também convida o público para um diálogo direto sobre o mundo que os cerca.

O lançamento encerra a trilogia iniciada pelo artista em 2013, com Serviço, seguida por Sintoma, em 2017. "Precisei de um tempo diferente de um para outro. Primeiro, porque queria ter mais recursos de disco para disco, recursos de som, e isso não tinha como adquirir de uma hora para outra e, segundo, porque a história que os discos contam é a história da nossa vida. É uma história que estava sendo contada e simplesmente narrei uma história, narrei o que pra mim são os momentos que vivemos até agora. São anos importantes para a gente como sociedade e precisei contar sobre isso. Como não vivi nesse meio, consigo ver esse contraste", descreve Branco. Isso porque o cantor foi criado por quatro mães ativistas em um monastério na Serra do Capim (RJ) ; o Ecumênico Núcleo de Serviço Crer-Sendo ;, vivência que está intrinsecamente ligada com as composições e a forma como observa o mundo.

Para cada álbum, o artista escolheu palavras que não só refletissem o contexto social e político da época, mas que fossem provocativas; que tivessem sentidos múltiplos; que fossem usadas no cotidiano, mas não fossem percebidas; que pudessem ser ressignificadas. "Em 2019, percebi que era o momento de encerrar esse ciclo e a palavra para mim que diz sobre o momento bem provocativo é o sermão", explica.

Instigando sobre uma era de opiniões revestidas de certezas impróprias e bradadas com firmeza, Castello Branco abre caminhos para uma reconciliação com o presente, com o hoje. "O objetivo é despertar a consciência, porque eu fui criado em um contexto no qual eu estava o tempo inteiro sendo instigado a despertar a consciência e isso tem a ver com enxergar as coisas. Eu me sinto muito mal quando passa algo despercebido por mim. Isso faz parte do processo de expansão de consciência. E, hoje, a gente não percebe mais as coisas", analisa. Apesar desse desejo expresso em letras e melodias, o artista se reconhece como experimento.

A ideia de experimento, de cobaia do tempo, da sociedade, também acaba se refletindo na forma como Branco construiu o disco. Desde Sintoma, ele começou a introduzir notas voltadas para o pop. No novo álbum, o artista seguiu o mesmo caminho. "Quero encontrar um lugar pop sem dúvida nenhuma. Eu quero ser compreendido. Minha alegria é ver minha mensagem sendo compartilhada e sendo entendida", justifica. De acordo com ele, ao introduzir uma sonoridade mais dançante, consegue expandir o alcance da sua arte. "Gosto de provocar a sua cabeça para que você chegue em outro lugar e isso é difícil de ser levado para o popular, precisa ser mais óbvio. Então, eu preciso pelo menos com o som tentar facilitar, traduzir de uma forma um pouco mais simples. É uma experiência, não é que eu vou fazer isso. O som é transformador e a gente pode brincar muito com ele", afirma.

Em uma época de sermões, opiniões disfarçadas por discursos cheios de verdade, Castelo Branco declama: Te reconheço sem saber quem você é. Depois de discos mais subjetivos e de revelar o poder das crianças, da infância, ele olha direto para o público, em uma sala de aula, em frente a um quadro-negro vazio. "Sinto que esse disco está mais direto que os outros. As letras são mais claras, dizendo coisas mais específicas. Ainda tem subjetividade, mas é bem menos que os outros", define o artista.


Sermão
De Castello Branco. Independente, 11 músicas. Disponível em todas as plataformas digitais.

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