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Em entrevista exclusiva ao Correio, cantora faz um balanço da carreira, relembra sucessos e destaca a importância de se acreditar no país. Ela se apresenta amanhã no Centro de Convenções Ulysses Guimarães

Correio Braziliense
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postado em 17/10/2019 04:18
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Nem no pior dos pesadelos, Adriana Calcanhotto, autora da trilogia fonográfica formada pelos discos Marítimo, Maré e Margem, vislumbraria algo semelhante ao que ocorre hoje no litoral do Nordeste, com o derramamento de petróleo cru pelas praias, provocando danos ambientais e prejuízo ao turismo e à economia da região.

Aos dois primeiros álbuns lançados em 1998 e 2008, respectivamente, se juntou o mais recente, que chegou às lojas em junho último. Margem serviu para a cantora e compositora gaúcha, nascida em Porto Alegre, reafirmar o fascínio pelo mar ; certamente despertado pela vivência no Rio de Janeiro, cidade onde está radicada há três décadas.

Na estrada com a turnê de Margem, nome também do show que foi visto inicialmente em 23 de agosto, em Belo Horizonte, Calcanhotto chega a Brasília, para apresentação, amanhã, às 21h,30, no Auditório Master do Centro de Convenções Ulysses Guimarães, acompanhada pela banda formada por Bem Gil (guitarra), Bruno Di Lullo (baixo) e Rafael Rocha (bateria e percussão).

O espetáculo, que tem cenário de Gigi Barreto e desenho de luz de Ivan Marques e Gabriel Santucci, leva a cantora a surfar num repertório em que, além de canções do novo trabalho, traz músicas do Marítimo e do Maré, de mestres da MPB como Dorival Caymmi, Chico Buarque, e de compositores da linhagem pop, entre eles Cazuza, Renato Barros, Péricles Cavalcanti e Antonio Cicero.



Margem
Show de Adrina Calcanhotto e banda, amanhã, às 21h30, no Auditório Master do Centrode Convenções Ulysses Guimarães (Eixo Monumental). Ingressos: R$ 60 (plateia superior), R$ 90 (plateia especial), R$ 110 (plateia vip), R$ 120 (plateia gold) e R$ 150 (plateia premium) ; valores referentes à meia-entrada. Observação: Desconto de 50% sobre o valor de inteira para assinantes do Correio. Ponto de venda: G2 do Brasília Shopping. Não recomendado para menores de 16 anos.




Entrevista /Adriana Calcanhotto


Perto de comemorar 30 anos de carreira, que avaliação faz de sua jornada na música popular?
Eu não sei ver minha trajetória dentro da música brasileira, eu sei ver a minha trajetória dentro do que consegui conquistar, coisas que queria fazer. O maior exemplo talvez seja (a canção) Vambora, os livros (que lançou), levar Manuel Bandeira e Ferreira Goulart para a rádio popular, esse tipo de objetivo que eu sempre tive, e consegui isso é muito importante, dá muito gás para fazer outros projetos.


Qual é a importância para seu processo criativo ter várias canções de sucesso em sua obra?
Tendo esses sucessos que animam a fazer mais sucessos, sendo que a gente nunca sabe quando faz uma canção, se ela, de fato, vai ser um sucesso ou não. Alguns dos meus principais sucessos não tiveram clipe, não foram músicas de trabalho, foram eleições espontâneas do público, e isso eu acho muito interessante. O que acontece de ter alguns sucessos no processo criativo, na verdade, tem as canções que eu preciso atender, que são as canções do show, que as pessoas que vão ao show querem ouvir e essas estão se tornando bem mais da metade do show.


O que a levou a incursionar no universo infantil ao lançar a série Partimpim?
As motivações para o Partimpim foram muitas, foi um processo. Os motivos foram aparecendo da minha observação sobre o que venha ou vinha a ser música infantil e aí alguns eventos foram acontecendo, essa lista de motivos foi crescendo e chegou um momento que eu achei que tinha que agir e fazer mesmo uma discografia. O meu desejo não era fazer um disco só, era realmente fazer uma discografia, o que eu não esperava era ir para o palco com a Partimpim, que foi uma coisa que eu hesitei muito, mas que se revelou uma das experiências mais interessantes da minha trajetória que é cantar ao vivo para as crianças.


Que representatividade tem a trilogia Marinha com os discos Marítimo, Maré e Margem para o seu trabalho de compositora e intérprete?
Eu acho que mexe com os dois universos, de compositora e de intérprete, os três discos têm isso, canções minhas e canções de outros autores que eu coloco naquele quebra-cabeça do roteiro e essa também é a forma com que eu faço os shows.


O show Margem tem por base essa trilogia ou vai além?
O show tem por base o próprio disco Margem. Primeiro de tudo é uma turnê lançando o álbum. E as outras canções do Maré e do Marítimo entram nesse roteiro para que a trilogia possa estar junta, pela primeira vez, para que as canções possam conversar num show.


A experiência como professora do curso de letras na Universidade de Coimbra lhe trouxe que tipo de ganho?
Eu nem sei mensurar o nível de ganho, a quantidade de ganho. Isso me ajuda no trabalho de composição, porque estou dando um curso de composição, eu tenho que estudar muito. Mesmo a coisa do cronograma acadêmico era algo que eu não vivia desde os tempos de escola, e que tem sua razão de ser, pois ajuda a ter foco para ler, para estudar. Em Coimbra eu levo uma vida acadêmica e isso tem se revelado muito produtivo e inspirador para mim. Então os ganhos são infinitos, fora ser colega do professor Frederico Lourenço (escritor e tradutor português), cruzar com ele no corredor, fazer uma pergunta, aborrecê-lo, mas receber uma resposta incrível. Enfim, não tive nem coragem de sonhar em dar aulas em Coimbra, então o nível de ganho é máximo.


Como está lidando com tanta intolerância e preconceito em relação à questões de gênero, cultura, religião e posicionamento político, tão em voga no país ultimamente?
Acho que a gente está vivendo um retrocesso, mas que ele faz parte. É uma resposta de coisas que foram conquistadas. É uma reação da classe média. Eu vejo com esperança, com otimismo, vejo isso como um ciclo. É um retrocesso, mas o caminho é sempre para frente.


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